05/05/2023
“Precisamos proteger a natureza, que é o fruto da nossa vida” - essas palavras que emergem do diário de uma criança de 6 anos de idade falam de uma trajetória de vida que seria desde sempre atravessada pela ligação com a sabedoria do mundo natural. Gabriela Silva, que já tem a “selva” inscrita no próprio sobrenome, teve seu ser banhado pelo Espírito Divino manifesto na poesia das suas infinitas manifestações aqui na Terra: as águas, os animais, as plantas e o corpo humano como lugar de revelação de algo maior, como expressão do sagrado transcendente...
Encontrando uma profunda afinidade de seu ser com o mundo natural, Gabriela desde cedo procurou dar destino a esse intenso pertencimento com o universo das fauna e flora por meio dos caminhos que lhe foram possíveis a cada momento de vida. Tendo cursado engenharia civil, foi convocada pelas suas próprias águas internas a utilizar esse saberes em prol da proteção da mãe Terra e a partir de uma postura crítica às apropriações indevidas que o ser humano faz de seus recursos, desconsiderando o sussurrar sutil de seu corpo natural e buscando possuir e dominar aquilo que é campo de mistério e poesia.
Adentrando as possibilidades que os campos da permacultura, do saneamento ecológico e a bioconstrução lhe ofereceram, Gabriela utilizou das ferramentas que havia construído até então para alinhar sua vocação maior, ou seja, o cuidado com o Todo e com a harmonia da natureza em um nível macro. Nesse período, vivenciou diversas experiências com terapias e plantas sagradas, que lhe abriram a percepção para o saber medicinal que advém delas. Sua imersão profunda nesse universo foi apenas mais uma pétala que se desabrochava da infinita flor do saber misterioso que se revela no mundo natural.
A vida de Gabriela, contudo, passou por uma reviravolta de proporções intangíveis quando foi atravessada por um adoecimento severo em seu corpo físico. Numa sincronicidade cósmica, foi fortemente atingida por um vetor infeccioso que decorreu justamente de uma catástrofe ambiental causada pelo desquilíbrio da relação do ser humano com o seu entorno. Esse período implicou numa experiência de quase morte e na sequência, em uma verdadeira ressurreição milagrosa.
Nesse renascimento, Gabriela não só passou por uma longa etapa de reaprender a habitar seu corpo, como também enxergou nessa espécie de iniciação espiritual inesperada a possibilidade de refazer e reestruturar seu próprio caminhar. A relembrança despertada pelo adociemento físico lhe restituiu o dever de cuidar da mãe natureza, mas agora em um percurso que agregasse os diferentes saberes que havia recolhido ao longo de sua história se voltando para o micro-cosmos.
Essa passagem do macro para o micro foi realizada em paralelo a seu próprio renascimento no corpo físico, em uma regressão profunda aos primórdios da entrada do ser humano em sua envólucro material. Ao receber inúmeras experiências de cuidado nesse período e ao revisitar todas as etapas do desenvolvimento humano, Gabriela expandiu seu saber a respeito do corpo humano de uma forma contundente. Sentindo o chamado interno de ofertar o que recebeu, decidiu por fim se colocar no mundo naquele lugar originário que sempre a chamou internamente desde criança - “cuidar do fruto da vida”...
Voltando sua disponibilidade para o cuidado interno e a nível micro, Gabriela buscou iniciar sua jornada como terapeuta a partir daquele local mais originário na vida psíquica de todos nós: a pele. Entendendo esse órgão como a fronteira entre o dentro e o fora e como aquilo que permite uma entrada na interioridade de uma pessoa, iniciou sua formação em massoterapia com a perspectiva de um verdadeiro cuidado da alma.
Em paralelo, passou a desenvolver seus estudos em diferentes frentes, buscando medicinas tradicionais que valorizem a ancestralidade e a sabedoria da natureza manifesta no corpo, em uma visão integrativa e que rejeita a compreensão do corpo de uma forma apenas materialista e segregada. Percorrendo caminhos dentro da Ayurveda, da fitoterapia e, sobretudo, da medicina chinesa, Gabriela tem buscado cada vez mais expandir seus olhares para a corporeidade humana em busca de auxiliar pessoas e atravessarem os processos de vida e morte no interior de si mesmos, como ela mesma conheceu diretamente.
Esse seu encanto pelo corpo como um lugar de sabedoria hoje lhe possibilita se assentar em um lugar de integração entre os elementos internos e externos do ser humano, por meio do qual oferta suas mãos e seu toque numa experiência de atravessamento de seus pacientes, abraçando e sustentando com sua ternura e cuidado o próprio ser interno de cada um que deita em sua maca. O trabalho que realiza hoje congrega todo o repertório que construiu ao longo de sua vida, como experiência real e vivida, que, poderíamos dizer, vocaciona todo seu ser a uma verdadeira possilibidade de fazer jus a essa palavra tão delicada e sublime: a cura.
