Casa Aberta

Casa Aberta Psicologia PUC-RJ, Mestrado Teoria Psicanalítica UFRJ, Orientação Familiar Sedes Sapientiae/SP. Consultórios on line
(268)

A chamada lógica fálica (psicanálise) ou binária (gêneros) parece ser a lógica do “tudo ou nada” - se “tenho que saber /...
26/04/2025

A chamada lógica fálica (psicanálise) ou binária (gêneros) parece ser a lógica do “tudo ou nada” - se “tenho que saber / ser tudo”, e não consigo e/ou tenho muito medo de arriscar, o “outro lado” do “saber tudo” é “saber, ter, ser nada”. Duas faces da mesma moeda, “tudo ou nada” nos paralisa ou nos joga para riscos sequer vistos. Linha de julgamento ( ou isso ou aquilo), que não é o genuíno pensar. Muito próximo das fundações do pensar na infância quando necessariamente elaboramos teorias se***is infantis, para começarmos a conhecer o mundo. A força do desejo contém o gérmen do julgar; etapa inicial do pensar, ela nos impõe ultrapassar o “ou …ou”, e a encontrar lugares para ser no entre, na aceitação. O eu se amplia nesse processo, “cresce para dentro”, como nos disse Winnicott. E como nos legou Freud ao nos deixar a pergunta “Poderá o amor amansar a destrutividade?”. Ilustração: O Touro, Pablo Picasso (texto: Evelin Pestana, psicanalista)

Entre duas pessoas, uma miríade de movimentos acontece, mesmo se ambas permanecessem caladas. A “simples” presença do “o...
19/02/2023

Entre duas pessoas, uma miríade de movimentos acontece, mesmo se ambas permanecessem caladas. A “simples” presença do “outro” nos afeta de forma a produzir mudanças em nós. É que desde cada um de nós emanam necessidades, expectativas que, inevitavelmente, tomarão rumos a partir das respostas do outro. “Não respostas” do outro também são respostas, também produzem efeitos em nós. Mesmo se e quando estamos a sós, ainda assim coisas acontecem: nossas necessidades, expectativas continuam em movimento e as respostas que daremos a elas são produto de nossas relações mais precoces - há sempre vários outros em nós; outros misturados, em conflito, a nos exigir muitas coisas. Um mundo interno formado pelas perguntas e pelas respostas que recebemos - a maioria delas sem que possamos tomar consciência das mesmas - e que, retroativamente, vão produzindo novos movimentos, transformando a nós e aos outros em nós. Numa vida humana, jamais há separação radical entre dentro - fora. As coisas são sempre dentro e também fora, simultaneamente, constantemente, retroativamente, reciprocamente. Por que uns optam por momentos de mais solidão, enquanto outros necessitam de presenças constantes, seja lá do que ou de quem for? Há um mundo infinito de respostas possíveis. O sentido que nos falta é sempre uma questão de dentro, mas também fora. Podemos não ver para não sentir; podemos sentir para ver melhor. Dentro e também fora. Isso deveria nos ajudar a não desesperar - se pudéssemos manter a esperança de que está também em nós a necessidade, a expectativa de encontrarmos o sentido que nos falta. (Evelin Pestana, psicanalista)Ilustração: Joan Miró

O que faz um psicanalista? O que ele pode fazer? Se há consideração pela complexidade da vida e do funcionamento mental ...
11/02/2023

O que faz um psicanalista? O que ele pode fazer? Se há consideração pela complexidade da vida e do funcionamento mental e psíquico, a questão se torna primeiramente humana, e nela estão incluídos ambos, potenciais analista e paciente. Cada encontro humano desperta possibilidades, mas ap***s se pudermos ter a sensibilidade despertada para o que, inevitavelmente, cada encontro traz consigo de angústias diversas, em medidas diversas, mais ou menos conscientes, em momentos também diversos. Jamais sabemos de antemão o que virá dos encontros que temos ao longo da vida; com sorte, podemos nos tornar cientes ap***s de parte das nossas expectativas, podendo escuta-las para, então, dar-lhes o devido tamanho, as necessárias palavras. O paradoxo da vida é que mesmo desencontros podem trazer descobertas que, se bem aceitas, vem dar início a novos rumos. Às vezes, abençoados desencontros. O próprio do humano é ter que buscar. O que será encontrado irá depender da também inevitável assimetria que rege todo encontro humano. Ou melhor: irá depender da possibilidade de que em cada encontro, ao menos um dos parceiros possa suportar o que não se dá e, com isso, manter aberta a inevitável busca. Talvez, todo possível tenha início na condição de respeito ao humano em nós. Respeito: respectare - consideração, dedicação, observar o que está ao redor. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: Catrin Weiz Stein

Há traumas necessários que nos constituem. Estes passam e deixam passar. Há os que não passam: como atualidade traumátic...
20/01/2023

Há traumas necessários que nos constituem. Estes passam e deixam passar. Há os que não passam: como atualidade traumática permanente e como memória somática encarnada que a palavra não alcança. É porque os excessos não permitem fazer memória psíquica. Ficam como sensações, como elementos estranhos que fazem obstáculos ao viver. Sensações estranhas, excitações sem rumo, altas cargas afetivas sem nome que costumam receber diferentes rótulos - pânico, ansiedade extrema, irritabilidade, depressoes graves, comportamentos impulsivos, e inúmeras formas de compulsão, adições. É que para que passem, precisam passar pela experiência lenta e asseguradora de uma nova forma de vínculo, pela qual chegarão as palavras necessárias que poderão fazer de cada um de nós uma história para ser contada, recontada, revisada. Permitindo as várias faces e idades do ser. Nos traumas que não passam é o eu que não pode passar. Tudo que é demais nos impede ser. Se estamos no excesso, não somos, nem permitimos ser. Temos muito medo de nós mesmos. (Evelin Pestana, psicanalistas) Ilustração: Catrin Weiz-Stein

A esperança não vem de graça. Talvez seja correto dizer que nada vem de graça na vida, se pudermos considerar que muito ...
07/01/2023

A esperança não vem de graça. Talvez seja correto dizer que nada vem de graça na vida, se pudermos considerar que muito nos chega da graça. Mesmo tendo sido bem cuidados nos primeiros anos de vida, a própria vida e sua realidade, o fato de haver o outro, tudo isso se incumbe de nos frustrar, decepcionar, por vezes, bem precocemente. Mas, então, como e porque continuamos? Uma vez a vida tendo sido instalada em nós, vida como os pequenos prazeres de estar vivo, isso tem uma força incrível. Isso vem da graça, mas, não de graça. Quando digo graça talvez pudesse também dizer sorte, ou força, ou inteligência, visão ampliada, ou um coração forte. Quaisquer dessas palavras podem servir. O fato é que um pouco de nós e um pouco do outro, nos momentos de bons encontros - que podem ser, inclusive, encontrar lugar e palavras para as dores do viver - engendram possibilidades. Seria isso a graça sobre a qual tento pensar? Encontros que guardam e transmitem possibilidades? E se posso me lembrar também que graça e gratidão são palavras que conversam, talvez esteja ai o nascimento da esperança. Graça, gratidão, esperança poderiam ser, assim, o que nos permite viver, continuar. A esperança nasce da graça, da gratidão pelos bons, pequenos e simples encontros ao longo da vida. A graça permite que um pequeno e bom encontro, que pode durar pouco no tempo cronológico, nos marque de esperança no tempo do viver. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: Felix Gonzalez Sanches

O corpo humano é feito de sensibilidades. O corpo da criança, sobretudo. A criança que nos habita sinaliza quando algo é...
02/01/2023

O corpo humano é feito de sensibilidades. O corpo da criança, sobretudo. A criança que nos habita sinaliza quando algo é e não é bom, sem mesmo precisar da consciência, de imagens ou representações que permitam o entendimento. As mais extremas defesas contra os excessos insistem em negar, inclusive, percepções, internas e externas. Para a criança, não importa de onde vem os excessos pois estes a atingem de qualquer maneira. Uma dor fisiológica ou emocional, vinda da própria criança ou do mundo externo, tem o mesmo valor quando ainda não dispomos da capacidade de diferenciar dentro e fora. O mundo pode se tornar ameaça constante. As pessoas idem. Todas as crianças tentam ensinar aos adultos os sentidos do Amar. É assim que do pouco, do suficiente, surge a possibilidade de existir, e não ap***s sobreviver. Nem todos podem construir uma história para si. A vida precisa do sensível. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: Ronald Companoca

Amar deveria sempre ser escrito com letra grande. Para dar destaque às pequenas coisas, para o simples que faz toda a di...
23/12/2022

Amar deveria sempre ser escrito com letra grande. Para dar destaque às pequenas coisas, para o simples que faz toda a diferença. Que não exclui mas inclui deixando a palavra fluir para que também nós possamos fluir. São muitos os perigos e os riscos de viver; por isso o Amor tem essa força de deixar passar o difícil para poder dar lugar ao bom, para dar existência a tudo que nos acontece sem que nos deixemos diminuir, invadir. Nas pequenas e grandes dores, é sempre o Amor que nos auxilia porque com Ele vem também o trabalho de ultrapassar, respeitar, considerar não ap***s o imediato mas a história e suas reviravoltas. Amar permite trabalhar o coração e a mente, e crescer e curtir. Não foi por acaso que Freud disse que uma análise deveria permitir Amar e trabalhar. Amar permite existir. Mas tem que ser com letra grande. Grande para que nosso narcisismo, que por vezes se empobrece, adoece, também possa crescer. Amar com letra grande porque a vida passa rápido. Amar com letra grande nos transforma em semente. O grande está nas pequenas coisas. Amar com letra grande porque só amar - com letra pequena - não basta. Que 2023 seja com letra grande! (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: Laimonas Smergelis

Há provas irrecusáveis na vida de que o melhor nos leva ao pior. Trazer outro ser humano ao mundo é uma dessas grandes p...
13/12/2022

Há provas irrecusáveis na vida de que o melhor nos leva ao pior. Trazer outro ser humano ao mundo é uma dessas grandes provas pelas quais podemos passar. O adulto, repleto de histórias, desejos, medos, pavores, sonhos e pesadelos que podem ser vividos mesmo quando acordado, tem diante de si um pequeno ser, cujo corpo é feito de uma extrema sensibilidade, justamente por estar aberto aos toques (tato, voz, olhar - em seus duplos excessos, tanto de ausência quanto de presença); toques dos quais o bebê, a criança, dependerá para guardar em si a memória daquele adulto que, inevitavelmente, vez por outra, em períodos diferentes de tempos (ausências curtas, moderadas e definitivas) irá lhe faltar. Podem os adultos pensar que precisam faltar para seus filhos? E quando, como? Podem eles pensar que, para a criança, brincar, imaginar, fantasiar é o ar que respiram? Memórias são feitas daí. Como faz a criança para se livrar das exigências dos adultos? Tem a hora disto, daquilo…Mas tem também a hora em que o adulto não consegue mais viver, ser, a partir das horas que ele próprio estipula - pensamento que nem chega a ser consciente mas pode, rapidamente, fomentar dores que remetem o adulto, por exemplo, a situações de seu próprio abandono e que, lhe sendo insuportáveis, o fazem cair na repetição de mais exigências: tem que, é hora de… Para a criança, o corte do sonhar e do brincar é vivido como traumático: ele perde o ar. Para sobreviver, porque depende do adulto, seu único recurso pode ser abrir mão das partes de si que lhe são mais vivas. O melhor leva a todos - adultos e crianças - a riscos do pior. Nada pode ser pior do que perder partes vitais de si. As crises de raiva são expressão de dores agudas. Resta à criança odiar a si mesma para não ter que odiar aqueles de quem depende para crescer. Ao adulto, resta o incremento de sentimentos de culpa inconsciente que só aumentam seus medos de … Resta a ambos ap***s adaptarem- se, em excesso. O futuro do melhor é o pior. (Evelin Pestana, psicanalista)Ilustração: Infinito Particular, Michael Cheval

Há um trabalho de doação mútua no pensar.  Estar consigo mesmo e, ao mesmo tempo, poder tomar certa distância de si; dis...
11/12/2022

Há um trabalho de doação mútua no pensar. Estar consigo mesmo e, ao mesmo tempo, poder tomar certa distância de si; distância que inclui sentir e incluir a presença do outro, oferecendo-lhe também a boa distância. Engano comparar pensar e racional, em oposição às emoções, às paixões. Não pode pensar aquele que ainda não construiu em si algum conhecimento sobre amar e não amar; alguma capacidade de sentir sem perder a esperança. Pensar nos coloca numa área de transição onde se tornam possíveis vários olhares, sem que um venha a excluir o outro. Pensar é exercício amoroso, inclusivo. Poder dizer sim a si mesmo se torna mais importante do que os nãos recebidos do outro. Importa mais os nãos que dizemos a nós. Estes precisam ser a nosso favor. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: obra da artista

É sempre maravilhoso poder testemunhar como a vida tem força, força que perdura por vezes anos, sendo capaz de esperar a...
07/12/2022

É sempre maravilhoso poder testemunhar como a vida tem força, força que perdura por vezes anos, sendo capaz de esperar até que seja a hora de poder se manifestar, insistir no que ainda resta por ser feito. O tempo da conquista de si segue o tempo do inconsciente: é atemporal, fora do tempo cronológico. É então comum, aos olhos e demais sentidos de um psicanalista, que um “adulto” já bem estabelecido intelectualmente, já ocupando um lugar no mundo externo, precise ainda compreender certas partes de si que precisaram esperar para poderem, então, verdadeiramente se apresentar como válidas, necessárias. É uma dádiva que nosso funcionamento psíquico possa cuidar de nós, provendo o que é mais solicitado pelo mundo externo, em primeiro lugar, para só então poder cuidar do mais fundamental, do mais básico: o sentimento de realmente sentir-se na vida que se está vivendo. O que é de dentro pode até vir depois; pode até esperar por ser, justamente, aquilo que é o mais genuíno em nós. São sempre as fundações o que mais importa. O contemporâneo é o que resta, ainda e sempre, por ser. Não há riqueza maior do que possuir um mundo interno para si. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: obra de Alexandro Solar, Malba.

“… o ser humano é uma amostra no tempo…” (…) “… na alma humana, cada ponto é um universo…”. Duas frases de Winnicott que...
28/11/2022

“… o ser humano é uma amostra no tempo…” (…) “… na alma humana, cada ponto é um universo…”. Duas frases de Winnicott que nos levam à importante consideração pelo contexto, pela história de cada um entre seus cada uns, e que nos dão a medida de como considerar o sofrimento humano: imerso em seu contexto, atemporal, à espera de reconhecimentos, verbalizações, simbolizações. Quanto menos podemos acessar o que em nós pede auxílio, cuidado, mais sentimos como impossível o encontro com os outros, com nossos próprios eus. Se estamos o mais próximo possível de nossas dores, podemos dar-lhes um tratamento. E o que existe como impossível, pode chegar a não mais nos levar à loucura. Quando cuidamos de nós, podemos sentir que o viver vale as p***s. É então que o impossível já não importa tanto: ja somos capazes de usufruir dos possíveis, multiplica-los, compartilhar-los. Criar-encontrar nossas potências. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: O Impossível, Maria Martins - Malba)

A dependência do outro está marcada em nós desde sempre. É assim que nascemos e com ela teremos que nos virar. Há na dep...
24/09/2022

A dependência do outro está marcada em nós desde sempre. É assim que nascemos e com ela teremos que nos virar. Há na dependência ao menos dois aspectos, jamais definitivamente separados: um, real; outro, inconscientemente imaginado, fantasiado. Se passamos razoavelmente bem pela dependência real, a imaginada, fantasiada inconscientemente jamais cede. Porque é inconsciente, “aparece” ainda mais em seus efeitos. O maior de todos os riscos é certamente nega-la, recusa-la. Ou, ainda, não ter tido a sorte de conhecê-la. É quando se transforma em impotência, raiva, desespero. Em sua dupla face - real e imaginada - a dependência jamais nos abandona. Desamparados que somos desde o berço, real e imaginariamente, passamos a vida precisando descobri-la. O desamparo, necessariamente, da muito poder ao amor. (Evelin Pestana, psicanalista) Ilustração: René Magritte

Endereço

São Paulo, SP

Notificações

Seja o primeiro recebendo as novidades e nos deixe lhe enviar um e-mail quando Casa Aberta posta notícias e promoções. Seu endereço de e-mail não será usado com qualquer outro objetivo, e pode cancelar a inscrição em qualquer momento.

Compartilhar