26/04/2021
O processo terapêutico pressupõe um analisador e um analisado, atuando em uma espécie de simbiose psíquica. Considerando que o trabalho demandado e principal de uma terapia é do próprio sujeito analisado, que guarda uma dupla ação de autorresponsabilidade e autoesforço, cabe ao terapeuta-analisador um papel secundário, tal qual ocorre em uma trilha em que a pessoa que a percorre se beneficia do conhecimento e experiência de um guia para que o caminho seja seguro, objetivo e eficaz. Há uma meta a ser alcançada. O terapeuta-guia conhece a meta e a trilha por experiência e exploração própria, adquiridas pelo autoesforço, ou seja, muito mais pelo empenho em ter buscado o conhecimento prático da trilha, do que por tê-lo conquistado pela teoria. O amálgama de um processo terapêutico se daria entre dois sujeitos, portanto, pela convergência de ações psíquicas - ambos buscam-, mais do que pela relação distanciada que poderia se estabelecer entre aquele que sabe e aquele que busca. O terapeuta não se caracteriza unicamente por aquele que sabe, mas, principalmente, por ser aquele que igualmente busca. A riqueza de um processo terapêutico se daria, em essência, pela química entre estes dois buscadores. Neste sentido, a qualidade do terapeuta-guia poderia ser considerada justamente por ele não ser aquele que já teria se despojado de todas as suas imperfeições ou sombras, como poderia se pressupor, - o que lhe daria, talvez, um status inadvertido de mestre ou guru, distante do paciente -, mas por se caracterizar por aquele que compartilha as experiências da exploração das peculiaridades da trilha. É nesta simbiose de proximidade com o paciente-analisado que encontramos a numinosidade da terapia.