22/04/2021
Agiste conforme o teu desejo?
Anderson Schirmer
Esta pergunta perturbadora se encontra no seminário 7 de Lacan (O seminário da Ética). Em uma época em que o prazer é imperativo, as pessoas confundem sustentar o desejo com o engodo de se prender à fantasia. Sustentar um desejo é sobretudo compreender este impossível que é moto-contínuo que nos faz sair da impotência, rumo à próxima mudança. Se faz falta, vou atrás!
A antipática verdade é que quando alcançamos o lugar/objeto de DESEJO, logo um outro se apresenta: compramos casa, conquistamos um grande amor, e logo, vamos querer uma casa na praia, e sobre o amor, ou reformulamos ou estaremos fadados a outro.
Sair da empolgação e bancar o desejo envolve fazer sacrifício, assumir escolhas e pagar por elas, com sangue muitas vezes. Certamente incluí renúncias, privações e provações- a palavra é RESPONSABILIDADE. A falta convoca o desejo, este por sua vez cobra o sujeito a se responsabilizar.
Se prender à fantasia é acreditar que tudo vai se resolver como que por mágica, sem esforço. Tal crença, ou ainda, acreditar que seu desejo está na vitrine do shopping, faz parte da mesma lógica de alienação. É doído ver pessoas queridas neste impasse, mas a melhor forma de ajudar, pode ser a ausência. Deixar na falta e provocar! Esperar e torcer para que o sujeito não mais repita o mesmo giro que o deixa tonto, e os seus amigos nauseados. A sua ajuda é leva-lo à uma decisão i-remédi-viável
Anderson Schirmer [CRP: 06/84324] é psicólogo da Rede Laços
Porque eu desejo impossivelmente o possível, porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser...
Fernando Pessoa