Paulo Crespolini - Psicólogo

Paulo Crespolini - Psicólogo Boas-vindas! Aqui é uma clínica voltada, principalmente, para o tratamento dos relacionamentos afetivos e conjugais. Sejam bem-vindas e bem-vindos!
(210)

Junto disso, o Paulo Crespolini também disponibiliza atendimento psicológico para adolescentes, adultos e famílias. Este espaço virtual existe para que possamos dialogar sobre variados adoecimentos psíquicos, com a liberdade respeitosa de quem se estaciona para ouvi-los, integrá-los e transformá-los.

Era uma vez a ‘miudeza’ em figura de gente. Tão frágil, tão pequenina, aquela menina! Quão indefesa, quão quebrável, quã...
24/08/2025

Era uma vez a ‘miudeza’ em figura de gente. Tão frágil, tão pequenina, aquela menina! Quão indefesa, quão quebrável, quão mirrada pra assumir a culpa de um mundo inteiro. Meu Deus, quanta violência! Crueldade das grandes, daquelas imperdoáveis. A triste sina de ter nascido num corpo submetido à brutalidade do machismo. Corpo oprimido, corpo tolhido, corpo marcado, corpo doído. Que doideira! Depois dizem que endoidada é a mulher. Que endoide, pois, então! Muitas das vezes endoidar é a única maneira de se manter sã. Do contrário, vira amancebado da brutalidade. Ontem, casinha, roupinha, comidinha. Hoje, cama, mesa e banho. Coincidência, minha gente? Caixa de brinquedos coisa nenhuma! Aquilo era uma caixa de ferramentas. Isso sim!
Bem cantava o ditoso Cartola: “Preste atenção, querida. […] Mal começaste a conhecer a vida. […] O mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos. Vai reduzir as ilusões a pó” ( 1 ). E essa moagem tem nome. É a engenhosa da Dona Culpa! Perpetuada de geração em geração, assim moída, transmitida e insistentemente repetida, chega a parecer natural: mas só foi bem arquitetada. Quando a memória já não alcança o tempo das coisas elas se perdem dos inícios. Da filha à mãe, da avó à bisa: de onde veio tal molesta? Alguma escavadora de parentescos, a felizarda genealogista, pra descobrir as raízes de uma árvore familiar, cujo fruto podre é culpa em cima de culpa? A tataravó tadinha seria o último registro vivo da terrível façanha de aprisionar alguém, sem ter grades?
Há uma engrenagem, esmagando na surdina, a incontáveis mulheres. Elas têm feito das tripas coração pelos seus e pelos que não são seus. Conhecidos e estranhos, próximos e íntimos: estão todos dentro de uma mesma canoa, chamada de ‘cuidado’. E quem cuida de quem cuida senão as próprias mulheres? Quebrem os paus, joguem fora os remos, saiam desse rio caudaloso de culpas vãs! Canoa furada de asneiras, azucrinadora das ideias, futriqueira da vida alheia, catrevagem do moralismo, mal pagadeira porque só sabe criar dívidas inúteis: assim é a Dona Culpa. Deixem ela com quem, de fato, cometeu delitos.
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Lá me vinha ele, todo serelepe, andando de um lado para o outro, a arrumar as flores. Elas o detinham. Elas o faziam par...
03/08/2025

Lá me vinha ele, todo serelepe, andando de um lado para o outro, a arrumar as flores. Elas o detinham. Elas o faziam parar. As naturais ganhavam as cataratas do Iguaçu. As artificiais recebiam as panadas dos cafundós. A cada batida de pano a poeira f**ava desempregada. — Florista? perguntei. — Não, não. Sou “floredor” — Achei estranho, mas ele me explicou: — Para quem cuida tem o cuidador. Para quem corre, o corredor. E para quem floreia? Tem eu: o “floredor!” — Dali em diante foi uma aula de jardinagem das boas: desde as flores, que precisavam ser plantadas; até os vasos com água, que deviam ser devolvidos. — Isso é pro mosquito não fazer daqui uma lavoura de dengue, chikungunya e zika. A senhora pode pegar esse xaxim pra mim?
E de, terreno em terreno, ele foi me contando a história daqueles moradores. — Aqui é a casinha da Dona Eufrasilina. Com um nome pomposo desse ela já nasceu com uns 70 anos. Lá onde o vento faz a curva mora o Seu Orlando. Aqui mora a Dona Célia, tecedora de afetos, fazedora de sustento e de maná, celestial até no nome. Chamá-la é invocar aos céus! Irmã de muitos (no sangue e na fé), mãe de dois filhotes honrosos e avó de duas. Ela soube aproveitar a vida, porque fez dela doação aos outros. Até demais. — Eu fiquei boba dos detalhes e ele me disse que ouvia os familiares, cada vez que iam naquele terreno onde a “obra de uma vida” estava consumada. Aquele “floredor” também era um guardador de memórias.
— Sabe, moça. Já vi gente morrer de idade, de doença, de tragédia. Mas, na hora do vamos ver, todo mundo morre é de morte. Tem base um trem desse? Essa coitada só vem na hora derradeira e é tida como cadavérica, ceifadora, arbitrária, quando na verdade foi a vida que perdeu as forças. É o mal quem tira as pessoas da vida. Já a morte as devolve pra ela. Quem tem a consciência do morrer não aduba rancor, não cultiva mágoas nem semeia ‘acerto de contas’. A prosa tá boa, mas preciso partir. E quando eu voltar, na sua hora derradeira, que eu tenha dificuldade pra te encontrar, porque a dona menina estará vivendo. Que o afeto lhe seja rumo, norte e prumo!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Domingo de tarde, naquela hora que o sol refresca, feira da semana feita, barulho de café moído, coador de pano no bule,...
27/07/2025

Domingo de tarde, naquela hora que o sol refresca, feira da semana feita, barulho de café moído, coador de pano no bule, cozinha arrumada me esperando, broa quentinha, saída do forno, não era de milho nem de fubá. Aquela broa era feita de vó. Tinha cheiro de vó, sabor de vó, afeto de vó. “Bênça, vó!”. Feliz da vida, lá me vinha ela, com as mãos franzinas, me dar aquele ditoso abraço, capaz de congelar o tempo por um cadinho. Mas, implacável que só, eu sabia que o relógio passava ligeiro à espreita. “Cê já chegou, minha filha? Deus que te abençoe!” Conversa vai, conversa vem, contei pra ela de uma mágoa, daquelas bem graúdas, que faz a gente sentar na cadeira do ressentimento por anos e aguardar por um acerto de contas.
“Minha filha, tá vendo essa broa aqui? Do jeitim dela, a gente também foi feita pra despedaçar. Não leve isso na ruindade não. É modo de dizer. Viu? É que sempre vai f**ar um pedaço nosso em tudo que a gente experimentou, sofreu, resistiu, conheceu, sentiu, aprendeu… Dói porque viveu! Quando a gente construiu amor, a gente também construiu dor. Um é tecido, o outro é rasgo e o tempo é o remendo disso tudo. Que troço é esse de buscar-se de volta? Criança interior só azucrina as ideias. Tá no passado? F**a no passado. Se trouxer pra cá vai infantilizar o presente. Aprenda com a sua vó que é vivida: quando a gente retorna lá atrás não é pra redimir ninguém. Perdoar a violência sofrida é tão violento quanto quem violentou a gente. O regresso é só pra acolher o fato como dado e aceitar a realidade que se impõe, independente da nossa vontade. Isso não e conformismo nem submissão. É pegar a liberdade de volta. Assim como a semente que se apega à terra não germina, o milho que se apega à espiga não vira broa. Vai fincar raízes aí enquanto a vida passa, criatura?”
Com minha vozinha aprendi que somos em pedaços. E, quando não tem mais o que despedaçar já é a morte, aprumada pra chegar. Hoje não a tenho a vista, mas sei que um pedaço dela mora comigo, inclusive nessa broa despedaçada, em forma de vida.
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Tire a roupa do varal e dobre em seguida, senão vai f**ar socada. Não quero desaguar o Rio Amazonas, aqui em casa, pra t...
20/07/2025

Tire a roupa do varal e dobre em seguida, senão vai f**ar socada. Não quero desaguar o Rio Amazonas, aqui em casa, pra tirar amassado de tecido empelotado. Se atente às horas porque o sol é lento pra quarar, mas ligeiro pra esturricar. Haja água pra umedecer tecido curtido na secura. No tempo em que a energia elétrica morava a léguas de distância, a gente usava ferro, cheio de brasas quentes, para passar as roupas. As coloridas eram mais fáceis, mas as brancas, muitas das vezes, sujavam feio com a fumaça. Uma trabalheira só pra não se irmanar com a raiva e desistir da passação. Ditoso quem tomou o juízo de inventar o ferro pra amaciar as fibras diante de um amor a pleno v***r. Igualmente, custoso, quem ferrou com um afeto e passou por cima de tecido, de tábua, de valores, de promessas e até de gente.
Passadeira de tecido já fui. Passador de alinhamento sou a quem deseja o vinco. Hoje estou com as passagens: andanças! Eis o meu felizardo ofício! Relacionamento não pede a passagem de roupa limpa nem a lavagem de roupa suja, mas, acima de tudo, pede pela “difícil passagem do eu ao nós” (BUBER, s.l.t.). E essa passação não se faz sozinha nem com v***rização. Ela se faz artesanalmente, com o borrifador cheio de entendimento mútuo, junto com água, amaciante e cola: receita de mãe!
Sei lá… A gente já luta tanto na vida. Quando chega numa relação a labuta é dobrada? Cês não se cansam não? Quantas malas de roupa são necessárias pra gente largar mão dessa peleja sem fim? Até quando pés inchados ao redor de uma tábua onde o amor é amassada violentamente? Relação deveria ser um lugar pra gente ser vulnerável, pra descansar a cabeça, pra gente poder ser a gente. Se o ferro é a estrutura da relação, a brasa dele é o amor. Nem sempre se morre de mort€ matada ou de mort€ morrida. A gente morre também quando teima com tecido que não quer ser passado e, de tanto insistir nisso, o ferro vira decoração. Relação é passagem, a vida é passageira e o tempo está nos passando. Onde a passagem do eu ao “nós” se torna impossível: já não há passadeira que dê jeito.
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

“Chinela” batida, cansada, puída: estradeira! Menina faceira, distante das tranqueiras, arriada de tantas andanças! Já f...
13/07/2025

“Chinela” batida, cansada, puída: estradeira! Menina faceira, distante das tranqueiras, arriada de tantas andanças! Já foi o finado tamanco, mas também subiu nas tamancas. Segurou pantalona, tombou na garagem, descobriu onde Judas perdeu as botas, sambou de um tudo, fez seu xaxado, sem arredar os pés das benquerenças! Encheu de bolhas, calejou os dedos, rachou o calcanhar, fez escalda pés, colocou na bacia com arnica e barbatimão… Que trem doloroso! Doeu sim, mas “doeu porque viveu” ( 1 ). E olha lá, minha gente! Espia eu fazendo tudo de novo. Só que dessa vez mais certo que o certo de agorinha.
Vida que se faz andança, onde ninguém me segura: nela existo como romeiro! Vida que se faz experiência: nela jamais sou errante! Não há sucesso nem fracasso onde o triunfo é a tentativa! Vida, ditosa vida, que se faz em permanente saída: nela me torno trilha, onde a subida se irmana com a ladeira, cheia de avanços e retrocessos, perdas e encontros, desacontecimentos. Que troço ruim a ascendência sem fim! Mas tem hora que as pernas envergam porque as dificuldades pesam. É hora de parar um cadinho. Há de recuperar o fôlego, colocar comida na matula e água na moringa. Afinal, a dor espreita um bocado e a gente sente: “um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor” ( 2 ).
E quando os pés sangram? Pode confiar no caminho, minha filha. A poeira da estrada é o cicatrizante certeiro por essas bandas. Não existe inflamação, problema, quebranto, trauma, quanto dirá injustiça que resista ao movimento de uma vida imparável. Cá com os meus botões penso que os sofrimentos só permanecem porque a gente insiste f**ar, “arrudiando eles”. “Vai te embora, homem!”; “Levanta, mulher!”; “Tome tento!”; “Pegue seu rumo!”, “Se aprume, oxe!”: é o que escuto. Me deixe então com a minha broa de milho e o cafezinho coado. Não quero lutar nem vencer, muito menos conquistar. Só quero rumar, atravessar e ser atravessado porque é disso que se trata a “travessia de minha vida” ( 2 ). O viver que se apresse!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

O território afetivo das relações é o lugar privilegiado para percebermos o quão violentos somos. Isso porque nem toda v...
06/07/2025

O território afetivo das relações é o lugar privilegiado para percebermos o quão violentos somos. Isso porque nem toda violência se dá às claras. Há violências, das mais sutis, que “eximem-se da visibilidade. Em virtude da sua invisibilidade, as vítimas [...] não têm consciência do contexto de domínio. E é isso que caracteriza a sua eficiência” ( 1 ). A violência não se faz apenas de grosserias, hematomas ou escoriações. Muitas outras são pervertidas por uma açucarada educação ou, ao menos, de um cuidado nos detalhes. Gestos pretensamente zelosos, mas profundamente violentos, porque visam dominar, submeter ou eliminar ao outro. De tão silenciosa acreditamos piamente que essa violência nem existe.
O fato é que, “tanto a violência quanto o poder são estratégias para neutralizar a inquietante alteridade, a liberdade rebelde do outro” ( 1 ). Mas, quem é essa dita-cuja da alteridade? É a condição existencial de que só nos humanizamos a partir do outro. Existimos na presença desse ‘não-eu’, estranho e diferente, que nos legitima. Nele somos individualmente. Eis o universo do EU. Já ele é “outramente” em nós. Eis o universo do OUTRO. Diante desse ser que se revela a nós vemo-nos impotentes. Não há como aprisioná-lo. A insistência na “utilização da violência seria a tentativa desesperada de converter a impotência em poder. [...] É uma violência que se esgota na vontade de aniquilar o ser do outro” ( 1 ).
Adoecido é o relacionamento que violenta a existência do outro. Em contrapartida, saudável é a relação que assegura a ética do cuidado, capaz de pacif**ar, fortalecer e promover o ser da pessoa amada, junto de nosso próprio ser. Afinal, somos em relação. Rememorando a Agostinho de Hipona, faz bem observar se, em certos momentos, não temos amado mais o nosso querer sobre o outro do que o outro em si: “não amas no outro aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele seja”. Que o amor jamais seja usado para controlar ou determinar, mesmo com a justif**ativa das melhores intenções, porque aí já não é amor: é violência!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Eita povo custoso da gota serena. Faz, faz, faz e nunca tá bom. É aquela trabalheira que só desanda. A triste sina de qu...
29/06/2025

Eita povo custoso da gota serena. Faz, faz, faz e nunca tá bom. É aquela trabalheira que só desanda. A triste sina de quem vive dando murro em ponta de f@c@. Perdoa daqui, acode acolá e nada daquela vida endireitar. Mal resolve a um problema e já tem outro à espreita. Um das tripas coração sem fim. Será que é de tanto fazer que aquilo não se apruma nem toma jeito? Mas, deixar de fazer é a solução? Jamais! Que amor é esse que tudo suporta, por anos afins, inclusive as mudanças: das mais prometidas e das menos chegadas? Que amor é esse também que vai embora na primeira dificuldade? Tanto a insistência quanto a desistência têm uma cerca de arame farpado, da qual jamais se deveria ultrapassar. Chama-se “brio”. Alguém conhece?
Mas, continuamos a dar nó em pingo d’água, fazendo o impossível e custando a entender que cada um é o que pode, o que consegue e o que sabe. Em última instância, cada um é o que quer. No fundo ninguém deseja controlar ou ser controlado. Mas, lá onde a mentira não vinga, quando sofremos pelo comportamento do outro é porque queremos que ele pense, aja e sinta como pensamos, agimos e sentimos. Mesmo com as melhores das intenções há sempre o risco tratarmos ao outro como um prolongamento de nós ou, ainda, dele nos ter como uma extensão de si.
Temos todo o direito de prover com tudo que a sustância do amor pode dar. Mas, quando a jiripoca pia, é sábio entender que ninguém muda ninguém, ninguém muda a si mesmo, as pessoas mudam entre si, em relação, à medida que se abrem à mudança ( 1 ). Não somos maior que a história do outro. Nela chegamos atrasados. Muito atrasados. Quantos anos foram necessários para a construção daquele comportamento alheio que tanto nos faz sofrer? E sem justif**ativas vãs: quais foram as circunstâncias que o fizeram surgir? Não há arado, não há adubo, não há semente que mude um terreno impossibilitado ao plantio. Não há reza, não há diálogo, não há tratamento que mude um coração que tem medo do amor. Embora desafiadora, toda mudança é possível quando se ‘quer fazer dar certo’. Isso se chama amor!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Tem gente que desde muito nova dorme abraçada para que nada, absolutamente nada, se perca. Lá atrás uma fralda puída, de...
22/06/2025

Tem gente que desde muito nova dorme abraçada para que nada, absolutamente nada, se perca. Lá atrás uma fralda puída, depois um urso surrado, adiante um travesseiro que recosta, atravessa a cama, ajeita a coluna, descadeirada de faltas. Desde novinhos: apegados? Nem um pouco. Tem coisa mais séria pra se preocupar. Né? “É só o valor que damos as coisas mesmo. Nada demais!” Sei… De quantas perdas se faz um apego? De muitas, por sinal, a ponto de não hesitar: quanto maior o apego, maior é a falta. Quem muito perdeu - se apega ao pouco que tem - para não perder de novo, de novo e de novo. Faz-se de um tudo quando se quer impedir a terrível experiência do desamparo.
Mas, cá entre nós: se o bebê se agarrasse ao útero a placenta envelheceria e o óbito viria. Se o corpo temesse as estrias, aos enjoos e as dores do parto haveria gestação? Se porventura o ‘antigo’ rejeitasse ao fim das coisas poderia o ‘novo’ se achegar? Nós e a nossa teimosia de só ganhar, ganhando; quando o real é ganhar, perdendo. Queremos um afeto verdadeiro, permanecendo num vínculo que findou há tempos. Buscamos por recomeços sem dúvidas, descobertas sem medo, acertos sem erros, curas sem dor. Enquanto isso seguimos obstinadamente com as juras de amor eterno e não nos damos conta de que as promessas só chegam porque, no inconsciente, o fim já foi percebido. Afinal, o que é seguro não precisa ser prometido nem juramentado.
Há de se sovar a perda, tal qual uma massa. Do contrário, cada falta será sentida com o acúmulo de todas as outras faltas que não se esgotaram nelas mesmas. Onde há o medo da perda há o medo da morte e onde há o medo da morte há também o medo da vida. Um temor coexiste no outro. Mas, o que é a vida senão “a-obra-por-fazer-que-se-faz-no-processo-de-ser-feita” (AUSTER, 1999, p. 104). De fato é preciso desabraçar da vida se quisermos ser abraçados por ela. A isso dá-se o nome de ‘viver até morrer’.
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Auster, Paul. A invenção da solidão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

“Sai de perto do fogo, criatura!”, ralhava a minha mãe. Fumacinha pra cá, assobio pra lá, trazendo o cheiro do cozido pe...
02/06/2025

“Sai de perto do fogo, criatura!”, ralhava a minha mãe. Fumacinha pra cá, assobio pra lá, trazendo o cheiro do cozido pela chaminé. Era o chiado do almoço! Quando ela chegava estropiada do trabalho, com a coluna arriada de dor, a gente já sabia que era dia de sopa. Quando se é pequeno o fogão f**a lá na ribanceira dos adultos. Um lugar onde a infância não pode chegar. Mas, pra ser mulher-feita tem que desver da moleca? E pra ser homem tem que negar o menino? Todo adulto é uma criança domada? Deus o livre! Depois de grande aprendi que a ‘fumacinha’ era uma fulana qualquer, chamada ‘pressão’ e a ditosa ‘chaminé’, tinha o nome de ‘pino’. A roda emborrachada? Vedação. Arriégua que palavreado oco, igual ‘válvula’ ( 1 ). Coloca um tempero, por favor! Cebola picada, alho amassado, carne fritinha, legumes pra dentro, água no traço… Eita panela faceira que só.
Senhora da cozinha, poupadora do gás, namorada das fervuras: chefa, até das vasilhas. Para uns, ‘aceleradora do tempo’; para mim, ‘madrinha dos meus medos’. Isso sim! Com vocês, a ‘Dona Panela de Pressão’! Assim como tem gente que deixa de comer feijão por medo dela, também tem gente que desiste de amar porque já esteve prestes a explodir. Se é que já não explodiu! Anemia afetiva é um troço difícil de tratar. Antes fosse só carestia de ferro, mas é privação de amor.
Por que será que a gente esquece que, onde há fumaça há fogo e onde há fogo tem sempre uma panela de pressão, pronta pra desmanchar tudo, inclusive os males de “gentes”. Gente que semeia ‘tempestade’ e colhe ‘vento’. Nessa ordem mesmo que cês leram. Gente que paga de santo e, na hora do vamo vê, finge de morta. Gente que reluz, não é ouro e a gente igual ourives atrás delas. Gente que não vale um pássaro na mão, quanto dirá dois voando. Mas “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Ó, ficou maciinho. No fim cada um é o que pode, o que consegue e o que sabe. Distante da panela a gente perde a mão no amor e daí o caruncho domina o feijão. De que adianta f**ar encaruchado de tanta proteção? Panela ao fogão! Já!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

“‘O tempo se apaixonou por mim. Me deixou aqui colecionando perdas’ ( 1 ). Eu sei muito bem quem é a culpada de tudo que...
25/05/2025

“‘O tempo se apaixonou por mim. Me deixou aqui colecionando perdas’ ( 1 ). Eu sei muito bem quem é a culpada de tudo que me foi arrancado. Sua arbitrária! Sanguinolenta! Cadavérica! Ceifadora dos que amo. Tire essa foice das mãos, criatura! Pra que esse capuz? Que paúra, gente! Madrinha dos meus medos. Destruidora da ilusão sem fim! Relaxe de mim, coisa ruim! Deixe de ser tão caprichosa com os acabamentos. Não posso morrer não, minha senhora. Ainda tenho muito a fazer. Até quando, suportarei eu, aos seus atravessamentos em minhas andanças? Vai f**ar à espreita? Tá me caçoando é? Quero desescutar seus sussurros nos meus ouvidos. Assunte bem e saia já daqui, jagunça da vida alheia!”
Ô b***a lascada é a Dona Morte, coitada! Até quando descer a lenha? Penso que ela é tão vítima das tragédias como a gente também é. Quando a vida perde as forças: ela f**a puída. Daí é que a morte - matada ou morrida - chega com gosto. Assim como o dia adormece e não consegue mais alumiar: lá vem a noite acordada pro céu embelezar. É o círculo, minha gente. Pra que insistir em achatar já que a “reta é a curva que não sonha” ( 2 ). Não se tem notícia do passado. O presente escafedeu-se. E o futuro não vingou. Só se tem o agora. Sem começo e sem término o que resta? Resta viver. Como bem diz a sabedoria africana: “quando a morte chegar que ela me encontre vivendo”!
Mesmo com dor? Sim! Porque a vida e o viver são maiores que as dores da morte e do morrer. E sendo - dores que não se escapa - o jeito é delas não correr. “Ópios, édens, analgésicos não me toquem nessa dor. Ela é tudo o que me sobra. Sofrer vai ser a minha última obra” ( 3 ). A obra de uma vida genuinamente bem vivida! Eita trem jeitoso! É porque vai acabar que a gente precisa viver!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

Trem difícil da gota serena é o rasgo. Fico aperreado com um troço desse. Se a gente costura os pedaços, o coitado do te...
18/05/2025

Trem difícil da gota serena é o rasgo. Fico aperreado com um troço desse. Se a gente costura os pedaços, o coitado do tecido f**a empapuçado. Se a gente deixa pra lá… o rasgo vai se engraçando com os fios, só pra romper ainda mais o tecido. Se a gente pega a tesourada, pra arrancar essa molesta, o buraco f**a maior que o próprio rasgo. Ninguém deveria ser habilidoso no cingir dos rasgos. Que gastura! Eu gosto mesmo é de ser tecedor da vida. Nas horas vagas costuro esperanças. Ô, minha gente, dá trabalho demais da conta o fazimento do tecido. Num é verdade? É fibra tornada fio. É fio tornado tecido. É tessitura tornada vida! Quem conhece de artesanato, com os dedos calejados de fio a fio, rasgador de afetos não será, despedaçador de vínculos muito menos.
Tecido é benquerença, rasgado é violência. Tecido é xaxado, rasgado é travado que só. Tecido é sustança, rasgado é “dilacerança”. Mas, povo bom igual a gente, sempre vai achar um benefício, até no rasgo. Cê acredita? É quando o tecido prende a vida e a vida já não cabe nas vestimentas. Daí que o rasgo é feito ‘ferida’ pra libertar. Mas, de onde vem o rasgado? De fios frouxos? De teares vindos lá de onde Judas perdeu as botas? De tecelagem puída? Nananinanão! Já que a Dona Culpa não arreda o pé daqui… Deve ser culpa de gente igual a gente, sem capricho, que nem traquejo tem para o ofício da tecelagem. Antes fosse esse o fio da meada…
Rasgo sobre rasgo: quando se culpa por uma relação que não pôde ser mais tecida. Rasgo sob rasgo: quando o fio desiste do tecer, não quer unir, quer romper. Insistir pra quê? Assim como há rasgos que devem permanecer rasgados, porque só oferecem rasgamentos…. Há rasgos que carecem de remendos. E onde onde cabe o ditoso remendar é possível tecer afetos e destecer culpas. “Mulher, cadê o tear que eu me vou fiar?”
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000

11/05/2025

Endereço

São Paulo, SP

Horário de Funcionamento

Segunda-feira 10:00 - 22:00
Terça-feira 10:00 - 22:00
Quarta-feira 10:00 - 22:00
Quinta-feira 10:00 - 22:00
Sexta-feira 10:00 - 22:00

Telefone

+5511977527000

Notificações

Seja o primeiro recebendo as novidades e nos deixe lhe enviar um e-mail quando Paulo Crespolini - Psicólogo posta notícias e promoções. Seu endereço de e-mail não será usado com qualquer outro objetivo, e pode cancelar a inscrição em qualquer momento.

Compartilhar

Share on Facebook Share on Twitter Share on LinkedIn
Share on Pinterest Share on Reddit Share via Email
Share on WhatsApp Share on Instagram Share on Telegram