17/06/2024
Existem várias formas de se lidar com a dor e este enorme texto é um desabafo de alguém que enfrentou suas sombras e está aqui para auxiliar qualquer um que precise de ajuda no seu processo de cura!
Eu não gosto muito daquele velho discurso de gente que está “bem demais” e vem julgar a dor de quem está se sentindo destroçado, destruído, acabado, sem vontade de viver. Me parece de uma arrogância e de uma insensibilidade que, além de não alcançar nenhum objetivo de cura ainda coloca mais pra baixo quem está sofrendo, pois põe a culpa pela dor em quem está machucado.
Ontem, pela milésima vez, lendo alguma coisa que dizia algo assim como que a pessoa tem que escolher para de “arrastar corrente”, senti, como sempre sinto, um enjoo, uma preguiça, uma quase raiva.
Daí eu ouvi a voz do meu companheiro, Pai Anastácio, meu pretinho velho, que falou no meu ouvido. Na vida, minha filha, é assim, tem que passar pela dor, é inevitável, e na hora do aperto, os sentimentos brotam. Tá tudo bem sentir raiva, sentir tristeza e ficar revoltado, este é o momento que a dor pulsa.
Depois de algum tempo, estes sentimentos vão se amenizando. Dores pequenininhas não são mais nem lembradas, como aquela topada com o dedão do pé na quina, no dia seguinte ninguém lembra mais dela. Grandes dores podem demorar um pouco mais pra passar...
E eu fui ouvindo aquelas palavras tão sábias que acalmaram o meu coração.
Não é possível escolher não sofrer. Mas uma vez que a dor se instala, a gente pode escolher não alimentá-la. E sim, isso é muito diferente de fingir que ela não existe para agradar aquelas pessoas que não querem ver ninguém “arrastando corrente”. A gente tem que ter um pouquinho mais de paciência com quem sofre, porque a dor tem que se esvair.
No processo de cura a dor vai se exaurindo, sendo colocada para fora homeopaticamente, terapeuticamente ela vai saindo em forma de lágrimas, de desabafos, de caminhadas, conversas, reflexões, terapias.
É preciso deixar que ela se vá, sem esconde-la debaixo do tapete. É preciso varrer a dor pra fora. O nome desse processo de tirar a dor da alma é cura, ele pode ser um pouco demorado e não custa nada ter paciência com quem está sofrendo.
Talvez aquela pessoa que não para de falar sobre um evento traumático não esteja alimentando dores que já passaram, talvez ela esteja somente tentando colocar para fora uma dor que não cabe mais dentro dela e está saindo num doloroso processo de cura. Talvez ela não esteja carregando correntes, mas tentando se livrar delas!