01/12/2020
NO DIVÃ: A Nociva Ansiedade Paulistana
Texto:
Foto: Arthur Vieira
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"Fala chefe, gostou do resultado?"
"Chefão, nem sei o que dizer? A gente que vive pelas bordas da cidade sabe que ela está piorando, que está cada vez mais difícil para todo mundo. Mas, democracia é isso e o voto disse isso nas urnas.
Há um sentimento de mudança, claro que há.
Por mais básico que isso possa parecer, o nosso candidato em toda sua campanha foi educado, respeitoso e, inclusive, quando perdeu foi cordial. Deveríamos enaltecer isso? Sim, claro que sim, nos últimos tempos a grosseria ganhou protagonismo, então o retorno ao básico deve ser exaltado.
Parece que o povo precisava colocar para fora seu ódio, ainda não sabemos muito bem as razões, mas ele foi liberado em figuras políticas. Mas, após um momento de extravasamento, a calma tende a voltar a seu estado.
Acho que por isso o discurso confiante e educado ganhou novos adeptos, ele está de acordo com um sentimento da população.
As vezes sinto que há uma força muito grande dentro da sociedade ultra capitalista paulistana que impede de festejar a vitória do outro, de conseguir pensar coletivamente. O que faz com que haja ainda um investimento em derrubar o outro, por mais maluco que isso seja, afinal se alguém compartilha o mesmo espaço com alguém em más condições, ambos estarão em más condições.
Mas, isso não parece importar, o que importa é o “outro” não estar melhor do que “eu”, mesmo que esse “eu” esteja mal.
Essa filosofia que paira em todos os cantos não é dita e muito menos tratada.
Quando pensamos racionalmente, a quantidade de votos direcionados para quem pouco faz para quem precisa, podemos tentar crer que há outras razões além das razões racionais.
Uma sociedade muito adoecida, aonde para dar espaço para o outro melhorar, é necessário esperar. Mas, como fazer uma parcela da sociedade esperar em uma cidade movida pela pressa infinita?
Eu não sei.
O termômetro é a quantidade de pessoas que estão vivendo nas ruas. Recusar ou ceder esmolas é pratica cotidiana de qualquer paulistano que caminhe pelas ruas."
No pires de ferro a melhor mortadela da cidade é servida.
"Vamo lá chefe, vai uma coca?"
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