
23/11/2022
Devido a algumas demandas específicas de trabalho, eu tenho lembrado com frequência das atuações anteriores como psicóloga social e professora de Psicologia.
Lembro que nas trocas que eu tinha com os alunos, era comum trazermos para as aulas a ideia de distanciamento que nós, psicólogas, aprendemos durante a formação.
Melhor dizendo, na Psicologia tem-se o entendimento de que nós devemos ter distanciamento dos sujeitos que atendemos. Eu concordo. Mas na mesma frequência proponho a reflexão sobre qual sujeito é esse que estamos nos referindo.
Como muitos sabem, eu trabalhei num Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes-SAICA, e dentre as múltiplas vivências, me recordo de um episódio em que numa festa de aniversário de uma das crianças, outra criança começou a chorar copiosamente por um longo tempo.
Contextualizo isso para refletirmos sobre qual atuação seria possível. Na ocasião, eu vi que ali havia dor...
Nesse sentido, digo que apenas peguei a criança no colo, levei para um canto silencioso e a aninhei. Não tinha necessidade de falar, não tinha necessidade perguntar, não tinha pressa, só tinha colo e aquilo me pareceu tão suficiente que ela apenas dormiu.
Aí eu te pergunto, como se distanciar e agir com neutralidade ao sujeito que é tão humano quanto eu?
Todos detemos de histórias, de afetos, de trocas, de contradições e de processos que constituem subjetividades, sejam adultos ou crianças, como foi o caso.
Obviamente, é preciso compreender os afetos que são seus e os que são do outro, justamente porque acessamos as zonas de sentido deste sujeito (terapia é importante pra noix aqui tbm😌).
Mas há casos em que somente pela via do afeto e da construção do vínculo que a gente dá conta de realizar um trabalho interventivo significativo junto àquele sujeito, e mais do que achar que intervir é sempre no sentido verbal, precisamos dar conta de fazer a leitura da situação (por meio das lentes teóricas que utilizamos) e as vezes garantir que o silêncio dê voz para o acolhimento, até porque ele é capaz de dizer muita coisa. Parafraseando Rubem Alves, que a gente também aprenda a escutar bonito.