
31/07/2025
Essa frase, formulada a partir do conceito de “problema da dupla empatia”, criado pelo sociólogo e pesquisador autista Dr. Damian Milton (2012), questiona a visão tradicional de que pessoas autistas seriam unicamente “deficientes em empatia”. Milton propôs que as dificuldades de entendimento e conexão emocional entre pessoas autistas e neurotípicas são bidirecionais: assim como autistas podem ter dificuldade em ler pistas sociais de neurotípicos, neurotípicos também frequentemente falham em compreender as formas únicas de comunicação, expressão e experiência emocional de pessoas autistas.
Esse conceito revoluciona a maneira como pensamos a interação social no TEA. Em vez de enxergar a empatia como um “déficit autista”, passa-se a considerar que o problema decorre de diferenças nos estilos de percepção, cognição social e comunicação — diferenças que podem gerar mal-entendidos de ambos os lados. Por exemplo, um autista pode não perceber sinais sociais sutis usados por neurotípicos, enquanto um neurotípico pode interpretar como frieza comportamentos de autorregulação autística, como evitar contato visual ou se afastar em momentos de sobrecarga sensorial.
Essa abordagem mais equilibrada e relacional ajuda a combater estigmas históricos que colocavam todo o “ônus” da adaptação no indivíduo autista. Em vez disso, incentiva intervenções que promovam mediação, respeito mútuo e ajustes ambientais, favorecendo a construção de pontes de comunicação que beneficiem ambos. Reconhecer a dupla empatia também fortalece a inclusão, pois valida a ideia de que todas as pessoas — autistas ou não — têm responsabilidade em buscar compreensão e formas de interação mais acessíveis.