Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Psicóloga/Psicanalista  Francinéia Fabrizzio Psicóloga / Psicanalista / Psicopedagoga /Supervisora/ Docente / Palestrante / Escritora / Idealizadora do Instituto Espaço Práxis.

Maternidade – O desencontro é a marca dessa relaçãoA maternidade nasce sob o signo do desencontro: entre o ideal de uma ...
17/09/2025

Maternidade – O desencontro é a marca dessa relação

A maternidade nasce sob o signo do desencontro: entre o ideal de uma mãe plena de amor incondicional e a experiência real de uma mulher atravessada por cansaço, medo, raiva e também amor. O mundo espera que, ao nascer o filho, nasça também um amor imediato, quase místico, sem espaço para tristeza ou saudade da vida anterior. Mas nenhuma forma de amor humano funciona assim. Como em qualquer relação, mãe e filho se constroem no tempo, entre aproximações e estranhamentos. O bebê real nunca é idêntico ao bebê sonhado, e é nesse intervalo que se funda a experiência materna.

Ainda hoje, a sociedade não admite que a mãe sofra com a chegada do filho. A frustração coletiva recai sobre ela em forma de culpa, raiva e julgamento, levando-a muitas vezes a acreditar que é uma “mãe ruim” por não sentir apenas coisas boas. Mas não se trata, necessariamente, de falta de amor pelo filho, e sim de desalinho com a própria maternidade com o peso simbólico e social de ser mãe. O modelo de perfeição materna, com famílias radiantes, casas impecáveis e filhos sempre comportados, segue sendo reproduzido, mas felizmente começa a ser questionado.

A mãe recebe desde cedo a marca de ser a principal responsável pelo desenvolvimento do filho. De fato, desde a vida intrauterina, ela transmite sensações e emoções que vão além do amor: também medos, inseguranças e expectativas. Atenta a isso, passa a se cobrar por uma perfeição inatingível. Racionalmente sabe que não é possível, mas emocionalmente não consegue deixar de aspirar a esse ideal. Quando se percebe falhando, é tomada pela culpa e quanto mais culpada, mais sofre. Exausta pelas múltiplas demandas, irrita-se, explode, sente-se egoísta quando cuida de si e, nesse desalinho entre ideal e real, nasce a narrativa silenciosa de que não é boa o bastante. Nasce um filho, nasce uma culpa.

A psicanálise reconhece o peso dessa trama. Freud mostrou a centralidade da infância na vida psíquica e colocou a mãe como primeiro objeto de amor e cuidado, essencial à sobrevivência do bebê. Klein e Winnicott avançaram, atribuindo à função materna um lugar central no desenvolvimento emocional. Para Winnicott, a “mãe suficientemente boa” é aquela que, ao mesmo tempo que acolhe, também frustra, mostrando ao filho que há limites e tempos de espera, e que ele não é extensão do seu desejo. Esse equilíbrio sustenta a integração psíquica e ajuda a criança a se tornar resiliente. Bion, por sua vez, descreveu a mãe como continente das angústias do bebê, capaz de receber, metabolizar e devolver experiências emocionais em forma mais suportável.

O ponto não é ensinar as mães a serem “boas o bastante”, mas reconhecer que a maternidade não é um papel a ser desempenhado com perfeição. Ela se dá no ser, no viver cotidiano, no sentir genuíno. É nesse gesto vivo que a mãe transmite ao bebê que a vida é digna de ser habitada com alegrias, mas também com frustrações inevitáveis. A maternidade, em sua verdade, não é sobre atuar, mas sobre ser.

Psicóloga/Psicanalista
Francinéia Fabrizzio

🌿 Cuidar de Si é Permitir Novos CaminhosVivemos tempos em que tudo acontece rápido demais. Demandas, expectativas, cobra...
03/09/2025

🌿 Cuidar de Si é Permitir Novos Caminhos

Vivemos tempos em que tudo acontece rápido demais. Demandas, expectativas, cobranças externas e internas … muitas vezes esquecemos de olhar para nós mesmos. Cuidar da saúde emocional, da aprendizagem e das relações não é luxo, é um gesto de autocuidado e de transformação.

No Instituto Espaço Práxis, acreditamos que cada pessoa carrega uma história única, feita de experiências, vínculos, potências e desafios. Por isso, oferecemos um espaço de escuta, acolhimento e intervenção, construindo caminhos possíveis para cada sujeito, família ou instituição.

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Nele, você encontra informações sobre:

Psicologia – atendimentos individuais, familiares e orientação parental

Psicopedagogia – apoio e estratégias para potencializar a aprendizagem

Pedagogia e Avaliações – leitura crítica do desenvolvimento e propostas de intervenção

Intervenção em Dificuldades e Transtornos da Infância – apoio especializado e personalizado

Cuidar de si é o primeiro passo para transformar o que nos cerca.
Conheça nosso catálogo, descubra nossas propostas e permita-se viver um novo olhar sobre o seu processo.

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Sinfonia(s)  ⚘“Tocar uma nota errada é insignificante.Tocar sem paixão é imperdoável.”— BeethovenE o mesmo acontece com ...
31/08/2025

Sinfonia(s) ⚘

“Tocar uma nota errada é insignificante.
Tocar sem paixão é imperdoável.”
— Beethoven

E o mesmo acontece com a vida.

Errar não nos fere tanto quanto não sentir.
Tropeçar não pesa tanto quanto existir pela metade.

O verdadeiro silêncio não está na pausa entre as notas,mas na ausência de alma dentro do som.

A vida não nos pede perfeição.
Nos pede entrega.
Nos pede coragem para nos lançarmos ao incerto,mesmo quando as mãos tremem,
mesmo quando o compasso se perde,
mesmo quando não sabemos qual acorde vem depois.

Não há imperdoável no erro.
O imperdoável é viver sem intensidade,
tocar a vida de forma fria, passar pela alma de alguém e deixá-la intacta, sem vibração, sem memória, sem rastro.

Porque o que marca não são os acertos,
mas os instantes em que realmente vivemos.
Aquele olhar que muda o tom.
Aquela palavra que atravessa.
Aquele encontro que reorganiza o caos.

O resto se apaga.
O tempo leva.
Mas aquilo que foi sentido, aquilo que irradiou, permanece.

Por isso, não basta existir.
É preciso rasgar o instante, desafiar o previsível, permitir que o indizível aconteça.

Uma vida morna não ecoa.
Uma alma contida não vibra.
Um coração fechado não cria música.

Se é para tocar, que seja com acordes claros.
Se é para viver, que seja inteiro.
Se é para encontrar, que seja fundo.

Porque não somos feitos para repetir notas mortas, somos feitos para atravessar,
para deixar rastro, para incendiar e ser incendiados.

O erro…
esse, o vento leva.
Mas a ausência de paixão…
essa, não há silêncio capaz de apagar de uma vida toda.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

(H)á vida.A experiência da vida é o corpo.É nele que tudo se inscreve o desejo, a espera, o silêncio, os nós que não se ...
30/08/2025

(H)á vida.

A experiência da vida é o corpo.
É nele que tudo se inscreve o desejo, a espera, o silêncio, os nós que não se dizem.

Há um ritmo que nos atravessa,mesmo quando não percebemos.

O coração pulsa.
O ar entra e sai.
O sangue corre.
A pele responde.

Tudo se move, mesmo no aparente repouso.

Se o corpo não encontra passagem para viver, ele encontra brecha na repetição. Não porque queira padecer, mas porque precisa falar. O sintoma é uma palavra que o corpo inventa quando não encontra outra língua.

Tudo pulsa. Tudo busca um caminho de retorno.

O que foi contido, cedo ou tarde, se anuncia.
A febre, a tensão, a dor que insiste não são apenas sinais de falha, são convites para olhar o que ficou esquecido no fundo da pele.

Há uma inteligência no corpo que vai além da razão. Ele lembra o que a mente tenta apagar.

Tudo pulsa.
Tudo retorna.
Tudo encontra passagem.

O que não foi vivido não desaparece.

Permanece.
Silencioso.
Latente.
À espera de um gesto,de um olhar, de um instante para atravessar.

Ele insiste no que não foi atravessado.
E quando a vida não se deixa sentir, o corpo chama.

Às vezes grita. Às vezes implora.
Mas sempre retorna ao mesmo ponto.

Não há fim.
Não há perda.
Não há estagnação.
Tudo que parte encontra uma forma de voltar

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Tenho Aguardado um Dia de MilagreCartas para Mim   Tem sido tempos difíceis por aqui.Às vezes, parece que precisei morre...
29/08/2025

Tenho Aguardado um Dia de Milagre

Cartas para Mim

Tem sido tempos difíceis por aqui.
Às vezes, parece que precisei morrer por dentro para começar, enfim, a me refazer.

Não tem sido possível conter as lágrimas. Nos dias mais frios, a saudade me veste inteira, como um silêncio que dói.

O mundo sempre me disse que eu tinha tudo… e, por um tempo, eu acreditei. Até te ter.

Foi a tua ausência que me ensinou o tamanho de um amor.

E se eu te dissesse, hoje, que descobri que é possível amar duplamente?

Todas as noites, espero por uma luz que caia do céu. Mas a espera me cega para quase tudo.

Aprendi a rezar, e desde então rogo pela chuva que lave minhas dores, que abençoe meu rosto cansado, que devolva um pouco de vida àquilo que em mim insiste em morrer.

Tenho aguardado o dia em que o medo será apenas uma lembrança distante.

Me perdoe por não saber amar um único coração.
Me perdoe por te desejar tanto.
Me perdoe se a única forma que encontrei de dizer o quanto te amo foi gritando o desespero da tua partida, naquele dia que atravessou meu corpo como um relâmpago.

Eu não saberia te dizer adeus.
Eu não suportaria te ver indo.
Eu não sobreviveria à tua ausência.

Por isso, gritei. Só gritei. E gritar foi a única maneira de permanecer viva.

Hoje, carrego dois amores no peito um pulsa, o outro permanece eterno.
Todos os dias, uma parte de mim morre, outra cicatriza, e, no meio desse ciclo silencioso, te ressuscito aqui dentro. Sempre haverá um espaço para você, porque agora acredito em anjos. E em milagres também.

Tenho morrido um pouco todos os dias. Te amar, paradoxalmente, é o que me mantém viva.

E, agora que aprendi a rezar, peço por você todas as noites, num sussurro que escapa no meu travesseiro.

E quando adormeço, te encontro não só dentro de mim, mas nos meus sonhos mais fundos.

Não me deixe morrer.

— Psicóloga Francinéia Fabrizzio

O Deus de Spinoza Deus para Spinoza, é a própria substância infinita que se expressa em tudo o que existe  não como cria...
28/08/2025

O Deus de Spinoza

Deus para Spinoza, é a própria substância infinita que se expressa em tudo o que existe não como criador e criatura, mas como um único corpo onde nada está fora.

Tudo o que vive, vibra e se move é manifestação dessa mesma força que ele chama de Deus sive Natura: ou seja, a Natureza. É por isso que não há hierarquia entre o sagrado e o cotidiano, o café esfriando sobre a mesa, a madeira que range, a poeira suspensa no feixe de luz, a memória que atravessa o corpo tudo isso é Deus acontecendo.

Ele não escreve destinos, não responde orações, não dita milagres: Ele é o próprio fluxo da existência, contínuo, necessário, inevitável.

Conhecer Deus, para Spinoza, não exige fé, exige presença. É perceber que não existe separação entre quem vê e o que é visto, entre a pele e o vento, entre a vida que pulsa e o silêncio que a envolve. Nesse instante de compreensão, não há súplica nem espera, apenas o reconhecimento de que tudo, absolutamente tudo, já é expressão do divino.

Para Spinoza, tudo o que existe é finito na forma, mas infinito na essência. O corpo que respira, a árvore que envelhece, a água que escorre, o silêncio que retorna tudo isso passa, mas nada se perde.

Porque aquilo que chamamos de “eu”, “outro”, “vida” ou “morte” não é separado do todo. Não há interrupção, não há vazio.

Há transformação. Quando a mente tenta segurar, sofre; quando aprende a ver, percebe que tudo já está contido em Deus, que é a própria matéria viva do existir. A morte, então, deixa de ser ruptura: é apenas uma dobra naquilo que nunca se desfaz. O mesmo sopro que habita o corpo agora habitava antes e habitará depois, porque ele não pertence. É parte.

E é nesse ponto que o pensamento de Spinoza encontra sua luz mais alta: não há centro, não há privilégios, não há exceções. Nada em nós é maior do que a Natureza da qual fazemos parte.

Essa aceitação não é resignação é potência. É saber que o que nos atravessa não vem de fora, não obedece a vontades ocultas, não depende de escolhas celestes: vem de dentro do próprio tecido do real. Tudo o que somos é expressão da mesma força infinita que move as marés, que aquece a terra, que faz o tempo existir. Não há o que pedir. Não há o que esperar. O encontro com Deus, para Spinoza, não está no futuro: está agora, no simples fato de sermos parte da vida.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

27/08/2025

Dia do Psicólogo

Hoje celebramos aqueles que dedicam sua escuta e presença ao que muitas vezes não tem nome.
Ser psicólogo é atravessar histórias, acolher silêncios, sustentar perguntas e, juntos, abrir caminhos possíveis.
É acreditar na potência do encontro e no valor de cada subjetividade.

Que este dia nos lembre da importância desse ofício que cuida do que há de mais humano: o desejo, a dor e a possibilidade de transformação.

Feliz Dia do Psicólogo!



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27 de Agosto — Dia do Psicólogo.Hoje celebramos os profissionais que dedicam sua escuta, sua sensibilidade e seu conheci...
27/08/2025

27 de Agosto — Dia do Psicólogo.

Hoje celebramos os profissionais que dedicam sua escuta, sua sensibilidade e seu conhecimento à compreensão da mente, dos vínculos e da singularidade de cada ser humano.

Ser psicólogo é mais do que aplicar teorias:
é acolher histórias, escutar silêncios, construir pontes e abrir caminhos para que cada pessoa descubra seus próprios modos de existir no mundo.

A psicologia não oferece respostas prontas, mas perguntas que transformam. Ela atravessa dores, elabora sentidos e permite que cada sujeito reconheça, no encontro com o outro, a potência que carrega dentro de si.

Parabenizo todos os psicólogos profissionais que, com ética, ciência e humanidade, contribuem para um mundo com mais saúde emocional, presença e consciência.

Nosso respeito e admiração a cada um que faz da escuta um ato de transformação.


Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Felicidade e desejo - Porque não podemos tudo.A linguagem instala uma diferença inevitável entre o nome e a coisa nomead...
26/08/2025

Felicidade e desejo - Porque não podemos tudo.

A linguagem instala uma diferença inevitável entre o nome e a coisa nomeada. Entre aquilo que dizemos querer e aquilo que realmente pode nos satisfazer, há sempre um intervalo. É nesse vão que nasce o desejo.

Por consequência, somos separados de nós mesmos pela própria linguagem. Não temos acesso à satisfação plena, à experiência absoluta. Tudo o que alcançamos é parcial. Sempre falta alguma coisa. Sempre restará um pedaço de vazio que nenhuma conquista preenche.

Desde cedo, confrontamo-nos com essa condição: o que desejamos nunca nos satisfaz por completo. A felicidade, se existe, só pode ser parcial. Ela se sustenta na possibilidade de sempre querer mais.

A ideia de uma satisfação total é um horizonte: sempre à vista, mas jamais alcançável.

Quando tentamos ultrapassá-lo, buscando conter a totalidade do prazer, entramos no terreno do “além do princípio do prazer”, onde Freud localiza a pulsão de morte, e onde Lacan inscreve o conceito de gozo.

Falar sobre felicidade implica falar sobre limites. Eles não são apenas imposições externas: são estruturantes. Na infância, essa experiência se revela com intensidade. O desejo da criança é ilimitado, desmedido, impregnado de fantasias de tudo querer e tudo poder. É por meio da presença de um adulto que ela aprende que não pode tudo, que há tempos, regras, trocas, esperas. Essa frustração é necessária para o amadurecimento, embora traga dor, raiva, contrariedade e, muitas vezes, ódio.

Frustrações são inevitáveis, mas a forma como lidamos com elas determina como vamos nos aproximar, ou nos afastar, daquilo que chamamos de felicidade. Alguns negam, fogem, fingem que nada acontece. Outros, pouco a pouco, se autorizam a encarar essas vivências, elaborar suas perdas e criar novos caminhos. Isso demanda um certo amadurecimento psíquico.

A felicidade, portanto, não é uma entidade concreta. Ninguém a encontra passeando pelas ruas, nem o mais sofisticado microscópio pode localizá-la. Ela é um constructo simbólico. Um conceito, não um objeto. Um tema filosófico que atravessa a experiência humana desde sempre, porque diz respeito ao desejo e aos limites daquilo que podemos viver.

Não existe fórmula pronta. Quem deseja buscar felicidade precisa aceitar que será um processo singular, aberto e inacabado. Um percurso que envolve negociações internas, investimentos psíquicos, perdas, renúncias e, às vezes, despedidas. Não há "A" felicidade, única e absoluta, esperando para ser encontrada. Há apenas formas de ser feliz, plurais, transitórias, imperfeitas.

O risco maior talvez seja acreditar que o tempo, sozinho, “cura tudo”. Não cura. É preciso enfrentar. Elaborar. Aceitar que não podemos tudo. Ser feliz exige atravessar a frustração, reconhecer o desejo e encontrar brechas possíveis de satisfação, ainda que parciais.

No fim, talvez sejamos felizes por definição. Ou não.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Função Materna: Entre Cuidar, Acolher e Deixar IrA maternidade, mais do que um fato biológico, é um campo simbólico. Fre...
25/08/2025

Função Materna: Entre Cuidar, Acolher e Deixar Ir

A maternidade, mais do que um fato biológico, é um campo simbólico. Freud foi um dos primeiros a mostrar que a relação com a mãe funda o modo como o sujeito se reconhece no mundo. Nos primeiros encontros, é no corpo e na voz materna que o bebê encontra o ritmo que organiza suas primeiras sensações de prazer, fome, dor e presença. A mãe, para Freud, não é apenas quem dá o leite, é quem introduz o desejo. Ao acolher ou negar, ao olhar ou desviar, ela inscreve marcas que atravessam a vida psíquica.

Klein amplia essa compreensão ao nos lembrar que, antes de existir um “outro” separado, o bebê experiencia o mundo a partir do que sente no corpo da mãe. O seio materno, para ela, é símbolo de vida e ameaça, prazer e frustração, presença e ausência. Essa oscilação funda um território psíquico complexo: amar e odiar o mesmo objeto, desejar e temer ao mesmo tempo. Nesse ponto, o maternar não é sobre perfeição, mas sobre suportar a ambivalência, acolher o amor e o ódio que coexistem na relação. Klein revela que, ao tolerar essa dor, a mãe oferece ao bebê um caminho para lidar com as perdas e separações que virão.

Winnicott, por sua vez, desloca o foco para a experiência da mãe enquanto ambiente. A função materna, para ele, não é sobre idealizações, mas sobre ser suficientemente boa. Não se trata de evitar falhas, mas de reconhecer que são elas que inauguram o espaço de crescimento. Quando a mãe se adapta inicialmente às necessidades do bebê, mas gradualmente falha de forma dosada, ensina que o mundo não responde sempre, e que essa ausência pode ser suportada. É aí que surge a capacidade de criar, brincar, sonhar, a própria experiência de existir como sujeito.

Nesse entrelaçamento, o maternar não cabe apenas à mãe biológica, mas se estende à função materna: sustentar, conter, oferecer borda, mas também permitir o voo. A mulher, nesse lugar, carrega mais do que um corpo capaz de gerar vida, carrega o exercício simbólico de dar presença sem aprisionar, de nutrir sem anular, de amar sem devorar. Essa função, para além da maternidade real, atravessa também a clínica, a cultura e os modos de existir: é o gesto que funda o vínculo, mas que também autoriza a separação.

Maternar, assim, não é sinônimo de fusão, mas de criação de espaço. Um espaço em que o sujeito pode existir com suas faltas, seus desejos e seus limites. A função materna é, ao mesmo tempo, um convite e um risco: convite ao acolhimento, risco da entrega. Entre a dependência absoluta do início e a autonomia possível no futuro, o que se constrói é um pacto silencioso entre dois mundos que se tocam e, inevitavelmente, se transformam.

O Ato de Autorizar o Filho a Ser

Talvez seja nesse ponto que a função materna atinge sua expressão mais delicada: quando a mãe sustenta o aval simbólico que permite ao filho viver para além dela. Não se trata de abandono, mas de uma autorização silenciosa “você pode ser, mesmo sem mim”. O filho que recebe esse aval encontra liberdade para desejar, para criar, para errar, para amar; e, paradoxalmente, pode finalmente ser filho justamente porque pode deixar de ser apenas filho. É no espaço entre a presença e o desprendimento que se inscreve a verdadeira herança da maternidade: a possibilidade de existir inteiro, com raízes e com asas..

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

O Discurso do AmorO amor tenta dar forma ao que o desejo não consegue tocar. Se o desejo vive à deriva, sempre escapando...
23/08/2025

O Discurso do Amor

O amor tenta dar forma ao que o desejo não consegue tocar. Se o desejo vive à deriva, sempre escapando, o amor oferece uma pausa, uma espécie de ancoragem. Não porque resolve a falta, mas porque a reconhece.

Colette Soler diz que o amor recíproco enlaça dois sintomas, dois mundos que se tocam sem se fundir. Não há metades que se completam, não há fusão. Há o encontro entre duas solidões que, por um instante, aceitam inventar um caminho juntas.

Lacan lembrava que “o verdadeiro amor leva ao ódio”. Não porque sejam opostos, mas porque o amor carrega um excesso. Quando não suporta o impossível, quando recusa os limites, pode transbordar. Amar, no entanto, pede renúncia: abrir mão de certezas, perder o ideal, ceder um pedaço do próprio gozo. Amar é, sempre, aceitar perder.

Talvez seja por isso que tantos o temem. Imaginamos que o amor nos salvará, que virá nos completar, quando, na verdade, ele desmonta. Ele quebra imagens, derruba fantasias, desarma o parceiro ideal que existia só no nosso imaginário. O que se encontra quase nunca é o que se buscava. E, no entanto, o amor começa justamente aí: onde o ideal falha, onde o outro aparece de verdade.

Mas o amor também pode devastar. Fora do discurso, ele invade, rompe, atravessa fronteiras. E, ainda assim, precisa da palavra. Não porque caiba nela, nunca cabe, mas porque o dizer cria um espaço onde algo pode existir. O “eu te amo” banalizou-se, perdeu o peso, mas o amor segue pedindo voz. É por isso que o amante vira poeta: não porque escreve bem, mas porque o impossível exige forma.

Amar é se deixar atravessar por esse impossível. É ver o outro como um ser inteiro, não como objeto para preencher um vazio. É aceitar que não há garantias, que o encontro é frágil, que tudo pode se desfazer. E, ainda assim, escolher permanecer.

Talvez por isso o amor pareça uma forma de vertigem socialmente aceita. Uma loucura silenciosa, compartilhada, que nos tira do lugar onde estávamos. Todo amor verdadeiro inaugura uma nova experiência de verdade sobre o que é ser dois, e não um. E, nesse instante breve, inventamos uma linguagem para o indizível, e chamamos isso de amar.

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