27/03/2025
Assisti à série Adolescência, da Netflix, e confesso: ela me deixou com um nó na garganta.
Não pela história em si, mas por tudo que ela me fez pensar… e repensar.
Porque o que vemos ali não é só um crime cometido por um adolescente.
É o retrato silencioso de tudo o que vem antes:
a ausência que ninguém nomeia, o abandono que não parece abandono, o silêncio que vai crescendo dentro de casa.
Jamie, o protagonista, não vem de uma família “desestruturada”.
Ele tem casa, escola, mãe presente.
Mas não tem espaço pra ser escutado de verdade.
E isso me fez lembrar de algo que vejo muito na clínica:
a dor emocional não precisa gritar para ser grave. Às vezes, ela só precisa ser ignorada.
Muitos adolescentes hoje vivem assim: com tudo por fora, e nada por dentro.
Com comida no prato, wi-fi liberado, celular na mão — e o emocional entregue ao acaso.
Expostos a discursos de ódio, fóruns misóginos, comunidades que distorcem a dor e transformam em raiva o que deveria ser cuidado.
A masculinidade tóxica, ali, vai se instalando devagar.
Em memes, em vídeos, em conversas que ninguém monitora.
E cresce no escuro, alimentada pela vergonha de sentir e pela ausência de quem deveria enxergar.
A adolescência não é só uma fase — é uma travessia.
E essa travessia pede presença, escuta, vínculo.
Porque quando a gente acha que está tudo bem…
pode ser exatamente quando tudo começou a desmoronar.