
02/02/2025
Os demônios querem sangue
O tempo vai passando. Meses são eternidade para uma criança cujos únicos afazeres são frequentar a escola, concluir exercícios e tarefas pedagógicas ou extracurriculares, brincar com amigos e estar dentro de uma rotina familiar. Bom, é o que se espera. Sabemos que não é assim para qualquer alma, sobretudo as desabençoadas de nascimento. Todavia, meses são eternidades. Crescemos. Na juventude, traçamos planos. Para onde vamos? O que faremos? O que precisamos fazer? Nesta última questão reside uma potente fantasia quanto às necessidades, que clivam desejo e dever. Algumas pessoas se formam hedonistas, devotas do prazer, do um dia-após-o-outro, são os inimigos do fim. Outras se neurotizam pela tarefa árdua de suportar as exigências da vida. Questiono-me: existe algum momento em que a alma não é assolada por um mundo material em que ela é dobrada, em detrimento dos seus anseios? Na juventude, quase que invariavelmente, precisamos deixar muitos chamamentos para “virar adulto”. Que imagem é essa? O que é um adulto? Conheci muitas pessoas que se tornaram muito bons em bancar a si, a família, filhos e desempenhar no trabalho. Mas isso os define como adultos? Não era de Freud a definição de que uma pessoa saudável era aquela que consegue trabalhar e amar? Na sutileza da resposta a uma pergunta dificílima, o grande mestre aponta para um “lide com a realidade que lhe é imposta”, mas também um “invista-se de paixões”. Amor não é s**o, família. Este amor é Eros, é ligação, é calor que encandece a letárgica Psique. Mas, “quando” nos tornamos adultos, por volta dos nossos 20 e poucos anos, vivemos uma experiência assim? Outro grande mestre, Jung, percebeu que na vida de um ser humano constituído, firme em algum lugar mais ou menos seguro, não basta se adaptar ou construir redes sociais, sejam elas as mais diversas. Jung se deu conta de que a alma precisa viver. Não seria isso o que deveria nos tornar adultos? Pensamos durante essa juventude a longo prazo. É razoável, afinal ter terra firme. Mas que loucura foi isso? Terra-firme é um devaneio. Uma fantasia paranoica, uma advertência contra os movimentos movediços do destino.