
10/06/2025
Na minissérie Sereias, lançada pela Netflix, o que se apresenta como um drama psicológico sofisticado, emoldurado por casas de luxo e personagens controladas, logo se revela um terreno de ausências. A trama sugere ser uma crítica à performatividade do feminino em espaços de poder, mas evita o confronto com o que realmente sustenta tais estruturas: a origem dos traumas e as dinâmicas silenciosas de dominação.
Michaela (Julianne Moore), símbolo da mulher que venceu pelo autocontrole, vive encapsulada em uma persona intransponível. Simone (Milly Alcock), sua assistente, representa o feminino em busca de pertencimento — mas o preço é o silêncio. O mais intrigante, no entanto, é a figura do marido. Quase mudo, quase ausente, ele personif**a o verdadeiro canto da sereia: o masculino que, sem precisar agir, sustenta a arquitetura do sofrimento. Não seduz com palavras, mas com a estabilidade ilusória que oferece às mulheres que orbitam seu mundo.
A série evita mostrar o passado de suas personagens, apagando as marcas que as moldaram. O trauma é sugerido, mas nunca elaborado; a dor é coreografada, mas não simbolizada. Sem flashbacks, sem memórias, sem conflitos internos devidamente explorados, o drama se torna raso. F**a a sensação de que algo essencial foi silenciado — como tantas mulheres que, ensinadas a seduzir, acabam se afogando no desejo de serem vistas.
Sereias propõe um mergulho, mas teme a profundidade. E talvez seja exatamente aí que se revele: não como história sobre encantamento feminino, mas como crítica às estruturas que transformam mulheres em espectros de si mesmas.
Alessandra de Sá