Vida Pulsional Psicologia

Vida Pulsional Psicologia Vanessa Sola

Psicóloga Clinica com especialização na abordagem psicanalítica

Especialização

Foi uma grata e desafiadora oportunidade falar sobre o impacto da infância e suas vicissitudes para o uso, abuso e depen...
11/11/2024

Foi uma grata e desafiadora oportunidade falar sobre o impacto da infância e suas vicissitudes para o uso, abuso e dependência de SPA para uma plateia de mais de 700 profissionais.

Grata, pois foi uma honra compor um time de referências no campo dos Transtornos de Aprendizagem. Desafiadora, porque falar sobre desenvolvimento psicoafetivo, vincular e simbólico para um corpo estudioso de um tema norteado, fundamentalmente, por pesquisas, teorias e práticas neurobiológicas e comportamentais, me remetia diretamente a berlinda. (rs)

A expectativa: abrir uma brecha, que fosse, na forma como olhamos para criança e seus impasses com o saber de maneira que possamos atuar como agentes e promotores da saúde - e não "diagnosticadores de doenças". Pois, para além do nosso aparato cognitivo e neurobiológico, somos seres imersos em um universo afetivo e simbólico que nos inscreve muito além da nossa racionalidade.

(Na verdade, somos seres limitadamente racionais; nossas emoções são muito mais poderosas e antigas em termos do desenvolvimento da espécie, e do individuo, em particular, do que nossa racionalidade.)

É necessário escutar e ler a singularidade da criança diante seu processo de escolarização. Ter um olhar crítico e evitar o excesso de diagnósticos apressados que escamoteam questões psicoafetivas próprias do desenvolvimento infantil e que, não raro, repercutem no seu processo de aprendizagem. Concomitantemente, é preciso estar atento ao subdiagnóstico, que deixa passar dificuldades que prejudicam o bom desenvolvimento e socialização.

Ambos cenários são terrenos propícios para o uso, abuso e dependência de SPA em fases posteriores a fim de debelar desconfortos emocionais, cognitivos e sociais deles decorrentes.

O alívio do desconforto pela via do químico e o ajustamento da criança ao processo pedagógico não garante o tratamento de questões específicas de cunho psicoafetiva e relacional que muitas vezes sobredeterminam os distúrbios de aprendizagem.

Tal conduta só faz reforçar o fenômeno da drogadição na busca frenética por substâncias, lícitas ou não, para aliviar desconfortos emocionais, aumentar o desempenho, acadêmico inclusive, e o ajustamento social.

Como cuidar da saúde mental individual quando a saúde coletiva se encontra a beira de um colapso?É possível cuidar do in...
13/09/2024

Como cuidar da saúde mental individual quando a saúde coletiva se encontra a beira de um colapso?

É possível cuidar do indivíduo, promover seu bem estar, prevenir seu adoecimento, estando ele (todos nós!) imersos em um sistema socioeconômico predatório, per.ver.so, adoecido e adoecedor?

Não há indivíduo apartado da sociedade.

Formamos com o meio ambiente um grande ecossistema.

A Terra, mãe generoso e nutridora, é o grande palco da vida.

E, pensando com André Green, sabemos muito bem os impactos que uma mãe mor.ta acarreta para a vida psíquica dos seus filhos.


(Reflexões a partir de Winnicott no carrossel)

Freud, um amante e colecionador das artes, conseguiu fazer uma transformação bem-sucedida de sua tendência adictiva por ...
16/07/2024

Freud, um amante e colecionador das artes, conseguiu fazer uma transformação bem-sucedida de sua tendência adictiva por antiguidades. (Ainda que tenha se mantido um fumante inveterado e adicto aos charutos)

Há uma delicada fronteira que separa a paixão adictiva, aquela que aprisiona e degrada, da experiência simbolizadora de um colecionador de antiguidades, como foi Freud.

Também nós, analistas, poderiamos ser descritos como colecionadores; colecionadores de historias. E carecemos do cuidado para não transformar nossa dedicação a vida psíquica alheia num vício, o que levaria à degradação do nosso ofício.

(Daí a importância ética no trabalho do psicanalista)

Assim como na passagem freudiana, o trabalho ético do analista segue a mesma assertiva: precisamos olhar cada paciente como quem aprecia uma obra de arte, ouvir as marcar impressas no seu processo de construção, tentar apreendê-los à nossa maneira, que implica, entre outras coisas, observamos  os efeitos que eles causam sobre nós.

Na posição de espectadores do humano diante de nós, teremos que confessar a nós mesmos nossos limites e tbm nossas afinidades estéticas, isto é, compreendermos que nem todo paciente será para nós (limites) e que nós não seremos para todos os pacientes (preferências). Temos nossas limitações e afinidades, seja do ponto de vista técnico ou relacional.

E somente norteados por esses princípios éticos que poderemos oferecer melhor escuta e tbm obter algum prazer da/na nossa atividade.

Quantos processos não andam não por causa das resistências do analisante, mas devido às resistências do analista em levar em conta suas próprias limitações ou afinidades.

(Sim, nossas afinidades tbm impactam na nossa escuta analítica e podem ser fonte de limitações)

Por isso nos é facultada a possibilidade de escolha com qual paciente e com quais demandas queremos ou não trabalhar. E esse posicionamento na clínica é, ademais, uma responsabilidade ética com aqueles que nos escolhem para se analisar.

O instagram trabalha com o tempo dos algoritimos, mas a psicanálise trabalha com o tempo do inconsciente. O instagram tr...
21/05/2024

O instagram trabalha com o tempo dos algoritimos, mas a psicanálise trabalha com o tempo do inconsciente.

O instagram trabalha com textos curtos e imagens fugazes, mas a psicanálise trabalha com a análise do discurso.

O instagram trabalha com a lógica das respostas (prontas, de preferência), mas a psicanálise trabalha com a falta delas.

O instagram trabalha com conteúdos de rápido consumo, mas a psicanálise trabalha com o tempo da elaboração.

É preciso tempo de elaboração para que algo se produza...

O ritmo dos algoritimos nos engole e nos dessubjetiva, pois essa perversão do tempo que ele nos impõe nega o elemento subjetivo por detrás do processo criativo e de trabalho, promove a subordinação do sujeito ao elemento objetivo dessa ferramenta.

E não é essa, exatamente, uma das dimensões da adicção?!

Negar o subjetivo, perverter os processos de elaboração e simbolização das experiências psicoemocionais, oferecer em seu lugar uma resposta rápida para o que nos traz desconforto e angustia são dimensões próprias da lógica adictiva.

Sim, o instagram opera a partir de uma lógica adictiva que nos sequestra, sejamos nós produtores ou apenas consumidores de conteúdo.

Mas por aqui, entre o instagram e a psicanalista, há um sujeito e seus processos de elaboração; vou me permitindo navegar nesta rede dentro do meu ritímo possível.

(Pois não basta denunciar e elucidar as macroestruturas que fomentam nossos processos de adoecimento, é preciso tbm estar atenta para não ceder a essa lógica adoecedora).

Por muito tempo a palavra adicção teve como principal referencia o uso desubstancias psicoativas (álcool e dr**as); adic...
01/03/2024

Por muito tempo a palavra adicção teve como principal referencia o uso de
substancias psicoativas (álcool e dr**as); adicção era empregada como
sinônimo de toxicomania. Hoje, entretanto, devemos reconhecer que há uso
adictivo de uma diversidade muito grande de objetos: jogos, comida, s**o,
telas e tantos outros - todos cumprindo um papel na economia psíquica do
sujeito.

A presença (e a oferta) de novos objetos na atualidade nos permite
compreender o caráter multifacetado das adicções (no plural), uma vez que se
constata que, diferentemente de como se acreditava até então, não é a
substancia psicoativa que faz de uma pessoa um adicto, mas sim modos de
funcionamento psíquico específicos que faz um sujeito estabelecer com um
objeto (qualquer) uma relação adictiva.

A psicanálise das adicções promove essa mudança na ênfase dada, até então,
aos fenômenos adictivos: um deslocamento do foco no objeto usado para o uso
que se faz do objeto. Ou seja, mais importante do que nos concentrarmos no
objeto em uso devemos olhar para o uso que está sendo feito do objeto. 

Ainda que hajam especificidades de acordo com o objeto da adicção - se o uso é de álcool, dr**as, comida, s**o, telas, jogos irá incorrer em desafios terapêuticos específicos - , estamos diante de dinâmicas e de um funcionamento psíquico comum a todas elas.

O que há, então, de novo e atual sobre o tema?

Atual é a noção de que a dinâmica adictiva precede o encontro com o objeto;
ela já está lá antes mesmo da experiencia objetiva com o objeto da adicção
(seja ele qual for).

Ou seja, atual é a compreensão de que não é o objeto que faz de alguém um adicto, mas
sim sua psicodinâmica individual (na qual estão incluídos seus conflitos e
fatores constitucionais)

Novo, é o interesse mais aprofundado em compreender os fenômenos adictivos,
antes cercados de preconceitos, desprezados e relegados ao "submundo" da
medicina e das ciências socias e humanas.

É comum ouvirmos a frase que diz: "todoexcesso esconde uma falta" e que nos casos adictivos o sujeito estaria buscando p...
25/01/2024

É comum ouvirmos a frase que diz: "todo
excesso esconde uma falta" e que nos casos adictivos o sujeito estaria buscando preencher uma falta.

Mas será que podemos generalizar essa assertiva e afirmar que todo consumo excessivo de um objeto (dro.gas licitas ou ilí.ci.tas, comida, compras, jogos, etc) sempre atende a uma necessidade de escamotear um vazio, uma falta?

Se em psicanálise compreendemos a constituição do sujeito em associação à cultura e compreendemos as adic.ções priorizando os circuitos psicoafetivos relacionados a elas temos, então, que estar abertos para inúmeras possibilidades explicativas de tais condições, não sendo possível situá-las apenas no polo de uma "patologia do vazio".

A clínica psicanalítica da atualidade revela que, ainda que determinadas afecções psíquicas de outrora permaneçam presentes (depressão, neurose obsessiva, histeria, toxi.coma.nia), hoje em dia elas apresentam particularidades por se constituírem uma resposta do sujeito para questões distintas das observadas no início do século XX. Se lá atrás eram proeminentes as questões relativas às proibições e interdições - e suas repercussões na constituição do psiquismo - hoje os estudos registram tempos marcados pelo imperativo dos excessos, não das proibições. Somos estimulados e exigidos, excessivamente, por todos os lados!

A própria lógica desta rede social é marca registrada desse modelo cultural atual: excesso de informação, imagens fugazes, "exigência" de produção constante de conteúdo para atender a lógica do algoritimo, textos curtos e palatáveis para consumo rápido e baixa exigência cognitiva e reflexiva... e quantos não acabam escravos (adictos) desta ferramenta, seja como consumidores ou produtores de conteúdo?!

Vemos assim, que se em 1908 a Moral Se.x.ual Civilizada contribuía para a Doença Nervosa Moderna (Freud), não seriam as adicções uma resposta sintomática do sujeito hipermoderno frente aos imperativos de gozo e excessos aos quais hoje somos impelidos?

(Faça isso! Seja aquilo! Você pode ter/ser tudo que quiser! Consuma! Consuma! Consuma! Divirta-se! Goze da vida!)

Ao que tudo indica, o excesso é sintoma dos nossos tempos.

Quando falamos nos fenômenos adictivos a principal imagem que surge em nossa mente é a do usuário de substâncias química...
19/01/2024

Quando falamos nos fenômenos adictivos a principal imagem que surge em nossa mente é a do usuário de substâncias químicas. Diante dessa imagem uma das principais questões levantadas por profissionais diz respeito à dificuldade em compreender as dinâmicas envolvidas nessas formas de adoecimento e a insegurança em trabalhar com esses casos na clínica.

No entanto, "adicção" não se restringe ao abuso de substâncias e é possível que dinâmicas adictivas surjam ou estejam presentes nas questões trazidas por pacientes que já se encontram sob acompanhamento do profissional.

Fato é que as adicções (no plural) se tornaram uma demanda crescente em nossos consultórios - em parte como reflexo da nossa atual realidade e configuração sociocultural - o que tornou o estudo dessas formações sintomáticas uma necessidade para clínicos de diferentes abordagens e seguimentos da saúde.

Mas o preconceito dos profissionais associado à falta do estudo destas condições clinicas impactam diretamente na recusa ou insegurança em acolher essas formas de sofrimento e também na dificuldade para identificá-las quando se fazem presentes. 

Quando nos debruçamos sobre o estudo da teoria desmistificamos preconceitos e criamos repertório e os instrumentos necessários para nossa atuação e aprimoramento do nosso raciocínio clinico.

E essa é a proposta do grupo de estudo "Psicanálise das Adicções", trabalhar com os principais modelos teóricos psicanalíticos a fim de ampliar o repertório clinico e pensarmos essas afecções para além das preconcepções e
dos diagnósticos convencionais, levando em conta a singularidade do sujeito. E de bonus aprofundar seu conhecimento em
psicanálise a partir do estudo das adicções.

Como diria Gurfinkel: "a compreensão das adicções se beneficiou sobremaneira
da ampliação do modelo teórico psicanalítico e, por outro lado, a clinica das adicções contribuiu para a ampliação desse modelo".  

Se o assunto te interessa e você deseja ampliar sua escuta e compreensão sobre as problemáticas adictivas, te convido a participar do meu grupo de
estudos.

As inscrições já estão abertas!

E as vagas são limitadas!!

Formulário para a inscrição disponível no lik na bio.

INSCRIÇÕES ABERTAS!! Estão abertas as inscrições para a 3ª Turma do Grupo de Estudos "Psicanálise das Adicções". A psica...
16/01/2024

INSCRIÇÕES ABERTAS!!

Estão abertas as inscrições para a 3ª Turma do Grupo de Estudos "Psicanálise das Adicções".

A psicanálise é uma abordagem que nos oferece uma compreensão sobre as complexidades individuais das problemáticas adictivas indo além dos diagnósticos convencionais.

Estudar a teoria, portanto, nos ajuda criar os instrumentos necessários para nossa atuação, pois é ela, a teoria, que embasa nossa pratica clínica.

Nossos encontros serão ao vivo, mas as gravações ficarão disponíveis para os inscritos.

As vagas são limitadas para mantermos a qualidade das nossas interações.

Garanta já a sua vaga através do link disponível na bio.

Será uma satisfação ter você comigo nessa jornada de estudos. 📚🎓

Será que falamos da mesma coisa quando empregamos os termos "adic.ção" e"dep3ndênc1a química"? O fato é que há uma diver...
12/01/2024

Será que falamos da mesma coisa quando empregamos os termos "adic.ção" e
"dep3ndênc1a química"?

O fato é que há uma diversidade de termos para descrever o fenômeno que
envolve o consumo de substâncias psicoativas (SPA), e levar em consideração
a origem de cada terminologia nos ajuda a compreender a forma como o
fenômeno é concebido e suas implicações na maneira como serão conduzidas as
intervenções sobre ele.

Quando falamos "dep3ndênc1a química" estamos nos referindo ao transtorno
mental e comportamental que decorrem da interação entre um organismo vivo e
uma substância que pode modificar uma ou mais das suas funções. O termo comporta ainda uma concepção do usuário como portador de uma doença crônica, sendo a droga a causadora da doença (devido a suas propriedades psicofarmacológicas). Esta compreensão do fenômeno, que entende a  dr0ga como um agente nocivo e causador
do problema, leva a uma desimplicação do sujeito com o seu ato, deixa de fora fatores sociais e culturais mais amplos que atuam sobre a problemática e leva à intervenções que tem a abstinência como o principal objeto do tratamento.

"Adic.ção" é uma palavra que teve origem na Republica Romana para designar
"submissão a um dono", ou seja, uma relação de escravidão. Este termo adota
a perspectiva de uma relação entre o sujeito e um objeto de consumo do qual se torna um escravo (adi.cto).

Essa terminologia ao ser empregada não exclui as características psicoativas
das substâncias, mas compreende o consumo a partir dos aspectos intrapsíquicos e psicoafetivos nele implicados e também sua relação com o contexto sociocultural. Mais do que uma doença causada pelas propriedades químicas da substância, "adic.ção" expressa uma compreensão do fenômeno a partir da perspectiva subjetiva e relacional do sujeito com os objetos - e é nesta perspectiva que
se pode ser adicto a qualquer coisa e não só SPA - e por isso a ênfase das intervenções não recaem na prerrogativa da abstinência.

E por aí, qual termo adotado e mais utilizado?

Atualmente, um olhar psicanalítico para as adicções se mostra urgente enecessário, principalmente quando levamos em cont...
08/01/2024

Atualmente, um olhar psicanalítico para as adicções se mostra urgente e
necessário, principalmente quando levamos em conta o cenário biologicista e
cognitivista que tem dominado as explicações sobre esta clínica.

Pensando nisso, o grupo de estudos Psicanálise das Adicções foi montado com
o objetivo de promover um espaço de reflexão e articulação da clínica das
adicções com os operadores psicanalíticos em suas diferentes escolas e
modelos teóricos. A proposta é unir teoria e pratica a partir da discussão
de conceitos fundamentais da teoria psicanalítica desenvolvendo um olhar que
privilegia a singularidade do sujeito a partir da compreensão dos vários
elementos que compõe sua constituição e na qual a adicção ocupa lugar de
efeito e não de causa do adoecimento.

O grupo é destinado para psicanalistas, psicólogos, profissionais e
estudantes da área da saúde que se interessam pelas problemáticas adictivas
e desejam desenvolver e/ou aprofundar sua compreensão e raciocínio clinico
sobre esta clinica a partir da perspectiva psicanalítica.

E para que tenhamos um espaço que garanta a qualidade das nossas interações,
o grupo conta com vagas limitadas.

As inscrições para a 3º turma abrem dia 15 de janeiro.

Espero ter vocês comigo nesta próxima jornada de estudos!!

(para receber informações em primeira mão, o formulário de interesse está
disponível no link na bio)

Fernando Pessoa, grande expoente da literatura moderna e da poesia portuguesa, teve sua vida dividida entre a poesia, o ...
06/01/2024

Fernando Pessoa, grande expoente da literatura moderna e da poesia portuguesa, teve sua vida dividida entre a poesia, o álcool e os barbitúricos. Dentre os seus heterônimos, Álvaro de Campos, expressava sua faceta mais emocional, intensa e instável de todos. Morreu de cirrose aos quarenta e sete anos.

Ainda que nestas passagens do "Opiário" seja possível identificarmos critérios para o diagnóstico de uma d3p3ndênc1a quí.mica - se este fosse o propósito de uma psicanálise - nele encontramos antes, e claramente, aquilo que Freud assinalou em 1930 acerca da função do uso de dr**as na economia psíquica. F**a evidente o sentido lenitivo e aditivo da intoxicação do escritor. Seu consumo aparece como um modo de enfrentar o tédio e lidar com as angústias e o mal-estar constitucional da sua (nossa) condição humana.

Observamos ainda uma das ideias centrais trazidas pela psicanálise acerca da clínica das adic.ções: de que o uso de substâncias é efeito e não causa do adoecimento. Nas palavras do escritor "é antes do ópio que sua alma é doente", referindo uma condição pré-mórbida ao uso das substâncias. Ou seja, a adic.ção como um sintoma foi uma "gambiarra psíquica", uma tentativa de cura.

Embora esse arranjo psíquico malogrado incremente a condição mórbida para a qual foi produzido com intenção de curá-la, e acabe configurando por si mesmo uma nova morbidade, cabe ao analista oferecer um espaço no qual seja possível ao paciente construir uma narrativa acerca do sentido singular que o uso adquire na sua história de vida, indo para além da busca de sinais e sintomas diagnósticos.

A tentativa por parte do analista de desconstruir a narrativa do sujeito sobre importância que o uso da subastancia tem para si além de não ajudar no processo psicodiagnóstico, afasta a pessoa da possibilidade da análise e da compreensão da formação do seu sintoma. Ao analista cabe assumir uma escuta reflexiva e analítica na qual se prioriza os circuitos afetivos relacionados ao uso em detrimento dos circuitos neuroquímicos, para que seja possível intervenções que aumentem a extensão simbólica entre o sujeito e o seu ato.

Ou alguém dúvida do papel desempenhado pelas dr0ga$ nos processos criativos de Fernando Pessoa?

Fernando Pessoa, grande expoente da literatura moderna e da poesia portuguesa, teve sua vida dividida entre a poesia, o ...
05/01/2024

Fernando Pessoa, grande expoente da literatura moderna e da poesia portuguesa, teve sua vida dividida entre a poesia, o álcool e os barbitúricos. Dentre os seus heterônimos, Álvaro de Campos, expressava sua faceta mais emocional, intensa e instável de todos. Morreu de cirrose aos quarenta e sete anos.

Ainda que nestas passagens do "Opiário" seja possível identificarmos critérios para o diagnóstico de uma d3p3ndênc1a quí.mica - se este fosse o propósito de uma psicanálise - nele encontramos antes, e claramente, aquilo que Freud assinalou em 1930 acerca da função do uso de dr**as na economia psíquica. F**a evidente o sentido lenitivo e aditivo da intoxicação do escritor. Seu consumo aparece como um modo de enfrentar o tédio e lidar com as angústias e o mal-estar constitucional da sua (nossa) condição humana.

Observamos ainda uma das ideias centrais trazidas pela psicanálise acerca da clínica das adic.ções: de que o uso de substâncias é efeito e não causa do adoecimento. Nas palavras do escritor "é apenas do ópio que sua alma é doente", referindo uma condição pré-mórbida ao uso das substâncias. Ou seja, a adic.ção como um sintoma é uma "gambiarra psíquica", uma tentativa de cura.

Embora esse arranjo psíquico malogrado incremente a condição mórbida para a qual foi produzido com intenção de curá-la, e acabe configurando por si mesmo uma nova morbidade, cabe ao analista oferecer um espaço no qual seja possível ao paciente construir uma narrativa acerca do sentido singular que o uso adquire na sua história de vida, indo para além da busca de sinais e sintomas diagnósticos.

O analista que tenta desconstruir a narrativa do sujeito sobre importância que o uso tem para si, além de não ajudar no processo psicodiagnóstico, afasta a pessoa da possibilidade da análise e da compreensão da formação do seu sintoma. Ao analista cabe assumir uma escuta reflexiva e analítica na qual se prioriza os circuitos afetivos relacionados ao uso em detrimento dos circuitos neuroquímicos, para que seja possível intervenções que aumentem a extensão simbólica entre o sujeito e o seu ato.

Ou alguém dúvida do papel desempenhado pelas dr0ga$ nos processos criativos de Fernando Pessoa?

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