15/11/2025
“A gente se faz no que acontece no meio.”
(Carla Madeira, A Natureza da Mordida)
Uma semana atrás, vivi algo que eu jamais teria imaginado quando assumi o cargo de chair do Comitê de Educação da International Headache Society.
Na minha primeira experiência no continente africano, conheci Nairobi — uma cidade de contrastes: vibrante e desigual, culturalmente rica, atravessada por um parque nacional onde leões e girafas convivem com a metrópole ao redor.
Fomos ao Quênia para treinar profissionais de saúde que tiveram pouco ou nenhum contato com ciência e educação em cefaleias. E a pergunta que muitos fariam — “Será que é disso que eles precisam?” — foi respondida logo no primeiro dia.
No centro de saúde da maior favela da cidade, encontramos uma paciente sendo atendida. Nada combinado. O diagnóstico sugerido? Hipertensão como causa da dor. O real diagnóstico? Enxaqueca. Uma condição que atravessa classes, cores, etnias e culturas — e que sobrecarrega pessoas que já carregam fardos enormes apenas para sobreviver.
A partir dali, mergulhamos na construção de uma experiência educacional simples, compreensível e transformadora.
E o resultado foi imenso. Perguntas sem fim, curiosidade genuína, participação intensa. A prova viva de que conhecimento muda vidas — e de que, como diz Carla Madeira, é no meio da travessia que a gente se faz.