
11/11/2024
Foi uma grata e desafiadora oportunidade falar sobre o impacto da infância e suas vicissitudes para o uso, abuso e dependência de SPA para uma plateia de mais de 700 profissionais.
Grata, pois foi uma honra compor um time de referências no campo dos Transtornos de Aprendizagem. Desafiadora, porque falar sobre desenvolvimento psicoafetivo, vincular e simbólico para um corpo estudioso de um tema norteado, fundamentalmente, por pesquisas, teorias e práticas neurobiológicas e comportamentais, me remetia diretamente a berlinda. (rs)
A expectativa: abrir uma brecha, que fosse, na forma como olhamos para criança e seus impasses com o saber de maneira que possamos atuar como agentes e promotores da saúde - e não "diagnosticadores de doenças". Pois, para além do nosso aparato cognitivo e neurobiológico, somos seres imersos em um universo afetivo e simbólico que nos inscreve muito além da nossa racionalidade.
(Na verdade, somos seres limitadamente racionais; nossas emoções são muito mais poderosas e antigas em termos do desenvolvimento da espécie, e do individuo, em particular, do que nossa racionalidade.)
É necessário escutar e ler a singularidade da criança diante seu processo de escolarização. Ter um olhar crítico e evitar o excesso de diagnósticos apressados que escamoteam questões psicoafetivas próprias do desenvolvimento infantil e que, não raro, repercutem no seu processo de aprendizagem. Concomitantemente, é preciso estar atento ao subdiagnóstico, que deixa passar dificuldades que prejudicam o bom desenvolvimento e socialização.
Ambos cenários são terrenos propícios para o uso, abuso e dependência de SPA em fases posteriores a fim de debelar desconfortos emocionais, cognitivos e sociais deles decorrentes.
O alívio do desconforto pela via do químico e o ajustamento da criança ao processo pedagógico não garante o tratamento de questões específicas de cunho psicoafetiva e relacional que muitas vezes sobredeterminam os distúrbios de aprendizagem.
Tal conduta só faz reforçar o fenômeno da drogadição na busca frenética por substâncias, lícitas ou não, para aliviar desconfortos emocionais, aumentar o desempenho, acadêmico inclusive, e o ajustamento social.