Dr Fernando Valério

Dr Fernando Valério Médico, Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista. Especialista em doença celíaca e glúten

Há alguns dias, o bioquímico e pesquisador David Baker recebeu o prêmio Nobel de Química. Ele e sua equipe descreveram u...
03/11/2024

Há alguns dias, o bioquímico e pesquisador David Baker recebeu o prêmio Nobel de Química. Ele e sua equipe descreveram um método para transformar a estrutura física das proteínas.
E o que isso tem a ver com doença celíaca? TUDO!
O glúten é uma proteína indigerível e imunogênica (gera resposta imunológica). Poder alterar a estrutura desta proteína é ter a capacidade de tornar o glúten menos agressivo, e desestimular a resposta inflamatória e autoimune que ele causa nos pacientes com doença celíaca.
No momento, há um medicamento chamado TAK 062 (Laboratório Takeda) desenvolvido a partir destes estudos e que poderá ser aplicado no tratamento da doença celíaca. O TAK 062 está em fase intermediária de estudos clínicos (fase 2, de um total de 3 fases), e tem por objetivo degradar os peptídeos tóxicos (principalmente, a gliadina) do glúten, tornando-os inócuos e evitando a resposta imunológica.
Em teste com voluntários sadios, o TAK 062 degradou 97 a 99% dos peptídeos do glúten após ingestão de 1 a 6 gramas desta proteína, 20 a 65 minutos após a ingestão. No entanto, observou-se que em pacientes com doença celíaca, a ingestão de 50mg de glúten diárias por 3 meses (desafio do glúten) trouxe a diminuição das vilosidades intestinais (atrofia) em alguns pacientes. Também se observou a presença de resíduos de glúten intactos, e que e deveriam ter sido degradados, nos fluidos gástricos de alguns pacientes.
O TAK 062 é uma enzima promissora, mas, o seu efeito protetor continua a ser pesquisado nos estudos clínicos. Este medicamento tem a possibilidade de ser usado de maneira complementar a outros tratamentos, principalmente, a dieta.
E, f**a o ALERTA! Há hoje alguns produtos em farmácias que teriam a capacidade de quebrar a molécula do glúten. Isso é falso! Estes produtos NÃO são capazes de proteger os pacientes com doença celíaca. Não comprem e não utilizem estes produtos. Até o momento, NÃO há medicamentos disponíveis para a doença celíaca, e o único método de tratamento com resultados ef**azes, ainda é a dieta completamente isenta de glúten.

A doença celíaca é uma doença autoimune, genética e desencadeada pela ingestão de glúten. Para que a doença se desenvolv...
29/09/2024

A doença celíaca é uma doença autoimune, genética e desencadeada pela ingestão de glúten. Para que a doença se desenvolva, há um mecanismo imprescindível: que a mucosa intestinal (duodeno) se inflame e que gere atrofia das vilosidades intestinais.
E, se por alguma razão o quadro não se completar? Se a doença não terminar de encaixar todas as peças? Se houver alteração dos anticorpos, comprometimento genético, até algum grau de inflamação, mas SEM ATROFIA da mucosa intestinal?
Sim, este quadro existe, e corresponde a 20% de todos os casos de doença celíaca. Esta é a DOENÇA CELÍACA POTENCIAL!
A primeira descrição deste evento ocorreu em 1993. Atualmente, devido à maior conscientização sobre a doença (mas, ainda falta muito!), e com análises de anticorpos em exames de triagem, a doença potencial se tornou mais visível. O quadro clínico pode variar de assintomático até a presença de sintomas moderados a intensos. Mas, para que este diagnóstico se confirme, é preciso ter certeza de que as biópsias foram realizadas em locais e número corretos, e esta análise médica deve ser muito rigorosa. Se houver dúvida, repita os exames e/ou reanalise o material biopsiado.
E agora, tratar ou não tratar? Dieta livre ou dieta sem glúten? Há sempre muita dúvida sobre a doença celíaca potencial, mas a regra é que pacientes sintomáticos (intestinais e extra-intestinais) façam dieta sem glúten. Há vários estudos relevantes mostrando que esta conduta previne sintomas, diminui anticorpos e recupera uma possível inflamação. Um estudo publicado há 1 mês e apresentado no último Simpósio Mundial sobre a doença, mostrou que a dieta sem glúten em pacientes sintomáticos gerou benefícios em 88% dos casos.
E nos casos assintomáticos? Nestes casos, a presença da dieta livre e com glúten é um risco? Estudos com duração de 9 a 10 anos mostraram que apenas 25 a 34% destes casos evoluíram para a doença celíaca clássica, com atrofia da mucosa. Neste estudo recém publicado, foram acompanhados 1010 pacientes com a forma potencial, e 33% destes casos evoluíram para a doença celíaca. A dieta desnecessária pode trazer maior sensibilidade a ingestão ocasional de glúten e todas a complicações de emocionais e sociais de uma dieta restritiva.
Aos profissionais, é preciso ter calma ao encontrar estes casos, ter critérios de tratamento, indicar a dieta de maneira precisa e fazer um acompanhamento consciente.

Quando uma pessoa é diagnosticada com doença celíaca, logo no início desta nova jornada, descobre algo muito desafiador....
01/09/2024

Quando uma pessoa é diagnosticada com doença celíaca, logo no início desta nova jornada, descobre algo muito desafiador. Terá que ensinar e falar sobre a doença, em vários momentos, com várias pessoas e em vários lugares.
Por isso, costumo dizer que o paciente celíaco é um "palestrante".
No cenário atual, ainda há muita falta de informação, carência de profissionais capacitados sobre a doença e um consequente e monstruoso subdiagnóstico. Mesmo em países mais desenvolvidos e com preocupação maior sobre a doença, somente 15% dos pacientes têm o diagnóstico.
Por isso, os pacientes e seus familiares, além de cuidarem de suas saúdes, desempenham um papel relevante. O de ensinar! Fazem parte de uma cadeia de compartilhamento de informações com toda a sociedade. Precisam educar a própria família, colegas de trabalho, a escola dos filhos, os restaurantes, os hotéis e as companhias aéreas, por exemplo. Mais que isso, precisam educar os próprios médicos, nas mais diversas especialidades.
Mas, isso cansa, traz angústia, traz frustrações, traz medo. Nem sempre queremos nos expor, mostrar que temos algo diferente, nos sentir frágeis. E, não é fácil ouvir "não se preocupe, não tem leite", "não pode nem um pouquinho?"! Para quem não tem a doença, parece um comentário tolo, mas, para quem convive com ela, pode ser muito doloroso e traz a sensação de que não progredimos.
Esta é a razão de precisarmos de uma rede de apoio para o paciente celíaco. Os familiares próximos, profissionais da saúde, ambientes de trabalho, restaurantes, mercados, as indústrias de alimentos e farmacêuticas, as associações de pacientes, precisam zelar pela segurança destas pessoas, precisam ter empatia e acolhimento.
Como médico, entendo todos estes aspectos emocionais que os pacientes vivem. Mas, também tenho certeza de que preciso incentivá-los a "palestrar", que sejam generosos e que persistam. Ninguém melhor que a própria comunidade para informar e aumentar a rede de conhecimento em vários ambientes diferentes.
Tenho certeza que, como profissionais, precisamos fazer consultas detalhadas, tirar todas as dúvidas, compartilhar sempre o que estudos mais recentes. Precisamos fornecer habilidades para que esta comunidade esteja protegida, acolhida e capacitada para tornar a doença celíaca um motivo de atenção para a toda a sociedade.

A doença celíaca (DC) é a doença autoimune mais prevalente do trato digestivo. Mas, isto não quer dizer que seja a mais ...
24/08/2024

A doença celíaca (DC) é a doença autoimune mais prevalente do trato digestivo. Mas, isto não quer dizer que seja a mais diagnosticada! Uma das razões é que a DC se apresenta de várias formas, trazendo imensas armadilhas diagnósticas.
Para mostrar o quanto este diagnóstico é desafiador, vou contar a "história celíaca" da família da minha esposa. Até o momento, nós temos quatro parentes dela diagnosticados com a doença, mas com três apresentações em exames diferentes!
A primeira que diagnostiquei foi uma tia, aos 68 anos. Ela apresentava um quadro intenso de diarreia e perda de peso. Ela achava que estava com câncer de intestino! Não era o caso, felizmente. Ela já tinha histórico de dermatite, psoríase, neuropatia periférica, artrite e quadros neurológicos. Esta tia apresentava um diagnóstico clássico, com anticorpos alterados e inflamação com atrofia em duodeno. A lição aqui é ter a suspeita de que a doença existe, estar atento para sintomas e doenças relacionadas, e jamais ser preconceituoso quanto a idade dos pacientes.
Em seguida, diagnostiquei o primo da minha esposa, filho desta Tia. Ele também apresentava um quadro clássico quanto aos achados de exames, assim como a mãe. A lição aqui é sempre se lembrar de que estamos falando de uma doença genética! A família deve ser avaliada, sempre.
Seguindo a nossa triagem, diagnostiquei o filho deste primo, sendo o primeiro neto diagnosticado. Mas, ele apresentava uma diferença! Anticorpos pouco alterados e alteração na biópsia apenas no bulbo do duodeno (uma parte do duodeno pequena e muito negligenciada). Apresentava o que chamamos de doença celíaca ultra curta, que é comum em jovens. Lembremos que em 13% dos casos, a atrofia só ocorre no bulbo duodenal, e se esta região não for analisada, não teremos um diagnóstico preciso. A lição é saber respeitar os critérios técnicos para realizar as biópsias, em número e locais. E, que esta orientação já deve sair do consultório médico, com prescrição detalhando as biópsias a serem realizadas.
Após alguns anos, uma neta desta tia, mas filha de outro primo (que não tem a doença) da minha esposa, passou a apresentar dores na região do estômago. Eu já havia solicitado a dosagem de anticorpos para ela quando a avó foi diagnosticada, e com resultados normais. Mas, como evoluiu com sintomas após alguns anos, solicitei uma endoscopia com biópsias de duodeno. O resultado foi uma grande atrofia e inflamação de duodeno, e a segunda neta foi diagnosticada com doença celíaca soronegativa (anticorpos normais, biópsias alteradas). A lição é saber reconhecer que a doença tem exceções diagnósticas, e insistir caso exista qualquer possibilidade de que ela esteja presente.
Esta é uma história muito representativa. Na mesma família, com o mesmo padrão genético, a doença mostrou várias possibilidades. Esta é a maior lição.
Hoje, todos estão bem e seguros. E, felizes em poder ajudar a comunidade com as suas histórias.

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma das alterações digestivas funcionais mais comuns, acometendo de 12 a 20% d...
18/08/2024

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma das alterações digestivas funcionais mais comuns, acometendo de 12 a 20% da população. Em alguns casos, a SII acompanha outras doenças, como a doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais, supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO) e quadros digestivos pós-infecciosos. Os sintomas mais comuns são dor abdominal, diarreia, constipação, aumento de gases e distensão abdominal.
O mecanismo da SII envolve aspectos neuro-digestivos, microbiota (flora intestinal) e dietéticos. Mais de 80% dos pacientes referem que alimentos podem desencadear ou exacerbar os sintomas.
O tratamento é realizado com dietas específ**as, medicamentos e controle de aspectos emocionais e de estilo de vida.
Em 2021, um importante grupo belga sugeriu que a dieta seria mais impactante que o uso de um antiespasmódico (otilônio) no controle dos sintomas (71% vs 61%). Também mostrou maior aderência ao tratamento dietético (94% vs 73%). Estas informações foram confirmadas em estudo publicado este ano por um grupo sueco. Comparou-se os resultados com tratamentos com dieta não fermentativa (Low FODMAPs), dieta baixa em carboidratos (low-carb) e medicamentos. A dieta Low-FODMAPs se mostrou ef**az em 76% dos casos, a dieta low-carb, em 71%, e os medicamentos em 58%. Por isso, a dieta deveria ser lembrada como uma importante ferramenta para o tratamento destes pacientes, desde o início do tratamento.
De qualquer forma, o tratamento medicamentoso e questões de estilo de vida e emocionais devem ser lembradas sempre. Como médico, eu acredito que combinar as opções terapêuticas trazem ótimos resultados, principalmente em momentos de crises e de sintomas muito exacerbados. Alguns guias de conduta publicados por sociedades médicas relevantes reforçam e indicam este tipo de conduta!
Além disso, as dietas também podem ter efeitos colaterais. A dieta Low FODMAPs é muito restritiva, pode trazer aspectos emocionais (fobia por alimentos), em uso prolongado e com restrições exageradas pode trazer consequências nutricionais e de flora intestinal. Em pacientes com diagnósticos prévios de transtornos alimentares, a introdução de dieta restritiva pode trazer consequências não desejadas. No caso da dieta low Carb, que é de aplicação mais fácil que a dieta low FODMAPs, os riscos estão no aumento de colesterol e triglicérides.
Como sempre, o mais importante é individualizar cada caso e trazer sempre o melhor para cada paciente! É preciso avaliar a eficácia, preferência dos pacientes, facilidade de implementação, aderência, custos e efeitos a longo prazo.

A doença celíaca é uma doença crônica, permanente, que exige dos pacientes e familiares atenção e cuidados por toda a vi...
04/08/2024

A doença celíaca é uma doença crônica, permanente, que exige dos pacientes e familiares atenção e cuidados por toda a vida. Obviamente, há uma enorme repercussão na qualidade de vida e que não pode ser negligenciada.
É importante que tentemos mensurar o impacto e o peso que a doença pode trazer. Por isso, há uma enorme preocupação sobre os dados da doença (prevalência), morbidade, mortalidade, qualidade da saúde e aspectos econômicos. Estes aspectos são relevantes tanto antes quanto após o diagnóstico.
Falamos de uma doença com vários sistemas afetados, com muitos sintomas e com enorme comprometimento na vida dos pacientes. Muitas vezes, há desconhecimento e preconceito (inclusive médico, infelizmente). A média de retardo de diagnóstico pode chegar de 10 a 13 anos, e muitas vezes profissionais desincentivam a busca por uma causa alimentar dos sintomas referidos! A persistência dos sintomas e a sensação de desamparo profissional por tempo prolongado são cruéis aos pacientes.
Quanto maior o tempo sem diagnóstico, maiores são as chances de complicações e seus sintomas associados. Exemplos são a infertilidade, osteoporose, câncer, alterações neurológicas e doenças autoimunes. O diagnóstico tardio é um dos maiores flagelos na qualidade de vida dos pacientes com doença celíaca.
Quando vem o diagnóstico, outros aspectos entram em cena. Mas, nada é mais impactante que a dieta sem glúten. É uma dieta restritiva, mais cara, menos disponível, socialmente desafiante, que pode trazer repercussões nutricionais e metabólicas. Há questões afetivas com as comidas e restrições alimentares impactam fortemente! Além disso, a necessidade de se estar permanentemente vigilante sobre a dieta e seus riscos traz enormes repercussões psicológicas e hipervigilância.
Há um estudo clássico em que pacientes com doença celíaca referem ter qualidade de vida melhor do que pacientes com insuficiência renal com necessidade de diálise. Mas, pior do que pacientes que apresentam síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, retocolite ulcerativa, diabetes e insuficiência cardíaca. Estes dados reforçam o que signif**a a doença celíaca para os pacientes!
Outro ponto é que 30 a 50% dos pacientes podem manter algum tipo de sintoma, mesmo com a introdução da dieta e exames normais (anticorpos e biópsias). São os celíacos não-responsivos. A sensação de que se esforçou, restringiu muitos aspectos da vida, mas ainda convive com sintomas, é realmente frustrante para estes pacientes. Além disso, a persistência de sintomas é o maior motivo de custos financeiros pós-diagnóstico.
Um dado interessante é que crianças no início da infância lidam melhor com a doença. Ao contrário, adolescentes são mais vulneráveis. Por isso, o diagnóstico precoce é tão fundamental. Países com maior preocupação sobre a doença também favorecem o ambiente para melhor qualidade de vida.
Precisamos sempre conscientizar sobre a doença, melhorar a formação médica, evoluir em legislações e continuar os estudos sobre medicamentos.
Mais do que tudo, precisamos acolher!

Ao diagnóstico, os pacientes com doença celíaca recebem a orientação de que não devem comer glúten. Com o amadurecimento...
30/06/2024

Ao diagnóstico, os pacientes com doença celíaca recebem a orientação de que não devem comer glúten. Com o amadurecimento e melhor entendimento sobre a doença, passam a aprender que traços e mínimos contatos com o glúten também trazem sintomas e podem manter a doença ativa.
Infelizmente, em alguns momentos, pode haver a ingestão ou contaminação de glúten, de maneira inadvertida e esporádica. A vida real não é fácil, com desafios e armadilhas. O glúten está por todo canto! Mas, é preciso entender o real impacto destes momentos de contato com o glúten. Muitas vezes, pacientes se contaminam em uma viagem e querem realizar uma endoscopia na semana seguinte para avaliarem o intestino. Não é assim que funciona! A doença tem uma dinâmica que precisa ser entendida.
Imagine um jogo de tabuleiro em que precisamos avançar as "casas" para ganharmos. Na contaminação cruzada esporádica, o paciente celíaco não "volta para o começo do jogo", e sim, "perde a rodada". Mas, se persistir na contaminação ou ingestão com frequência, com certeza terá problemas e não conseguirá progredir no jogo.
Quando há uma contaminação cruzada, os linfócitos intestinais liberam uma substância inflamatória chamada Interleucina 2 (IL2), logo após a ingestão. Após 2 a 4 horas, a concentração da IL2 já é 4 a 15 vezes maior que o normal, trazendo sintomas bastante importantes. Mas, a IL2 não é capaz de causar atrofia intestinal! Ela produz sintomas, e após uma semana de ingestão contínua, a sua concentração no sangue começa a cair.
Neste momento, caso a contaminação ou ingestão de glúten persistam, começa um processo crônico. Após 15 dias ingerindo glúten, principalmente em quantidades maiores, já conseguimos perceber células inflamatórias nas vilosidades intestinais. Após 30 dias, os anticorpos já passam a ser identif**ados na corrente sanguínea. Este é o mecanismo de atrofia intestinal!
Ou seja, contaminações esporádicas e raras, não trazem sequelas crônicas no controle da doença. Mas, trazem muitos sintomas, e devem ser SEMPRE evitadas! Por outro lado, a contaminação ou ingestão frequentes são capazes de impedir a melhora clínica e recuperação intestinal dos pacientes com doença celíaca, mesmo em mínimas quantidades. Tirar uma nota baixa, muito ocasionalmente, para um aluno que só tira nota 10, trará desconforto, mas não o reprovará. Mas, persistir com notas baixas, com certeza lhe fará ter problemas para passar de ano!

A doença celíaca (DC) é uma doença complexa e crônica, com alta prevalência em todo o Mundo (1%), com diagnóstico tardio...
02/06/2024

A doença celíaca (DC) é uma doença complexa e crônica, com alta prevalência em todo o Mundo (1%), com diagnóstico tardio e necessidade de acompanhamento. Há um peso econômico relevante que vai muito além dos custos da dieta.
As consequências financeiras da doença celíaca podem ser divididas em 3 perspectivas: pessoais, sistemas de saúde e para a sociedade.
No aspecto pessoal, pensamos nos custos financeiros que a dieta sem glúten pode trazer. O aumento dos custos de alimentação variam de 140% a 330%, dependendo do país. Obviamente, em classes sociais menos abonadas, este impacto é ainda maior. A DC já traz consequências à qualidade de vida, com exclusão social, medos, depressão e ansiedade. Estar financeiramente vulnerável, piora ainda mais este cenário.
Alguns países apresentam sistemas de ajuda e reembolsos relacionados à compra de produtos sem glúten, mas não é o nosso caso. Argentina, Canadá, Grécia, Reino Unido, Itália, Noruega, Suécia e Estados Unidos são exemplos (ajuda variando de 50 dólares a 150 euros).
Estudos mostram que a boa orientação nutricional reduz os custos em 54%. No entanto, más escolhas trazem aumento de carências nutricionais, ganho de peso e síndrome metabólica. Os alimentos industrializados GF não são fortif**ados, contendo menos fibras, vitaminas, minerais e proteínas. Além disso, têm maior índice de gorduras e açúcares. A suplementação de nutrientes e cuidados médicos destas consequências médicas também trazem custos.
O segundo aspecto são os custos nos sistemas de saúde. No período pré-diagnóstico, há um custo relacionado à busca de um diagnóstico e medicamentos para controlar sintomas. O custo nestes sistemas aumenta 1,34 a 2,75 vezes em estudos realizados na Suécia e Estados Unidos. Após o diagnóstico, o custo elevado também se mantém, principalmente devido às consultas de acompanhamento (55 a 65% dos custos para os sistemas de saúde). O maior motivo para isso é que 30 a 50% dos pacientes mantêm sintomas mesmo após a retirada do glúten da dieta (pacientes não-responsivos).
O terceiro aspecto, é a perda de produtividade, que é um custo indireto, mas presente! A incapacidade de ir ao trabalho/escola (absenteísmo) e a baixa produtividade nestes locais (presenteísmo), trazem impacto para o indivíduo, famílias e sociedade. O absenteísmo profissional é 1,5 vezes mais presente em pacientes com a DC. Até mesmo quando pais levam seus filhos a uma consulta ou para realizar exames, pode haver absenteísmo profissional e escolar. O retardo no diagnóstico e comorbidades associadas são as causas de baixa produtividade e faltas.
A doença celíaca traz consequências financeiras para todos os segmentos. Pensar e se preocupar com isso faz parte de uma sociedade mais madura em relação à doença.

A doença celíaca (DC) é uma doença autoimune com diagnóstico e cuidados desafiadores. Há um abismo entre o número de pes...
26/05/2024

A doença celíaca (DC) é uma doença autoimune com diagnóstico e cuidados desafiadores. Há um abismo entre o número de pessoas que têm a doença e quantas estão diagnosticadas. Além disso, muitos pacientes persistem com sintomas, mesmo após o diagnóstico. Uma doença digestiva funcional, chamada Síndrome do Intestino Irritável (SII), colabora muito para que isso aconteça!
De acordo com dados apresentados pela Celiac Disease Foundation (EUA), através de estudo com dados dos Estados Unidos, Espanha, Itália e Alemanha, 80 a 87% dos pacientes foram diagnosticados porque apresentavam sintomas. Mas, nem sempre a doença celíaca foi a primeira opção diagnóstica para justif**ar estes sintomas! Muitas vezes, outras doenças foram "responsabilizadas". Este estudo também mostra que em 64 a 84% dos erros de diagnóstico em relação à doença celíaca, a Síndrome do Intestino Irritável (SII) foi o diagnóstico mais comum, seguida de intolerância à lactose (23 a 32%) e refluxo gastroesofágico (8 a 18%).
Por isso, em seu guia de conduta sobre a SII, o American College of Gastroenterology indica que TODO paciente com diagnóstico de SII (principalmente nos casos com diarreia) deve ser avaliado para o possível diagnóstico de doença celíaca. A SII é uma doença digestiva funcional e causa sintomas como dor abdominal, aumento de gases intestinais, diarreia, constipação, dispepsia, dores de cabeça, fadiga, dores musculares e fadiga. Estes também são sintomas da DC, o que traz confusão diagnóstica.
A incidência da doença celíaca na população geral é de 1%. Mas, quando procuramos a doença em pacientes com diagnóstico prévio de SII, este número sobe para 5 a 9%. Precisamos nos lembrar de testar os pacientes com SII para a DC!
Por outro lado, sabemos que após o diagnóstico da DC, mesmo com exames normais e com dieta rigorosa, 30 a 50% dos pacientes persistem com sintomas! É o que chamamos de DOENÇA CELÍACA NÃO-RESPONSIVA. Infelizmente, nem sempre os sintomas são controlados somente com a exclusão do glúten da dieta. A SII é uma das principais causas para este quadro. Estudo internacional (EUA e Suécia) muito recente mostrou que a SII é 3 vezes mais comum em pacientes com DC no ano do diagnóstico. E, que na primeira década após o diagnóstico, a presença de SII ainda é 2 vezes maior na população com doença celíaca.
Profissionais que desejam diagnosticar e acompanhar pacientes com doença celíaca devem conhecer e estudar a SII com profundidade. É preciso ir além do estudo da DC quando se quer ajudar a comunidade com a doença celíaca. Isso é fundamental para aumentarmos o número de diagnósticos da doença e para um acompanhamento com melhores resultados e melhor qualidade para estes pacientes.

A doença celíaca é uma afecção cheia de detalhes, com apresentação clínica variada e com muitas armadilhas.Todas estas c...
13/04/2024

A doença celíaca é uma afecção cheia de detalhes, com apresentação clínica variada e com muitas armadilhas.
Todas estas características trazem dificuldades para o diagnóstico da doença. De cada 7 pessoas com doença celíaca, apenas UMA sabe que tem a doença! Há um retardo médio no tempo de diagnóstico de 4 a 13 anos, após o início dos sintomas. Um estudo mostra que 5 a 13% dos pacientes com doença celíaca já haviam realizado pelo menos uma endoscopia na vida antes do diagnóstico, o que sugere uma "oportunidade perdida"!
O diagnóstico da doença é realizado através da dosagem de anticorpos e confirmado através de biópsias de duodeno. Mas, nem sempre isso é tão simples. Há algum tempo sabemos que alguns pacientes (13%) apresentam alterações apenas em uma pequena área do duodeno chamada BULBO DUODENAL. Esta é a primeira parte do intestino delgado, e faz a transição entre o estômago e o duodeno. É como se fosse um "hall" de entrada de um apartamento, mas que já faz parte do imóvel! Muitas vezes, esta pequena área é banalizada e esquecida no momento do diagnóstico.
Atualmente, há a descrição de um novo subtipo de doença celíaca denominada de ULTRA-CURTA ("ultra-short), que pode apresentar diagnóstico ainda mais difícil, com sintomas mais discretos, mas com os mesmos riscos caso a dieta sem glúten não seja seguida.
A doença celíaca ultra-curta se caracteriza pela presença de alterações em anticorpos e alterações na mucosa (inflamação e atrofia de vilosidades), apenas no bulbo duodenal. è preciso se lembrar de que esta área também merece biópsias!
A apresentação clínica deste subtipo da doença se caracteriza pelo acometimento de pessoas mais jovens, com alterações de anticorpos mais discretas (1,8 vezes o valor normal vs 12,6 vezes na forma clássica), melhora mais rápida dos níveis de anticorpos, menor carência de ferro (22 vs 42%) e ácido fólico, menor incidência de diarreia e anemia, menos dispepsia e refluxo gastroesofágico, menos letargia, e aspectos endoscópicos mais discretos.
Após o início do tratamento, a evolução e melhora dos sintomas, segue o mesmo padrão da forma clássica.
Infelizmente, devido a menor intensidade de sintomas, os pacientes com doença celíaca ultra-curta tendem a seguir a dieta com menos rigor. Devemos sempre reforçar os riscos deste comportamento!
Um conselho muito importante é que já conste no pedido de endoscopia que o bulbo duodenal deve ser submetido a pelo menos duas biópsias. Em 9,7% dos casos de doença celíaca ultra-curta, biópsias de bulbo mostraram que uma das amostras estava normal! Fazer apenas uma biópsia não é suficiente, e não fazer qualquer biópsia, um erro grotesco.
Se a doença celíaca ultra-curta é realmente um novo subtipo da doença ou se é apenas a ocorrência de um diagnóstico mais precoce, ainda precisaremos entender melhor.
Se diagnosticar a doença já era um desafio, precisamos estar ainda mais atentos! As armadilhas estão por todos os lados!

Sabemos que 40% da população mundial sofre com sintomas relacionados a quadro digestivos funcionais, principalmente a sí...
23/03/2024

Sabemos que 40% da população mundial sofre com sintomas relacionados a quadro digestivos funcionais, principalmente a síndrome do intestino irritável (SII) e dispepsia funcional. Nestes casos, os pacientes não apresentam alterações em exames, mas apresentam muitos sintomas digestivos. Os mais comuns são dor de estômago, empachamento, refluxo gastroesofágico, náuseas, dor abdominal, diarreia, constipação, aumento de gases intestinais, urgência para evacuar e sensação de evacuação incompleta.
O mecanismo principal nas doenças digestivas funcionais é a falta de bom relacionamento entre o sistema nervoso entérico e o trato digestivo. Atualmente, os quadros digestivos funcionais são denominados de "desordem da interação cérebro-digestiva".
Alterações de estilo de vida são enormes desencadeantes, sendo o gatilho para o surgimento de sintomas em pelo menos 60% dos casos.
Um estudo recém-publicado (2024), com 64000 pessoas, mostrou que nunca ter fumado, manter atividade física regular e ter ótima qualidade de sono, seriam protetores para o desenvolvimento destes quadros e deveriam ser pensados como uma forma de prevenção.
Uma outra pesquisa, que incluiu pesquisadores de diversos países (2023), confirmou que a baixa qualidade de sono é um predisponente para o surgimento de sintomas em pacientes com SII. Os distúrbios do sono ocorrem em 37% dos pacientes com SII. Na média, estes pacientes dormem mais, mas com sono de pior qualidade e menos recompensador. A qualidade de sono ruim, demorar para dormir e acordar durante o sono se relacionam a episódios de dor abdominal. Além disso, quadros de depressão e ansiedade, também relacionados às doenças digestivas funcionais, pioram com alterações de sono.
O exercício físico traz o mesmo impacto. Estudo australiano (2020) com 3100 pessoas, mostrou que sintomas gástricos estavam mais presentes em pessoas que andavam menos ou tinham baixa frequência para a realização de atividades físicas.
Ter um estilo de vida saudável é fundamental para que pacientes com quadros digestivos funcionais se mantenham bem, sem crises e com melhor qualidade de vida. Estudos clínicos sérios e responsáveis comprovam isso!
Não durma no ponto! Durma e exercite-se com boa qualidade!

A doença celíaca é uma das doenças mais subdiagnosticadas que conhecemos. Ela afeta 1% da população, mas infelizmente, a...
16/03/2024

A doença celíaca é uma das doenças mais subdiagnosticadas que conhecemos. Ela afeta 1% da população, mas infelizmente, apenas 1 em cada 7 pacientes celíacos (15%) sabe que tem a doença. Muitos celíacos mantêm sintomas e aumentam os riscos de desenvolverem outros problemas de saúde porque não foram diagnosticados.
Um dos maiores motivos para isso é que há uma estigmatização dos sintomas da doença. Para se diagnosticar a doença celíaca é preciso conhecer a amplidão de sintomas que ela causa e evitar qualquer tipo de preconceito sobre ela.
Vamos a alguns exemplos!
A diarreia é considerada um sintoma fundamental da doença. Não é verdade! Apenas 20% das crianças e 40% dos adultos apresentam este sintoma quando são diagnosticados.
Todo celíaco tem desnutrição e está abaixo do peso. Também não! No momento do diagnóstico, 40% dos pacientes estão com sobrepeso ou obesidade.
Só crianças são celíacas. Na verdade, atualmente a maioria dos diagnósticos é realizado em pessoas entre 35 e 55 anos de idade. E muitas vezes, os sintomas extra-intestinais estão mais presentes do que os digestivos.
Não tenho sintomas e não tenho parentes celíacos, não posso ser celíaco. Errado! Sabemos que 5% dos celíacos são assintomáticos, principalmente os parentes de pacientes que fazem triagem para a doença. E que 50% dos pacientes desconhecem algum familiar celíaco no momento do diagnóstico.
Já fiz dosagem de anticorpos, e não tenho doença celíaca. Na verdade, 2 a 5% dos pacientes jamais terão estes exames alterados. O diagnóstico será feito exclusivamente pela endoscopia digestiva e biópsias de duodeno.
E, por último, achar que doença celíaca é uma moda de comida, e não uma doença. Neste caso, não acho que seja uma questão somente de preconceito e ignorância sobre a doença, mas sim uma covardia com os pacientes e seus familiares.
Precisamos encontrar estas pessoas não diagnosticadas, para ajudá-las e lhes garantir saúde e segurança. Esta é uma das nossas inúmeras missões!

Endereço

Rua Afonso Braz, 900 Cj. 164
São Paulo, SP
04511.001

Notificações

Seja o primeiro recebendo as novidades e nos deixe lhe enviar um e-mail quando Dr Fernando Valério posta notícias e promoções. Seu endereço de e-mail não será usado com qualquer outro objetivo, e pode cancelar a inscrição em qualquer momento.

Entre Em Contato Com A Prática

Envie uma mensagem para Dr Fernando Valério:

Compartilhar