
29/11/2022
Não há como existir um guia de conquista, de manutenção de relacionamentos, de sucesso amoroso.
Todo guia vai servir apenas para fazer você acreditar que há uma receita e que basta segui-la para resolver os seus problemas - e, claro, para se sentir inadequado por não estar seguindo o guia antes ou ainda mais inadequado caso siga o guia e não alcance o objetivo.
Você não sabe o que te faz se sentir atraído por alguém. Você não sabe o que te faz amar alguém. Pode enumerar três ou quatro características que você considere inegociáveis no amor e pode lembrar de amores que sentiu e não correspondiam a esse paradigma racional.
A gente ama com nossa memória implícita, aquela da ordem do que não é acessível a nossa memória consciente, as sensações conhecidas, independente de qualquer avaliação qualitativa. Mudar nossos padrões de escolhas amorosas exige um caminhar de autoconhecimento emocional, de ressignif**ação de sensações, de sentir, não de pensar.
Além disso, manuais também endossam a despersonalização. O amor condicional - se é digno de ser amado caso se cumpra alguns requisitos.
No processo de psicoterapia, visitamos nossas crenças sobre nós mesmos, sobre nosso valor, competência e amabilidade. Visitamos as histórias que construíram essas crenças. Fomos amados? Valorizados? Admirados? Ou nossa história é de sermos criticados, convocados a nos adequar? Suprimos as expectativas?
O manual parece bobo para quem, nas relações iniciais, construíu um bom senso de valor e a certeza de ser amável e amado. E é um prato cheio para as inquietações de quem tem perfil inseguro e está sempre acreditando que o merecimento de amor está associado a algo que se faz e não a algo que se é.
O guia, em resumo, despersonaliza e massif**a.
Por fim, mas não menos importante, um recorte de gênero: qual o gênero que culturalmente é ensinado a fazer coisas e se enquadrar em padrões para ser escolhido amorosamente? Qual gênero costuma sentir que o sucesso e a felicidade estão atrelados a estar em um relacionamento amoroso? Que gênero, tal qual a escreve, está na prateleira do amor e ávido por seus manuais?
(Continua nos comentários)