02/07/2025
Ao longo de sua trajetória, Sigmund Freud, pai da psicanálise, desenvolveu duas teorias onde ambas se complementam, e organizam o aparelho psíquico em instâncias, cada uma com suas características e funções específicas.
Juntas, se complementam para dar sentido nas questões psíquicas, explicar sobre mecanismos de defesa e formação de sintomas.
Primeira tópica ou conhecida por Topográfica:
Este modelo busca explicar a mente humana em regiões ou sistemas.
Formulada por Sigmund Freud em 1900, na Interpretação dos Sonhos, divide mente em três instâncias:
Inconsciente ( Ics) - instância mais escondida, mais primitiva da mente, onde estão contidos desejos reprimidos, pulsões e conteúdos que foram retirados da consciência por serem considerados inaceitáveis ou impuros, dentro de um contexto social, cultural.
Mas esses conteúdos indesejados, sempre tentam voltar à memória de alguma forma, pois devemos lembrar que a primeira tentativa do psiquismo humano, é realizar seus desejos mais primitivos, como fonte de prazer e satisfação.
Portanto, esses conteúdos, não permanecem passivos ou seja, a todo momento, eles tentam retornar à consciência, seja através de sonhos, atos falhos, lapsos ou sintomas.
Uma breve passagem sobre sonhos, visto que é a primeira e uma das mais comentadas obras de Sigmund Freud, aparece de forma descontextualizada, sem ordem cronológica e contém muitos símbolos.
Pré-consciente ( Pcs) - atua como mediador entre o inconsciente e o consciente.
Seus conteúdos podem ser acessados com algum esforço, visto que eles não estão de forma a ser acessados imediatamente,como memórias e conteúdos latentes.
Consciente ( Cs), regido pelo princípio da realidade, é conjunto de informações que são acessíveis e rege o sujeito em sua vida, pelas exigências do mundo externo, sendo responsável pelo julgamento racional e percepção sensorial.
Embora essa teoria seja importante, ela mostrou-se segundo Freud, de forma a apresentar algumas lacunas na explicação da mente humana, e logo, Freud elaborou a segunda tópica, de forma mais complexa, a explicar com isso, o que conhecemos hoje como a Psicanálise segundo Sigmund Freud.
Segunda tópica ou conhecida como Estrutural:
A partir de 1923, na obra O Ego e o Id, Freud reformula sua teoria anterior, e a define como estrutural, onde as instâncias são estruturas do aparelho psíquico e se dividem em:
Id: (isso) Estrutura atemporal. Amórfico, o que mais arcaico na estrutura da mente.
Instância pulsional, regida totalmente pelo princípio do prazer, considerado reservatório das pulsões e desejos primitivos.
Buscam gratificação imediata, sem considerar nenhum tipo de castração.
Ego: (eu) surge a partir do Id , como instância mediadora entre as exigências pulsionais e a instância castradora.
Regido pelo princípio da realidade, buscando formas de satisfazer o Id mas de forma socialmente aceita.
O Ego é parcialmente consciente, mas estende-se também ao pré-consciente e ao inconsciente.
Suas importantes ações são: juízo, memória, pensamento lógico, percepção e mecanismo de defesa.
Superego : (supereu) é a instância que representa a interiorização das regras, normas e valores parentais e sociais.
Se forma no complexo de Édipo, quando a criança internaliza de forma saudável a autoridade dos pais. Atua como consciência moral, podendo se manifestar como modelo de perfeição ou ideal do ego, ou ainda como castrador, censor, crítico severo. Segundo Freud, ele é causador de culpa e angústia.
Mas vamos tentar entender essa dinâmica de interação entre as instâncias e como elas agem:
Essa relação é marcada por conflitos e tensões.
O Ego, tenta satisfazer o Id, sem desrespeitar as regras do superego, ou seja, o Ego está a todo momento tentando realizar desejos do Id, mas sob cuidado das regras do superego, que está sempre impondo suas questões éticas.
O problema surge quando o Ego não consegue alimentar o Id, e surgem os primeiros conflitos.
Isso pode gerar o que conhecemos como angústias e desencadear mecanismos de defesa como a repressão, recalque, projeção, sintomas histéricos, entre outros.
Assim, por exemplo, surgem sintomas neuróticos, que é compromisso entre o desejo recalcado e a censura do superego, mediado pelo ego.
Essa compreensão é a base da clínica psicanalítica, pois revela que os sintomas não são simples disfunções, mas formações do inconsciente que expressam um conflito psíquico não resolvido.
Com isso podemos afirmar que as duas tópicas se complementam e são essenciais para compreender a mente humana sob a perspectiva analítica.
A primeira tópica nos introduz ao conceito de insconsciente e ao que é ou não acessível à consciência.
Na segunda tópica, vai mais a fundo, introduz funções e os conflitos internos entre as instâncias psíquicas.
Ambos modelos revelam a complexidade do aparelho psíquico e destacam a centralidade do inconsciente como fator principal para impulsionar afetos, repetições de padrões, sintomas e desejos.
A proposta da psicanálise junto com essa vasta complexidade da mente humana, propõe não acabar com os conflitos mas, a elaborar os mesmos, permitindo que o sujeito compreenda a lógica do seu sofrimento psíquico, e possa canalizar esses desejos de forma que possa a viver com mais equilíbrio e harmonia mental.
Daniela Pavanelli
Revisão bibliográfica.