
25/07/2025
“Brasil em Batalha: Arjuna às Margens do Planalto”
Por Eduardo Platon, 24 de julho, 2025
Como Arjuna diante do campo de Kurukshetra, o Brasil se encontra hoje paralisado diante de sua própria guerra interior — uma batalha não apenas política ou econômica, mas espiritual. Na Bhagavad Gita, Arjuna hesita ao ver que seus adversários são também seus mestres, amigos e irmãos. Assim também o povo brasileiro, dividido entre polos opostos, vê seus oponentes ideológicos como inimigos irreconciliáveis — esquecendo que compartilham uma pátria, uma cultura e um destino comum.
Krishna, guia divino de Arjuna, não o isenta do combate, mas o convida à ação justa, desapegada dos frutos. A lição ecoa os princípios do Caibalion, onde a Lei da Polaridade ensina que os opostos são apenas extremos da mesma coisa — e que a verdadeira sabedoria está em transcender a ilusão dos extremos, buscando o equilíbrio dinâmico que une e não separa.
Na mitologia grega, o herói é aquele que desce ao Hades — ao inferno simbólico da dúvida, do caos e da transformação — para retornar mais inteiro. Prometeu, que ousou desafiar os deuses para trazer o fogo à humanidade, é símbolo do sacrifício pelo bem comum. O Brasil precisa de seus próprios Prometeus e Arjunas: líderes e cidadãos que aceitem a dor do despertar e o fardo do serviço.
O Cristo do Evangelho também enfrenta sua batalha: não uma guerra com espadas, mas a entrega na cruz, onde vence o mal com o perdão, e transforma morte em vida. A cruz brasileira, hoje, é a da desigualdade, da corrupção moral, da desesperança. E a ressurreição nacional só virá quando cada brasileiro reconhecer que o verdadeiro campo de batalha não está apenas em Brasília, mas dentro de si.
Essa é a hora da escolha. O Brasil pode recuar diante de sua crise, como Arjuna hesitou diante de seus parentes armados. Ou pode ouvir sua voz interior — aquela que, como Krishna, sussurra que a ação correta, feita com fé e consciência, é o caminho da libertação.
O Brasil, como nação, está sendo chamado ao limiar de sua grande travessia. Tal como ensina Joseph Campbell em O Herói de Mil Faces, todo povo em crise é também um povo à beira do despertar. A travessia do herói não pertence apenas aos mitos antigos — ela pulsa nas ruas das cidades, nas decisões dos líderes e, sobretudo, nas consciências dos cidadãos comuns que escolhem não se omitir. O Brasil precisa formar uma nova geração de heróis: não os que buscam glória ou poder, mas aqueles que, como Arjuna, enfrentam sua batalha interior e agem com coragem, lucidez e compaixão.
Esses heróis reconhecerão, como ensinam a Gita, o Evangelho, o Caibalion e os mitos antigos, que a verdadeira vitória é a transformação do eu, e que servir ao coletivo é o ápice da jornada espiritual. Ao despertar esses heróis — em salas de aula, comunidades, empresas, parlamentos e favelas — o Brasil pode finalmente sair de seu ciclo de repetição e se erguer como nação consciente, madura e justa. O chamado já foi feito. Resta agora saber quem terá coragem de atravessar o umbral.