
07/01/2025
O campo psicanalítico, assim como qualquer outro meio social, vem acompanhado de imperativos: “você tem que fazer parte de uma escola, você tem que ler todos os seminários, você tem que fazer intervenções geniais em toda sessão, você tem que cortar a sessão bruscamente, você tem que estudar todos os grafos, você tem que entender topologia.” Enquanto os psicanalistas manejam, na clínica, para que o analisando não fique preso aos imperativos que vêm do Outro, acabam, eles mesmos, distraídos, enredando-se em uma teia de ideais sobre o que seria “ser psicanalista”.
O problema é que, em algum momento, o que era laço com a psicanálise se transforma em nó, passando a sufocar. Os imperativos ocupam o lugar do desejo, e, aos poucos, o trabalho se torna pesado. Surge, então, a pergunta: como é possível se manter trabalhando como psicanalista? (O duplo sentido dessa frase f**a para outro post.)
Certo dia, em um desses grupos de supervisão horizontal, onde criamos laços que dão sentido à nossa prática, lembro-me de ter perguntado aos colegas como faziam para que a profissão se tornasse menos angustiante. Naquela época, em 2023, não entendi a resposta deles, que só fez sentido para mim no final de 2024.
Eles disseram que o que torna a clínica mais leve é a possibilidade de construir uma clínica que seja mais sua e menos uma tentativa de psicanálise “pura”. Depois de muitos meses, ao me perceber mais em paz com a profissão, notei que algo havia mudado: eu havia construído um estilo mais próprio na clínica, estava estudando mais o que realmente me interessava (parei de focar no repertório e voltei a estudar Hegel).
Enquanto quisermos fazer uma psicanálise “pura e verdadeira”, será impossível trabalhar com a psicanálise. É preciso tornar a psicanálise um pouco mais nossa para poder continuar sendo psicanalista.