Consultório de Psicanálise

23/07/2025

NOS SINTOMAS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA, UMA MENSAGEM....

As alterações no humor adolescente e infantil, no comportamento ou aprendizagem devem ser entendidas como uma mensagem encoberta.

Uma provável demonstração de que algo não vai bem.

É como um pedido de acolhimento e reconhecimento invertidos desde a agressividade até a passividade, em uma fase confusa e intensa.

Muitas vezes difícil de expressar com palavras, então aparece na quietude, irritação, desânimo, nas ações impulsivas, no uso excessivo de telas, muito sono ou sua falta.

Atualmente a identidade de muitas crianças e jovens se inicia já cristalizada em um diagnóstico de uma falha no cérebro a ser medicada, amortecida, mas não encarada ou resolvida. Ou seja, nem todos os que foram diagnosticados com autismo e TDHA o teriam....

Acredito que não há respostas rápidas para a resolução dos sintomas. A medicação traz alívio, mas o uso contínuo só adia o enfrentamento da angústia que gerou o sintoma.
O risco é ter amortecidas sua própria singularidade e subjetividade em um consumo tão precoce e generalizado de medicamentos ou técnicas que não levam em conta seu próprio "tempo de ver, entender e concluir" suas questões.

Estes obstáculos quando atravessados junto ao outro, e não tão sozinhos em nossos próprios pensamentos, nos dá a chance de inventar uma travessia possível nas trocas subjetivas com pessoas de nosso convívio e profissionais da saúde mental.

Ana L. Esteves- Psicanalista/Psicóloga.

11/07/2025

DEPRESSÃO/DEMÊNCIA

A dificuldade de memória, a falta de atenção, dificuldades do raciocínio e o humor triste no estado depressivo se confundem com os estágios iniciais do Alzheimer, pois os sintomas são parecidos, causando uma grande dificuldade no diagnóstico diferencial entre a demência e a depressão. É importante que o diagnóstico seja realizado, pois, sendo reconhecido como um estado depressivo, há tratamento e consequente diminuição dos sintomas demenciais. Se, no entanto, tratar-se de um estágio inicial de Alzheimer, o estado depressivo, se não identificado e tratado, pode acelerar a progressão da demência.

Além da demência poder se apresentar com sintomas depressivos, também pode ocorrer somente o estado depressivo com sintomas cognitivos associados.
As alterações cognitivas relativas à memória, atenção e raciocínio na depressão ocorrem de forma menos intensa e são mais flutuantes, já no Alzheimer ocorrem perdas cognitivas mais intensas e a frequência é constante. Os esquecimentos, por exemplo, podem fazer muitas pessoas acreditarem que estão com início de Alzheimer, mas ocorrem também no estado depressivo, que, pela falta de atenção e conexão no ambiente, acaba por gerar esquecimento.

Demência com sintomas depressivos acontece quando os sintomas se sobrepõem, quando Alzheimer e depressão caminham juntos, no decorrer da doença. Ou seja, quando a posição depressiva do sujeito se manifesta no quadro demencial, acelerando as perdas cognitivas e relacionais, dificultando o diagnóstico clínico. Se não identificado a tempo, o estado depressivo pode prolongar-se e chegar a se tornar grave. É importante um diagnóstico e intervenção precoces, pois, com tratamento e diminuição dos sintomas depressivos, a demência desenvolve-se mais lentamente, desacelerando a progressão da doença.

Ana Lucia Esteves
Psicanalista

26/06/2025

"A IMPORTANTE E DIFÍCIL COMUNICAÇÃO
ENTRE PAIS E ADOLESCENTES"

A queixa que se repete na clínica com adolescentes é que não conseguem interagir com os pais, neste tempo acelerado de mudanças físicas e emocionais.

A escuta sem julgamento é um bom caminho que os pais podem seguir para abrir a comunicação com seus filhos adolescentes.

Suspender nossa ansiedade/angústia de querer saber e tentar resolver, oferece um tempo de acolhimento e confiança que vai se construindo aos poucos.

Ana Lucia Esteves
Psicanalista/Psicóloga

17/06/2025

Demências: sobre a importância de rever com o psiquiatra a dosagem da medicação, quando diminuírem os transtornos psiquiátricos, visando a diminuição do risco de quedas e sono aumentado.

O impacto dos medicamentos psiquiátricos no desenvolvimento da demência é um tema constantemente debatido. Enquanto benzodiazepínicos e dr**as Z são frequentemente apontados como fatores de risco, um estudo recente trouxe novas evidências sobre a relação entre antidepressivos e declínio cog...

11/06/2025

"BURNOUT DO CUIDADOR"

BURNOUT é o estado de exaustão física, emocional e psíquica que também acomete pessoas que cuidam de pessoas com doenças crônicas como Alzheimer, esquizofrenia e outras.

É classificada pela OMS- Organização Mundial de Saúde como uma doença ocupacional na CID-10.

A causa deste estado de esgotamento se deve a falta de apoio familiar, social e do Estado.
A consequência é o isolamento social, pois não pode se ausentar, não há quem a substitua neste trabalho intenso.

Com o tempo perde os vínculos externos de trabalho, estudos e vida social- afetiva, negligenciando sua saúde física e mental para poder cuidar da pessoa que depende inteiramente dela.

É urgente apoio e tratamento aos cuidadores, que em sua maioria são filhas, esposas e irmãs em um cuidar exaustivo, solitário e não reconhecido.

Ana Lucia Esteves
Psicanalista/Psicóloga

04/06/2025

POR QUE A CRIANÇA DEMORA PARA FALAR?

Na 1ª infância, uma criança que não fala ou demora para falar, ao não ceder sua voz na relação com as pessoas, não sabe como vivenciar o laço social, gerando sofrimento psíquico na criança e angústia nos pais.

Apesar de não falar, a linguagem ocorre de forma NÃO VERBAL, através da expressão no corpo, que comporta sua subjetividade. Comunica-se por gestos repetitivos, gritos, olhares, choro, birra.

Ao não representar com palavras o que precisa e sente, permanece, muitas vezes dependente como um "bebê grande", sendo difícil separar-se dessa maternagem em uma parceira fechada, resistindo a aceitar os limites e as frustrações da realidade.

Para que a criança se constitua subjetivamente e utilize a fala, uma possibilidade é abrir um espaço ao não responder de forma imediata ou "adivinhar" o que a criança quer, sem que precise usar a fala. Senão, tudo o que quer acaba vindo ao seu encontro sem esforço, sem que precise utilizar palavras para acessar as pessoas, podendo ocorrer atraso na aquisição da fala.

Ana Lucia Esteves / Psicanalista

imagem: M. Boyayan

31/05/2025

O AFETO DEPRESSIVO

A tristeza como afeto depressivo revela um desamparo e impotência difícil de expressar em palavras.
É uma abstenção, um “não dizer” de si, em um recolhimento perante a vida.
Uma renúncia autorizada e medicada diante das injustiças e pressão contemporâneas.
O preconceito social segrega e transforma o sofrimento mental em fraqueza e inibição, tornando difícil pedir ajuda ou falar de si com um "outro" ( amigo, parceiro, familiar ou um profissional da saúde mental).
É importante que além do tratamento medicamentoso, haja espaço para poder colocar em palavras o sofrimento vivenciado, para ser ressignificado.
Não ajuda nos restringirmos ao diagnóstico de “depressão” para nos definir como pessoa e ficarmos passivos diante do que sentimos.
Somos mais do que um rótulo, somos uma história de desejos, sonhos, fantasias e afetos, que ao serem compartilhados dão força e sentido à nossa vida.
Expor um sofrimento psíquico não é fraqueza, mas é demonstração de força e coragem.

Ana L. Esteves
Psicanalista/Psicóloga

19/05/2025

HEREDITARIEDADE:
POSSIBILIDADE NÃO COMPROVADA.

A hereditariedade é uma predisposição alterada pelo ambiente e não uma herança fixa.
A expressão dos genes vai depender da relação com o ambiente familiar, psicossocial e são multicausais.

Não há comprovação científica de que o autismo, esquizofrenia, Alzheimer ou estados depressivos sejam hereditários, ou seja, que sejam transmissíveis de pais para filhos.

Segundo a geneticista Mayana Katz (USP), o reconhecimento de possíveis predisposições genéticas não significa que a pessoa terá a doença.
Existe um "DNA" social além do biológico, uma transmissão psíquica que passa de geração em geração.

Ana L. Esteves
Psicanalista

13/05/2025

ALZHEIMER : PRESENÇA E AUSÊNCIA

Na demência de Alzheimer, o estado depressivo e comorbidades é gerado pelas perdas, finitude da vida e esvaziamento dos vínculos afetivos, que afasta cada vez mais a pessoa do campo das relações simbólicas e vínculos, acelerando a doença.
Apesar de todas as perdas na demência, podemos afirmar que há psiquismo ainda, ou seja, há um sujeito do inconsciente que surge no imaginário das lembranças do passado, afetos, crises, lapsos de lucidez e no desejo de ser amparado no desamparo em que se encontra.

Ana L. Esteves
Psicanálise