17/02/2025
Fiquei pensando sobre a que o postou hoje. “Quando eu parei de ver histéricas e obsessivos e vi pessoas sofrendo às cegas… aí… só aí… me entendi analista.”
No início da caminhada na psicanálise, a gente se agarra às categorias. Histérica, obsessivo, psicótico, perverso. É reconfortante, dá uma ilusão de domínio. Como se, nomeando, soubéssemos de fato o que está ali. Mas o tempo – e a clínica – ensinam outra coisa.
O sujeito não cabe nos diagnósticos. O sintoma, por mais que tenha sua estrutura, é antes de tudo uma resposta singular, uma tentativa, um nó que se forma na relação com a linguagem, com o desejo, com a falta. O risco do analista, sobretudo no começo, é esquecer isso. Ficar tão atento às tipologias que não escuta a pessoa.
Isso não signif**a que identif**ar a estrutura não importa. Pelo contrário, ela é fundamental, pois marca o modo como cada sujeito se posiciona diante da falta, do desejo e do Outro. Um neurótico e um psicótico não fazem essa travessia da mesma forma. Lacan nos ensina que a estrutura determina a lógica do funcionamento psíquico, a relação com o signif**ante, com a castração e com o grande Outro. Mas identif**ar a estrutura não basta. O analista não está ali apenas para nomear, mas para escutar o que, dentro dessa estrutura, faz sintoma, faz impasse, faz sofrimento. Porque a teoria serve para orientar, não para tamponar o encontro com o sujeito.
Lacan diz que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, mas também ensina que a função do analista não é encaixar ninguém em categorias fixas. O que importa é o que escapa, o que insiste, o que retorna na fala do sujeito. E só quando passamos a escutar para além do rótulo, quando paramos de olhar para a clínica como um desfile de estruturas e vemos, ali, o sofrimento de alguém que busca dizer de si – só aí, talvez, a gente comece a entender o que é ser analista.
Porque não se trata apenas de saber sobre neurose ou psicose. Trata-se de sustentar um espaço onde o sujeito possa encontrar suas próprias palavras.