07/08/2025
Carmy de “The Bear” é um personagem que sempre mexe muito comigo. Ele me mobiliza diversas emoções: identif**ação, raiva, angústia, empatia… A série é fantástica justamente por nos provocar sensações tão intensas.
É impossível que quem sofre com a ansiedade não se identifique, pelo menos um tanto, com o Carmy. Ele experiencia doses cavalares de culpa, que o fazem anular toda a felicidade, prazer e satisfação (a cena na qual ele f**a preso no frigorífico deixa isso bem explícito).
A ansiedade — que muitas vezes vem acompanhada de todo um “pacote obsessivo”: pensamentos intrusivos, alguns rituais obsessivos, autocobrança e autopunição exacerbada — tem como fundo a culpa, mesmo que com raízes inconscientes. O medo intenso, como contribui brilhantemente Melanie Klein, é o medo de nossas partes amedrontadoras e ameaçadoras; medo “do monstro” que mora em todos nós, dos nossos pensamentos destrutivos, do potencial ameaçador e também destrutivo do nosso desejo… Na tentativa de negar tudo isso, por um medo desesperador de nós mesmos, “nos punimos” com pensamentos negativos intrusivos que anulam o prazer das experiências e despertam angústias infantis (como o medo do monstro que mora dentro do armário, que as crianças têm — que pode ser o medo do nosso próprio potencial destrutivo).
A ansiedade também gera um medo intenso de perder o que se tem de bom (muitas vezes, pela culpa de julgar que não merece possuir aquilo). É comum que, pela ansiedade, em um momento no qual se experiencie intensa ansiedade e satisfação, apareçam pensamentos catastróficos, anulando a felicidade vivida. É o medo de ter e não merecer, e assim perder.
Carmy parece se assustar mais com a calmaria do que com o caos. Tem, no fundo de sua ansiedade (assim como falei sobre o Marcus, de Ginny & Georgia), também um tanto de melancolia pelo luto de seu irmão. A culpa o faz permanecer colado ao objeto perdido, morto, o mortif**ando um tanto também.
Rupi Kaur diz que, para se curar, é preciso chegar à raiz da mágoa e abraçá-la até o talo. Assim é também com a culpa. É preciso acessá-la em suas profundezas, f**ar cara a cara com o medo. Dizer o indizível para, assim, se curar um tanto de si mesmo.