19/04/2025
Pai José explica sobre a Páscoa e a Umbanda
Senta aqui pertim do velho, meu fio...
Ocê me pergunta se a Umbanda tem Páscoa. Eu te digo que Umbanda num tem Páscoa, nem Natal, nem Quaresma... mas também tem tudo isso, se souber usá com sabedoria. Porque Umbanda num é religião de calendário, fio. Umbanda é religião de fundamento. É de resposta. É de necessidade. Aqui a gente trabalha quando o sofrimento chama e quando o coração do povo se abre pra receber.
Agora... tem uma coisa que ocê precisa aprendê: tudo que o povo faz junto, pensando e sentindo igual, cria um campo no mundo espiritual. Isso nóis chama de *egrégora*. É como uma fumacinha invisível que sai da mente e do coração das pessoas, se junta lá em cima, e vira uma força viva, consciente, alimentada todo dia.
Na Semana Santa, por exemplo, milhões de pessoa tão lembrando do Cristo, da cruz, do perdão, da dor, do recomeço. E mesmo que cada um pense de um jeito... o sentimento que sai dali é parecido: fé, humildade, renascimento. E essa força, fio... essa força sobe pro mundo espiritual como um sopro quente que espalha luz e cura.
É por isso que nóis, aqui na Umbanda, mesmo sem fazer missa, sem fazer procissão, sem fazer jejum, senta no toco, acende a vela, finca o ponto... e usa essa força pra trabalhá. Porque essa egrégora serve como estrada aberta: o guia chega mais fácil, a palavra entra mais fundo, o descarrego limpa mais fundo, e o coração se quebra onde antes era só pedra.
O problema é quando o povo acha que tem que repetir o ritual do outro pra funcionar. Umbanda num precisa fazer igual, fio. Umbanda precisa entender o movimento espiritual por trás daquilo tudo e usá isso pra caridade. A Páscoa é um exemplo: num é pra botá guia de paletó e dar sermão com Bíblia na mão. É pra entender que o povo tá sentindo vontade de recomeçá. E é aí que nóis entra, com nossa pemba, com nosso ponto, com nosso axé.
Cristo? Sim, velho conhece. Oxalá? Conhece também. Mas num confunde as coisa. Cristo é espírito grande, mestre de amor, que ensinou a perdoá até quem cravô o prego. Oxalá é força pura da fé, da paz, da obediência divina. Às vez se encontram, às vez se misturam, porque no alto tudo é um... mas aqui embaixo tem que saber usá cada força no seu lugar, senão vira confusão.
A data é só uma casca. O que importa é o miolo: a vibração que se cria, a intenção que se firma, o campo que se abre. Se o povo quer nascer de novo, fio... então o terreiro tem que ser o útero. A gira tem que ser o parto. O guia tem que ser parteiro. E o filho tem que sair dali diferente do que entrou.
Entonce, meu fio... Páscoa na Umbanda? Só se for no coração. Só se for no axé. Só se for pra serví.
E se for pra isso, pode chamá o velho... que eu venho, sim.
*Saravá*