Mariana Sávio Consultório de Psicanálise

Mariana Sávio Consultório de Psicanálise Trilhando o caminho da psicanálise de orientação Lacaniana, desde 2015. Atuo em consultório particular recebendo aqueles que desejam iniciar uma análise.

Quem me conhece sabe o quanto considero fundamental o livro da Izildinha Nogueira. Por isso, em parceria com a  e a  , v...
25/07/2025

Quem me conhece sabe o quanto considero fundamental o livro da Izildinha Nogueira. Por isso, em parceria com a e a , vamos dar início a um grupo de estudo presencial aqui em Mogi das Cruzes, com leitura compartilhada e discussão desse texto tão potente.

Se você é de Mogi ou da região e quer estudar psicanálise a partir das questões raciais, refletindo sobre o lugar do sujeito negro, os efeitos do racismo na constituição psíquica e os atravessamentos históricos do discurso, esse convite é pra você.

Se te interessou, me manda mensagem.

Será um espaço de troca, escuta e aprofundamento teórico. Vem com a gente?

Tenho pensado nos modos sutis com que a lógica do desempenho se infiltra. Não entra pela porta da frente, vem de mansinh...
23/07/2025

Tenho pensado nos modos sutis com que a lógica do desempenho se infiltra. Não entra pela porta da frente, vem de mansinho, disfarçada de cuidado, de zelo, de vontade de fazer bem.

De repente, estamos marcando o tempo da vida por métricas invisíveis: quantas sessões, quantos cursos fiz, quantos cursos dei, quantos conteúdos, quantas provas de que estamos à altura do que se espera de um analista nas redes sociais.

E não se trata apenas da sociedade, essa entidade tão fácil de culpar,
mas de como a deixamos nos habitar.
De como, mesmo na escuta, mesmo no consultório, mesmo no que deveria ser intervalo,
nos tornamos vigilantes de nós mesmos.
Chefes de um eu que não pode parar. Que precisa render, performar, aparecer.

Quantas vezes me pego tentando estar à altura de algo que sequer tem nome?
Quantas vezes me vejo sustentando uma presença que aparenta firmeza,
quando, por dentro, o que há é cansaço acumulado e um silêncio que mal encontra lugar?
Esgotada, silenciada, cansada do próprio gesto de manter tudo em pé?

Até onde vai o desejo e onde começa o ideal?
Onde termina o que sou de verdade, e onde começa a voz do Outro que me cobra perfeição?

Talvez escrever isso seja uma forma de me lembrar:
que o ato analítico não se mede.
Que o tempo da clínica não se acelera.
Que há um valor em não saber, em não fazer, em simplesmente sustentar o vazio.

Às vezes, escrever é a maneira que encontro de sustentar o que escapa.
De não deixar que a lógica da performance tome tudo.
Até o que em mim ainda pulsa no tempo do desejo.
É só um pensamento que me atravessa,
como uma brisa que entra por uma fresta esquecida da janela.
E que, quem sabe, possa tocar alguém por aí também.

“Isso não é psicanálise, vocês não falam do lugar de psicanalistas, mas de historiadores, sociólogos, antropólogos.”Foi ...
16/07/2025

“Isso não é psicanálise, vocês não falam do lugar de psicanalistas, mas de historiadores, sociólogos, antropólogos.”

Foi isso que eu ouvi. Foi o que eu li. Que ao trazer a questão racial para o campo da teoria, ao interrogar a função da branquitude nos dispositivos de saber, ao nomear a estrutura do racismo como algo que se inscreve no sujeito pela via do signif**ante, eu deixava de fazer psicanálise.

“Falar de raça não é falar de psicanálise”, disse, com tranquilidade, uma psicanalista branca em uma mesa na França. E ali, naquele momento, o que se dizia não era apenas uma opinião. Era um gesto de exclusão. Um corte. A tentativa de preservar a pureza de um campo às custas do apagamento de corpos e experiências que tensionam a universalidade imaginária que ainda sustenta esse discurso.

Mas então eu pergunto: eu não sou psicanalista?

Lacan nos ensina que o sujeito é um efeito do signif**ante, que não há sujeito fora do campo do Outro. O discurso, enquanto estrutura, organiza as posições possíveis para o desejo e comanda a distribuição do gozo. O desejo, portanto, não é livre: ele está inscrito numa gramática que nos antecede, que estrutura o laço social e que determina quem pode ocupar o lugar de sujeito e quem é reiteradamente colocado como objeto. Nessa gramática, o racismo não é um ruído, é um operador. O discurso colonial, articulado ao discurso do mestre e ao do capitalista, organiza o gozo por meio da segregação: fixa corpos, ordena lugares, estabelece quem fala e quem é falado, quem representa e quem é representado. É nessa trama simbólica que o sujeito racializado é capturado antes mesmo de falar, porque já foi nomeado, já foi signif**ado, já foi lido como diferença a ser domesticada.

Como então sustentar que o racismo não diz respeito à psicanálise?

Texto completo: https://open.substack.com/pub/marianasavio/p/eu-nao-sou-psicanalista?r=rwjyn&utm_campaign=post&utm_medium=web&showWelcomeOnShare=true

Ando pensando muito sobre esse tema, e as discussões nos grupos e nos espaços por onde tenho passado têm me provocado a ...
26/06/2025

Ando pensando muito sobre esse tema, e as discussões nos grupos e nos espaços por onde tenho passado têm me provocado a colocar essas ideias no papel. Há algo na experiência da escuta que não me sai da cabeça, especialmente quando penso nas vozes que parecem não ser plenamente ouvidas, ou, nas palavras de Lacan, naquilo que insiste em não se inscrever, essa parte do Real que retorna de forma repetida e incômoda. O racismo estrutural posiciona o sujeito negro em um lugar de exclusão simbólica, uma ausência de signif**antes capazes de representar e reconhecer plenamente sua experiência. Assim, o real da violência racial retorna de maneiras diversas: como silêncio, exclusão, sintomas, e formas de sofrimento que muitas vezes não se traduzem na linguagem.

Em muitos contextos, essa normalização do sofrimento não é apenas um mecanismo de defesa, mas uma forma de sobrevivência. Para muitos corpos negros, especialmente, seguir adiante signif**a calar, endurecer e silenciar a dor para não ser ainda mais atravessado por ela.

Mas o que acontece quando a psicanálise se depara com esse silêncio? Quando a queixa não vem? Quando o sofrimento não é nomeado? Há quem chame isso de resistência do paciente, mas talvez seja mais honesto dizer que é resistência do mundo. E, se o analista não estiver implicado, corre o risco de não escutar. Pior: de confirmar, pela omissão, a violência.

Texto na íntegra: https://open.substack.com/pub/marianasavio/p/quem-escuta-escuta-o-que?r=rwjyn&utm_campaign=post&utm_medium=web&showWelcomeOnShare=true

O corpo negro sempre foi marcado, por uma inscrição forçada. É um corpo que, desde a colonização, foi arrancado de sua h...
17/06/2025

O corpo negro sempre foi marcado, por uma inscrição forçada. É um corpo que, desde a colonização, foi arrancado de sua história e lançado no campo do Outro como objeto a ser possuído, disciplinado ou eliminado. O extermínio do povo negro não se dá apenas pelas armas, pela violência estatal, pelas balas que atravessam corpos nas favelas, nas estruturas que definem quem importa, quem é ouvido, quem pode existir com dignidade. Ele também opera de forma mais silenciosa, mas igualmente brutal, nas estruturas simbólicas que sustentam a vida social.

Esse extermínio simbólico pode ser observado nas instituições de saber, entre elas, as escolas de psicanálise. A lógica da exclusão se repete: corpos negros são escassos ou ausentes nas formações, nos lugares de fala, nas mesas de conferência, nos comitês editoriais, nas cadeiras de poder. Quando estão, muitas vezes são tolerados desde que silenciem sua diferença ou a transformem em performance assimilável e limitados a falar sobre sua negritude. Trata-se de uma forma de apagamento. Não é que não existam psicanalistas negros, mas que não são legitimados como tal. Seu saber é posto à prova, sua escuta é duvidada, sua presença é tida como exceção ou ameaça.

O que sustenta essa exclusão não é o acaso nem a suposta falta de qualif**ação, mas o pacto narcísico da branquitude, como já disse Cida Bento. Uma aliança tácita e persistente entre sujeitos brancos que, mesmo diante da possibilidade concreta de incluir profissionais negros, optam por mantê-los à margem, pois caso fosse ocontrário teriam de abrir mão de suas posições de destaque e previlégio. Esse pacto opera de forma perversa. Em vez de ampliar o campo simbólico da psicanálise, ele o restringe, mantendo os mesmos corpos brancos em evidência, ocupando os espaços de saber, prestígio e transmissão. O Outro da psicanálise, nesse cenário, se mostra também como o Outro racializado que barra, cala e exclui...

Texto na íntegra: https://marianasavio.substack.com/p/negro-invisivel-na-psicanalise

Há livros que não apenas contamos, mas que nos contam e O Duplo é um desses. Não é só a história de Golyádkin, um funcio...
06/06/2025

Há livros que não apenas contamos, mas que nos contam e O Duplo é um desses. Não é só a história de Golyádkin, um funcionário tímido e isolado que, de repente, se vê diante de um sósia idêntico, mas muito mais carismático e sedutor. É uma descida às profundezas do eu, onde a identidade se desfaz, e o que emerge é uma pergunta perturbadora: Quem sou eu diante do que não controlo em mim?

Na literatura, o tema do duplo costuma apontar para aquilo que queremos esconder: o indizível, o desejo, a parte que nos escapa. Em Golyádkin, esse encontro não é um mistério a ser resolvido é uma fissura. Dostoiévski não nos oferece respostas fáceis; pelo contrário, nos leva a sentir o desconforto de um sujeito que tenta desesperadamente manter uma unidade que nunca existiu.

A psicanálise ajuda a aprofundar essa leitura. Em Lacan, o eu é uma construção frágil, um efeito do olhar do outro. Golyádkin vê no seu duplo não apenas uma versão melhorada de si mesmo, mas um espelho cruel do seu fracasso. Não é à toa que o outro Golyádkin é mais sociável, mais leve, mais querido. O duplo é o desejo que ele nunca conseguiu encarnar, a parte que ele queria ser e, ao mesmo tempo, rejeita.

Literariamente, Dostoiévski tensiona o limite entre a realidade e a loucura. O narrador vacila junto com o personagem, deixando o leitor sem chão. A presença do sósia parece mais um sintoma do que uma pessoa real. Seria Golyádkin tentando dar corpo àquilo que ele não consegue simbolizar? Seria o outro uma tentativa de existir de outro modo, mas que, por ser insuportável, acaba em destruição?

Ao ler O Duplo, me vi atravessada por essa sensação de estranhamento. Quem nunca se sentiu um impostor diante do próprio desejo? Quem nunca percebeu que o maior inimigo é justamente o que há de mais íntimo? Talvez, como Golyádkin, a gente passe a vida tentando ser um eu que não dá conta de tudo o que somos.

E se o outro que tanto tememos for, no fundo, a nossa face mais verdadeira?

Raça, classe e gênero não são temas secundários – são estruturas que atravessam nossa existência, a sociedade e a clínic...
20/02/2025

Raça, classe e gênero não são temas secundários – são estruturas que atravessam nossa existência, a sociedade e a clínica. Ressonâncias nasce da necessidade de discutir essas questões sem superficialidade, deslocando certezas e ampliando os horizontes do pensamento.

Aqui, psicanálise, literatura, filosofia e outros saberes se entrelaçam, não para suavizar as diferenças, mas para criar interseções potentes. O que debatemos reverbera, ressoa, encontra eco nas práticas e nas escolhas que fazemos.

Se pensar é também um ato político, Ressonância é um espaço de implicação. As trocas estão abertas – porque certos debates não podem mais ser adiados.

Link do grupo do whats no post e no perfil.

Fiquei pensando sobre a que o  postou hoje. “Quando eu parei de ver histéricas e obsessivos e vi pessoas sofrendo às ceg...
17/02/2025

Fiquei pensando sobre a que o postou hoje. “Quando eu parei de ver histéricas e obsessivos e vi pessoas sofrendo às cegas… aí… só aí… me entendi analista.”

No início da caminhada na psicanálise, a gente se agarra às categorias. Histérica, obsessivo, psicótico, perverso. É reconfortante, dá uma ilusão de domínio. Como se, nomeando, soubéssemos de fato o que está ali. Mas o tempo – e a clínica – ensinam outra coisa.

O sujeito não cabe nos diagnósticos. O sintoma, por mais que tenha sua estrutura, é antes de tudo uma resposta singular, uma tentativa, um nó que se forma na relação com a linguagem, com o desejo, com a falta. O risco do analista, sobretudo no começo, é esquecer isso. Ficar tão atento às tipologias que não escuta a pessoa.

Isso não signif**a que identif**ar a estrutura não importa. Pelo contrário, ela é fundamental, pois marca o modo como cada sujeito se posiciona diante da falta, do desejo e do Outro. Um neurótico e um psicótico não fazem essa travessia da mesma forma. Lacan nos ensina que a estrutura determina a lógica do funcionamento psíquico, a relação com o signif**ante, com a castração e com o grande Outro. Mas identif**ar a estrutura não basta. O analista não está ali apenas para nomear, mas para escutar o que, dentro dessa estrutura, faz sintoma, faz impasse, faz sofrimento. Porque a teoria serve para orientar, não para tamponar o encontro com o sujeito.

Lacan diz que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, mas também ensina que a função do analista não é encaixar ninguém em categorias fixas. O que importa é o que escapa, o que insiste, o que retorna na fala do sujeito. E só quando passamos a escutar para além do rótulo, quando paramos de olhar para a clínica como um desfile de estruturas e vemos, ali, o sofrimento de alguém que busca dizer de si – só aí, talvez, a gente comece a entender o que é ser analista.

Porque não se trata apenas de saber sobre neurose ou psicose. Trata-se de sustentar um espaço onde o sujeito possa encontrar suas próprias palavras.

Há momentos na clínica em que o silêncio pesa mais do que qualquer palavra. O paciente fala, tropeça, corrige-se, ri de ...
14/02/2025

Há momentos na clínica em que o silêncio pesa mais do que qualquer palavra. O paciente fala, tropeça, corrige-se, ri de nervoso, tenta explicar melhor. Mas o que escapa? O que insiste ali, à revelia do que ele diz querer dizer?

O analista está presente, mas não de um modo que se confunda com as presenças ordinárias do mundo. Não é um amigo, não é um conselheiro, não é um espelho. Está ali, mas de um jeito que faz vacilar o que parecia sólido. Sua presença marca uma falta, uma ausência de resposta pronta, um vazio que devolve ao sujeito algo de sua própria pergunta. E é nesse jogo de presenças e ausências que o inconsciente se escreve.

Porque o inconsciente não é coisa escondida, não é mistério a ser desvendado. Ele se faz nos efeitos da fala, naquilo que ela deixa para trás, nos rastros que um signif**ante deposita sobre um corpo. Ele é a marca do encontro entre linguagem e sujeito, e nesse encontro o analista não é um espectador, mas parte da cena. Sua presença se inscreve, desloca, desestabiliza.

Por isso, não há inconsciente sem analista. Ou melhor, sem esse que se coloca ali para fazer furo, para apontar o que falta, para sustentar a deriva do sentido. Sua escuta não é passiva, é ato. E nesse ato, algo do inconsciente se refaz, se reinventa.

A cada sessão, a cada tropeço da fala, a cada momento em que o sujeito se encontra dizendo mais do que queria, é a presença do analista que permite que o inconsciente aconteça. Porque ele não é algo a ser revelado, mas algo que se produz — ali, entre a fala e o silêncio, entre o que se diz e o que escapa.

Escrevo porque a vida não basta.Há um excesso que escorre entre os dias, uma inquietude que pede forma, voz, permanência...
30/01/2025

Escrevo porque a vida não basta.
Há um excesso que escorre entre os dias, uma inquietude que pede forma, voz, permanência.
Escrevo para tocar o que escapa, para dialogar com o vazio que habita cada existência.
As palavras são minha revolta silenciosa — testemunhas de um mundo que nem sempre sei habitar.

Como os escritores russos, acredito que escrever é cavar fundo, até sangrar a alma.
Não há palavra que não seja vida vivida, seja no espanto, na dor ou na rara alegria.
Escrever é lançar âncora na tempestade, ainda que sabendo que o mar jamais se aquieta.

Escrever é escutar o mundo com outras margens.
Não desejo capturar verdades, mas deslizar por entre as frestas do indizível.
Carregar no papel a inquietação de quem sabe que nenhuma palavra é definitiva — todas falham, mas essa falha é vida que pulsa.

Escrever é uma maneira de se manter à deriva e, ainda assim, encontrar sentido.
É escutar mesmo quando o silêncio se impõe. Porque, no fundo, tanto na escrita quanto na clínica, trata-se disso: habitar o inacabado, entre silêncios e repetições, e seguir cavando — até onde a vida ainda insiste em dizer

A psicanálise nasceu sob a égide de um discurso europeu branco que, por muito tempo, ignorou as questões raciais. O inco...
29/01/2025

A psicanálise nasceu sob a égide de um discurso europeu branco que, por muito tempo, ignorou as questões raciais. O inconsciente, como articulador de desejo, trauma e subjetividade, foi tratado como um território supostamente neutro, descolado das implicações sociais e históricas que moldam a vida dos sujeitos. Contudo, o corpo racializado nunca foi invisível; ele sempre esteve presente, mesmo quando silenciado.

O silenciamento do corpo negro na clínica não é apenas uma ausência de palavras, mas uma presença marcada por olhares, fantasias e discursos que ressoam as estruturas ra***tas da sociedade. O sujeito negro carrega na pele uma memória de violência e exclusão que muitas vezes não encontra espaço para ser elaborada no setting analítico.

Em seu livro A cor do Inconsciente, Izildinha Batista nos convida que inclui o impacto do olhar ra***ta e a dimensão do corpo como campo pulsante de experiências raciais. A autora nos alerta sobre a necessidade de reconhecer que a branquitude, enquanto posição de poder, moldou o próprio discurso psicanalítico, tornando-o cego às manifestações psíquicas do racismo.

Nos encontros do nosso grupo de estudo, onde discutimos raça e o fazer do analista na clínica com pessoas racializadas, temos refletido sobre como romper com essa cegueira. Como analistas, não podemos nos permitir uma escuta inocente. Precisamos sustentar uma escuta crítica, que perceba as inscrições raciais na fala do paciente e no próprio lugar que ocupamos enquanto analistas.

A clínica com sujeitos negros demanda responsabilidade. É preciso desconstruir as fantasias de neutralidade para abrir espaço a uma escuta que acolha as vivências marcadas pelo racismo, sem reduzi-las a discursos patologizantes. A angústia que emerge na clínica precisa ser tratada com delicadeza, mas também com uma firme disposição ética para enfrentar os desconfortos que a questão racial nos impõe.

Nesse processo, a psicanálise se mostra viva e capaz de se reinventar, desde que seus praticantes se disponham a ouvir o inconsciente, e também os ecos de uma sociedade que ainda insiste em silenciar vozes negras.

Se inscreva aqui.
https://forms.gle/xPyeYpCsE7FJnidK9

Como é ser uma psicanalista negra? Essa pergunta nunca me foi feita diretamente, mas ecoa todos os dias na minha prática...
20/01/2025

Como é ser uma psicanalista negra? Essa pergunta nunca me foi feita diretamente, mas ecoa todos os dias na minha prática e na minha existência. No início, eu também não me fiz essa pergunta. Talvez porque acreditei, por algum tempo, que bastava escutar.
Mas, aos poucos, fui percebendo que a escuta também tem cor, que o consultório não é um espaço neutro e que minha presença – mulher negra, psicanalista – carrega histórias que antecedem minha voz e atravessam o que está aqui e o que f**a silenciado.
No início, a formação parecia me pedir outra pele. Um tom de voz mais baixo, uma postura mais “neutra”, um saber que não carregasse tanto da minha própria história, minha essência. Mas como ser neutro quando a pele e o racismo são tão presentes, tão pulsantes?
Ouvi tantas vezes que a psicanálise não tem cor, mas percebi, no silêncio entre as palavras, que há histórias que só podem ser escutadas quando detectamos o peso do racismo, o lugar de exclusão e a violência que atravessa o corpo. Porque muitas vezes não me senti ouvida quando analisante.
Você acredita que o racismo tem lugar no inconsciente?”, me perguntaram. Respondi: como não teria? O racismo é uma inscrição simbólica, um signif**ante que marca corpos e subjetividades, atravessando tanto o analisante o analista. Ele opera no campo do Outro, produzindo traumas, reforçando segregações e deixando rastros naquilo que nos constitui enquanto sujeitos do inconsciente.
Ser uma psicanalista negra é escutar, mas também me posicionar. É importante considerar que há dores que se repetem não só por questões individuais, mas porque pertencem a um sistema. É saber que a neutralidade, quando imposta, pode ser um pacto com o silêncio.
Com o tempo, entendi que minha pele é minha história e minha potência. Ela não me distancia do trabalho analítico; ela me permite ouvir além do que está dito, acolher o não-dito e sustentar espaços onde a singularidade do sujeito possa emergir, mesmo em meio às marcas coletivas.
Ser uma psicanalista negra é, para mim, mais do que um lugar de escuta. É um ato de resistência.

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São Paulo, SP

Horário de Funcionamento

Segunda-feira 08:00 - 21:00
Terça-feira 08:00 - 21:00
Quarta-feira 08:00 - 17:00
Quinta-feira 08:00 - 21:00
Sexta-feira 08:00 - 21:00

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