11/12/2018
9 ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM FASCISMOS
Proponho estas nove estratégias como uma forma de compartilhar formas reais que aprendeu em minha experiência de psicóloga clínica e social, mas também em outros territórios existências da vida, como o movimento punk, o hardcore o zen budismo e etc, espaços que me ensinaram maneiras de re-exisistir. É uma maneira de dividir estratégias para que a gente não caia no enredo subjetivo que uma ascensão fascista promove.
A gente precisa, antes de tudo, entender o fascismo enquanto um vetor de subjetivação. Ele não é um partido organizado, fechado, cerrado, que está ali e não passa em nenhum lugar em nós. Ele nos compõe, está ali, dentro de nós, desejantes de autoridades que possam calar o caos e manter a ordem. (O que explica a mulher, o preto, o pobre que votaram naquele cara lá).
Deste modo, o fascismo enquanto força de subjetivação trabalha a partir do enfraquecimento das forças vitais. Não é a toa que nós temos nos sentido tristes ou com medo. Este é o objetivo desse tipo de força: se ramif**ar e expandir em terrenos desesperados e aliados a um sentimento de catástrofe.
Neste contexto, é natural que nós fiquemos em busca de quem possa nos salvar ou que fiquemos pensando em estratégias desesperadas em que tentemos nos precaver eleitoralmente da ascensão fascista. Entendo, mas é muito pouco para o que tem acontecido agora. Isso porque, independentemente de qualquer cenário eleitoral, este tipo de pensamento e de afeto está ganhando uma maior força de expressão. Mais do que odiarmos ou tentar nos rebelar contra o fascismo que nos compõe, o que acontece é que, neste momento, muitos o afirmam enquanto pensamentos e valores éticos, enquanto uma defesa para o que deve ou não ser o mundo.
1) Não tome a raiva que você sente para você. Use-a de forma combativa. Seja irônico, deboche, ria. Escreva, desenhe, cante, atue, manifeste-se, panflete, faça zines, faça oficinas. Transforme a raiva e o ódio em força expressiva e de ataque.
2) não gaste tempo explicando sobre o que é racismo, homofobia, estado de exceção, ditadura militar com quem realmente acredita que isso não seja problemático. Isso só aumenta o desespero e a sensação de jogo perdido.
3) Caso você se perceba entristecido por conta do contexto político, perceba se esta é uma tristeza que te faz f**ar com medo e sentimento de impotência. Se for, se torne novamente para você, e pense naquilo que ressoa nesta tristeza: o que, no contexto atual, te faz triste? Como contornar e tornar esta vida uma ação cheia de vida para o mundo? Em outras palavras: como usar a sua revolta de jeitos que alimentem a vida (a sua, a dos seus companheiros, a dos que vão estar ao seu lado nas trincheiras)?
4) Algumas coisas práticas, bastante simples, mas que fazem total diferença para o corpo. Faça exercícios físicos, especialmente os de alongamento (para abrir espaço no corpo) e os de fortalecimento (para que estejamos fortes para sustentar todos os afetos que nos acometem agora). Treine a sua respiração (ela é aquilo que abre espaço para a vida e a diversidade de afetos no corpo. sustentar a tristeza e o medo, sem paralizar, f**a mais fácil com ela). Alimente-se bem (s**o vazio não para em pé e muito menos vai pro front).
5) É preciso estar atento, a cada coisa, a cada afeto, a cada sensação. Lembre-se: um vetor fascista de subjetivação quer te paralisar, te deixar perdido e amedrontado. Se você sentir isso, volte para os passos anteriores e veja quais são as saídas possíveis.
6) Crie espaços de diálogos com quem você sente que está com você. A gente precisa uns dos outros para sentir segurança e firmeza neste momento.
7) Leia, assista vídeos, veja filmes. Construa um pensamento sobre o nosso atual contexto social. Isso dá alguns apaziguamentos, ajuda na luta contra o desespero e a afobação.
8) Em uma discussão com um fascista que fala todos aqueles clichês que a gente conhece sobre corrupção, saúde, educação, criancinhas, lembre-se de Reich e pergunte a ele: "O que você faz, na prática, para alimentar esta nação, sem arruinar outras nações? O que você faz, como médico, contra as doenças crônicas; como educador, pelo bem-estar das crianças; como economista, contra a pobreza; como assistente social, contra o cansaço das mães de prole numerosa; como arquiteto, pela promoção da higiene habitacional? E agora, em vez da conversa fiada de costume, dê respostas concretas e práticas, ou, então, cale-se!" (REICH, 1988, p. 14)
9) Lembre-se: o fascismo não vai acabar por manobras políticas eleitorais. Respire. Esteja atento. E cuide-se.