16/05/2024
O dia das mães passou e é sempre um momento de reflexão meu como mãe e como filha. Ao longo desses anos como médica, eu já me deparei com mulheres e mães incríveis, com histórias inspiradoras. Tem gente que fala que o amor de mãe move montanhas e eu acredito muito nisso. Na verdade na história da humanidade, em muitos momentos, a luta de mulheres corajosas mudou a sociedade, porém muitas vezes isso não é falado ou o papel dessas mulheres é minimizado.
Hoje eu vou contar para vcs a história da menina norte-americana Charlotte Figi e de como a luta da sua mãe por um tratamento para a sua filha mudou a história da Epilepsia. Muito se fala atualmente da Canabis medicinal e do Canabidiol, mas eu não vejo as pessoas falando de como tudo isso começou.
E isso começou com a menina Charlotte, que desde poucos meses de vida começou a ter crises epilépticas, que foram piorando e aos 3 anos ela teve o diagnóstico de Sd de Dravet. Ela tentou todos os anticonvulsivantes disponíveis, tinha inúmeras crises por dia. Os pais dela começaram a pesquisar e encontraram pessoas relatando melhora com Canabidiol. E mesmo não tendo nenhum respaldo médico, não existiam estudos, não sabiam se era seguro, eles resolveram tentar o CBD para a Charlotte - isso aconteceu em 2012 e ela tinha 5 anos de idade. Não foi fácil, porque a planta Cannabis tem várias substâncias e o que está em maior concentração na planta não é o CBD e sim o THC. O THC é o componente psicoativo da planta e inclusive pode piorar as crises epilépticas. Até mesmo por esse motivo que os estudos que existiam até então não mostravam benefício da Canabis como anticonvulsivante, porque até então nunca tinha sido estudado o uso do CBD isolado para o tratamento de Epilepsia. A mãe da Charlotte conseguiu comprar a planta rica em CBD de um dos produtores que tinham essa variedade da planta e que ficava lá "abandonada" porque ninguém queria, era inclusive chamada de "hippies disappointed", porque como não tinha o THC, não tinha o efeito psicoativo. A resposta da Charlotte ao CBD foi impressionante! No mesmo dia que iniciou ela não teve crise e de mais de 30 crises por dia, ela passou a ter 1 crise por semana! Ela voltou a andar, a falar, e os seus pais foram os pioneiros em realizar o processo de extrair o CBD, que é um óleo, da planta, e fundaram uma empresa destinada a produzir o CBD que eles batizaram de "Charlotte's web".
É claro que depois de tudo isso, muitos médicos que eram céticos, que tinham preconceito ou até mesmo que queriam mas não tinham incentivo, resolveram estudar o uso do CBD em epilepsia e descobriram que sim, é um medicamento, é um anticonvulsivante! Os estudos iniciais foram feitos com pacientes com casos graves de epilepsia, como a pequena Charlotte, pacientes com Sd de Dravet. Porém hoje, com o avanço dos estudos, acreditamos que provavelmente poderá ser usado em outros tipos de Epilepsia também. A pequena Charlotte faleceu no início da pandemia, mas o seu legado continua até hoje e contribuiu para o avanço da medicina e do estudo dos efeitos medicinais da Canabis.
Eu vou deixar aqui o link para o documentário da CNN, feito em 2013, que conta a história da Charlotte, tem 45 min e é bem interessante.