
15/01/2025
Filme: BABYGIRL (com spoiler, nos cinemas)
Às vezes é difícil saber em que medida as intenções dos criadores de um filme são originalmente críticas ou se é a visão crítica do público que enxerga elementos que aparecem na obra de forma involuntária. Esse parece ser o caso de Babygirl. Podemos abordar dois aspectos importantes: transformações na sexualidade dos personagens e o contexto social e institucional atual.
Os ótimos atores (Nicole Kidman, Antonio Banderas e outros) apresentam uma dinâmica interessante sobre as interações entre duas diferentes gerações. Os jovens – o estagiário, a assessora da CEO e as filhas do casal – revelam-se potentes, fortes, assertivos, sem culpas neuróticas e ensinam o casal mais velho a resgatarem e aceitarem suas sexualidades. Nesse tema, de certa forma, na grande parte das cenas a juventude “ajuda” e conduz os mais velhos, embora, em alguns momentos, os jovens revelem fragilidades que são acolhidas pela CEO, como na cena que o estagiário deita sua cabeça no peito da CEO.
No que diz respeito aos aspectos institucionais e sociais, surge com mais força a questão do quanto o filme propõe ou não uma visão crítica porque, apesar da transformação das sexualidades dos personagens, há um elemento que permanece inalterado: a estrutura e o funcionamento da empresa. Os personagens sofrem, descobrem prazeres e evoluem, mas a empresa não é afetada. Todos passam por mudanças no âmbito da vida privada, mas vivem amedrontados sobre quais seriam as punições caso a empresa soubesse da relação amorosa da CEO com o estagiário. O estagiário foi transferido para o Japão, a assessora desaparece da trama e a CEO termina com sua sexualidade assumida e “empoderada”. Apesar da riqueza das alterações nas vidas dos personagens no plano individual, a força transformadora das pulsões f**a reduzida a jogos se***is “divertidos” e inócuos para a empresa.