Medicina Intensiva Brasil

Medicina Intensiva Brasil Novidades e atualizações em medicina intensiva Página voltada à discussão de estudos e trabalhos na área de medicina intensiva.

Estimular discussão, aprendizagem e troca de experiências no manejo do paciente crítico.

20/03/2018

Breve história da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e o pulmão de choque

Nos anos de 1960 no contexto da guerra do Vietnã (1959-1975) uma grave doença que acometia agudamente ambos os pulmões começou a ser descrita. Se observou que em hospitais das bases militares americanas soldados com amputações traumáticas de membros, traumas graves não torácicos e hemorragia graves com choque hemorágico desenvolviam uma afecção pulmonar, a qual chamaram de Pulmão de Choque ou pulmão de DaNang (importante base americana à epóca).

O quadro respiratório não era imediato, surgia poucos dias após a lesão inicial. Diferente da segunda guerra mundial quando vidas eram perdidas ainda campo de batalha, nessa guerra resgates aéreos e por terra eram realidade e avançadas bases com atendimento médico eram disponibilizadas. Após a melhora do choque hemorrágico com expansão volêmica e cuidados como antibioticoterapia e cirurgia alguns pacientes em poucas horas ou dias deterioravam para um estado de franca hipoxemia e insuficiência respiratória refratária, com RX tórax com pulmões "brancos". Nesse época muito pouco poderia ser feito para tratar o pulmão de choque.

Na mesma época, clínicos também observaram que pacientes com doenças, inicialmente, não relacionadas a trauma e não pulmonares adquiriam um quadro hipoxêmico inexplicável, o que chamaram de Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto.
O pioneiro trabalho de Ashbaugh em 1967 relatou como 12 casos de SARA evoluíram e observou que a doença era caracterizada por um quadro inflamatório, agudo e difuso, ocasionado por aumento da permeabilidade vascular e perda de tecido aerado. A unica medida que á época se demonstrou útil foi o aumento da PEEP.

Nos ultimos 40 anos diversos trabalhos com enfoque principalmente na ventilação mecânica protetora e circulação foram desenvolvidos e os critérios diagnósticos frequentemente atualizados (Berlin 2015), apesar disso a mortalidade nos melhores centros ainda oscila entre 25-50% dos casos.

Sabemos que os pacientes portadores de DPOC grave e frequentes exacerbações apresentam pior prognostico a longo prazo, c...
13/06/2017

Sabemos que os pacientes portadores de DPOC grave e frequentes exacerbações apresentam pior prognostico a longo prazo, com maior mortalidade e reinternações frequentes. Dados de estudos prévios indicam que necessidade de ventilação não invasiva (VNI) na internação e gasometria arterial com hipercapnia persistente caracterizam o quadro mais severo e com maior mortalidade.


Na última edição do JAMA foi publicado o estudo "Effect of Home Noninvasive Ventilation With Oxygen Therapy vs Oxygen Therapy Alone on Hospital Readmission or Death After an Acute COPD Exacerbation: A Randomized Clinical Trial" com objetivo de investigar se pacientes com DPOC e hipercapnia persistente (pCO2 >= 53 mmHg) após a alta se beneficiariam de uma estratégia de ODP + VNI ou ODP isolada como medida para redução de mortes/reinternações.

Foi realizado um ensaio clínico randomizado fase 3 no Reino Unido que incluiu pacientes com DPOC após tratamento de exacerbação mas que persistiam hipoxêmicos e hipercápnicos (apenas se pH >=7,30 ou seja, compensados de acidose) 2-4 semanas após a alta. 124 pacientes foram elegíveis, e posteriormente foram randomizados 59 no grupo ODP isolado e 57 grupo ODP + VNI. O desfecho primário escolhido foi tempo de readmissão ou morte em 12 meses.

64 pacientes completaram o periodo de follow-up (28 pcts no grupo ODP e 36 no grupo ODP+VNI). A mediana de tempo para readmissão foi de 4,3 meses (IQR 1,3-13,8 meses) no grupo VNI+ODP x 1,4 meses (IQR 0,5-3,9 meses) no grupo ODP isolada, com hazard ratio ajustado de 0,49 (IC 0,31 - 0,77, p=0.002). O risco combinado de readmissão ou morte em 12 meses foi de 63,4% no grupo ODP + VNI x 80,4% no grupo ODP. A redução de risco absoluto foi de 17%. Ao final de 12 meses. 16 pacientes (28%) morreram no grupo ODP + VNI x 19 pacientes (32%) no grupo ODP isolada, sem diferença estatisticamente signif**ativa.


O que podemos concluir então?

-- Nessa população bastante selecionada, mas compativel a vida real (DPOC grave exacerbador, VEF1 < 1,0L e hipoxemia + hipercapnia persistente) sob terapêutica avançada - tripla terapia inalatória existe beneficio na associação de ventilação não invasiva com ODP visando redução de reinternações e mortes em 12 meses.

Mais informações no artigo original: http://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2627985

This randomized clinical trial compares the effects of home oxygen therapy with vs without home noninvasive ventilation (NIV) on time to readmission or death in patients with persistent hypercapnia after an acute chronic obstructive pulmonary disease (COPD) exacerbation.

13/01/2017

Novos guidelines para descontinuação de ventilação mecânica - 2016

No final de 2016 foi publicado um Clinical Practice Guideline da ATS em parceria com o American College of Chest Physicians sobre retirada de suporte de ventilação mecânica em pacientes críticos.
Um painel de especialistas realizou uma análise crítica da literatura e providenciou recomendações baseadas em evidências em 6 tópicos.

1. Para pacientes em VM > 24h dar preferência pelo teste de respiração espontânea com pressão de suporte (5-8 cmH20), evitar tubo T ou CPAP (evidência de qualidade moderada)
2. Para pacientes em VM > 24h, implementar protocolos visando minimizar sedação
3. Para pacientes em VM > 24h com alto risco de falência de extubação (idosos, comorbidades como DPOC ou IC e hipercapnia) implementar VNI imediatamente após extubação
4. Para pacientes em VM > 24h, implementar protocolos de mobilização precoce
5. Conduzir o período de desmame de VM > 24h com protocolos institucionais
6. Recomendado teste de cuff leak em adultos que já podem ser extubados e são alto risco para estridor pós-extubação (intubação traumática, IOT>6 dias, tubo endotraqueal largo, s**o feminino e reintubaçao não planejada). Caso o paciente falhe no cuff leak mas esteja pronto para extubação, é indicado um curso de corticóides sistêmicos 4h antes de tentar extubar.

Mais informações estão disponíveis no site
http://journal.publications.chestnet.org/article.aspx?articleid=2583277

Background An update of evidence-based guidelines concerning liberation from mechanical ventilation is needed as new evidence has become available. The American College of Chest Physicians (CHEST) and the American Thoracic Society (ATS) have collaborated to provide recommendations to...

13/02/2016

CHOQUE SÉPTICO EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS DIALÍTICOS

Infecções são as principais responsáveis por hospitalização e morte em pacientes com doença renal crônica dialítica. O quadro clínico da sepse grave e do choque séptico varia bastante quando comparamos pacientes dialíticos com não dialíticos e o risco de morte é até trezentas vezes maior do que na população geral.

Foi publicada recentemente uma coorte retrospectiva com mais de 10.000 pacientes que receberem tratamento para choque séptico em UTI, dos quais cerca de 800 eram dialíticos. Os pacientes foram avaliados para caracterizar o choque séptico quanto à patógenos, focos infecciosos, antibioticoterapia apropriada e mortalidade.

Notou-se uma alta taxa de infecções por candida e organismos multi-R em dialíticos, uma maior prevalência de infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter (ICSRC), peritonite e infecções de partes moles. O patógeno mais freqüentemente identif**ado em dialíticos foi o S. aureus, (cerca de 1/3 por MRSA) causando 20-40% das ICSRC. O atraso no início de antibioticoterapia adequada para o foco suspeito foi associada fortemente a aumento do risco de morte. Não houve diferença na mortalidade em 30 dias.

Clark E et al. Septic shock in chronic dialysis patients: clinical characteristics, antimicrobial therapy and mortality. Intensive Care Med (2016) 42:222–232.

13/02/2016

MANEJO DA HEMORRAGIA SUBARACNÓIDE GRAVE NA SALA DE EMERGÊNCIA

A hemorragia subaracnóide decorrente da ruptura espontânea de um aneurisma cerebral é caracterizada por uma complexa síndrome neurovascular e sistêmica, com alta morbimortalidade. A mortalidade em 30 dias alcança 30-35% dos casos, mas foi reduzida ao longo dos anos por medidas que incluíam o manejo intensivo das diversas complicações da síndrome.

Nos primeiros dias, o conjunto de dados clínicos, laboratoriais e de imagem auxilia em estabelecer prognóstico e possibilidades de recuperação do paciente. Dentre os fatores mais importantes estão o nível de consciência à admissão (Glasgow < 13 já indica prognóstico ruim), severidade do sangramento inicial e complicações graves precoces como hipertensão intracraniana e decorrente isquemia tecidual.

Com base em duas revisões sobre o assunto publicadas em revistas de impacto (a segunda revisão escrita por um brasileiro), seguem as medidas que devem ser consideradas ainda na sala de emergência durante o atendimento de um paciente com HSA.

1. Manejo inicial na Emergência:
* Estabilização respiratória com proteção de via aérea se ECG

27/01/2016

Existem benefícios na infusão contínua de beta-lactâmicos?

Beta-Lactam Infusion in Severe Sepsis (BLISS trial)

A antibioticoterapia otimizada é um dos caminhos para alcançarmos melhores resultados no tratamento de pacientes em sepse grave e choque séptico. Existem intervenções que são reconhecidamente benéf**as e outras que ainda são objeto de estudos. Nesse contexto se destacam as estratégias de infusão contínua de beta-lactâmicos, partindo do pressuposto farmacológico de que a eficácia bactericida é maior a depender de quanto maior o tempo que a concentração da droga livre no plasma f**a acima da concentração inibitória mínima. Existem dúvidas de que essa estratégia seka ef**az in vivo e leve a melhores desfechos.

O ensaio clínico Beta-Lactam Infusion in Severe Sepsis (BLISS) visava avaliar estes desfechos. Em uma população de 140 adultos com quadro de sepse grave, excluidos pacientes em terapia renal substitutiva. Demonstrou um possível benefício em aumentar taxa de cura clinica (56 versus 34 %, p = 0.011), mais dias livres de ventilação mecânica (22 versus 14 dias, p = 0.043) e maior taxa de alcança da meta PK/PD. Sem diferença na mortalidade em 14 ou 28 dias.

Apesar das limitações, o trabalho reforça possíveis benefícios já apontados em outros ensaios clínicos e meta-análises. Pode ser que o uso de uma bomba de infusão aumente a eficácia dos beta-lactâmicos? Aguardamos ansiosamente novos estudos nessa direção. No momento carecemos de evidências mais robustas para o uso destes dados em decisões à beira-leito.

Mais informações: Beta-Lactam Infusion in Severe Sepsis (BLISS). Intensive Care Med. 2016 Jan 11.

26/01/2016

Quais as melhores estratégias para o tratamento de infecções nosocomiais por Klebsiella pneumoniae pan-resistente?

Em 1996 foi relatado primeiro caso de KPC pan resistente aos antibióticos, e desde então temos caminhado bastante em novas terapêuticas. A progressiva aquisição de mecanismo de resistência por estas bactérias gram-negativas é notável, alcançando atualmente alta resistência à polimixina B/colistina.

Diversos trabalhos retrospectivos demonstram as terapêuticas que tem sido usadas pelo mundo como alternativa. De uma forma geral orientação é guiar-se por MICs e antibiograma, sempre levando em consideração risco x benefício de cada droga em particular, principalmente amicacina e polimixina (nefro e neurotoxicidade).

Os esquemas preferenciais são:
1. duplo carbapenêmico: ataque de ertapenem + dose de meropenem (com base no principio que a bactéria "gastaria" as carbapenemases para destruir o ertapenem, e o meropenem agiria com mais eficácia) + tigeciclina (se MIC favorável)
2. alta dose de meropenem + amicacina + polimixina B + tigeciclina (se MIC favorável)
3. amicacina + polimixina B
Esquemas de resgate com fosfomicina EV se MIC favorável

Mais informações: Morrill HJ, Pogue JM, Kaye KS, LaPlante KL. Treatment Options for Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae Infections. Open Forum Infect Dis. 2015 May 5;2(2)

25/11/2015

Intensive Care Med (2015) 41:2039–2056

Nestes últimos meses foi publicado no Intensive Care Medicine o novo guideline europeu para cuidados pós-parada cardiorrespiratória. O documento reforça principalmente:

Neurológico: prognosticar após mínimo de 72h de observação. Quando o fizer, usar métodos multimodais e baseado tanto em exame clínico, laboratório, imagem e EEG para prognóstico. Reflexos motores de nervos cranianos são afetados pelo uso de sedativos e bloqueadores neuromusculares. Dessa forma deve-se evitar fazer a avaliação sob uso destas dr**as. Mioclonia é a manifestação mais freqüente motora, e seu signif**ado é incerto, quando duradoura por > 30 min pode sugerir estado mioclônico. Média de tempo para os pacientes acordarem, quando isso ocorre: 94% dentro de 4.5 dias. Uso de profilaxia para convulsão ou estado de mal não é recomendado.

Imagem cerebral após lesão hipóxico-isquêmica: TC com edema cerebral, atenuação da substância cinzenta. RNM mais sensível para os achados.

Cardiovascular: PAM acima de 65 mmHg, PAS>100 mmHg, otimizar BH e hemodinâmica. Ênfase na coronariografia precoce quando a suspeita é de PCR por causas cardíacas.

Respiratório: manter normocapnia, controle gasométrico

Renal: cuidados para evitar IRA, controle de Na+, K+
Metabólico: manter normoglicemia < 180 mg/dL / Temperatura: manter afebril, com temperatura alvo 32-36º

Reabilitação: Organizar serviço de cuidados especializados em reabilitação pós-PCR

Casos Clínicos ECG 01: Mulher de 70 anos, miocardiopatia hipertensiva prévia e quadro de FA crônica há muitos anos. Iníc...
23/11/2015

Casos Clínicos

ECG 01: Mulher de 70 anos, miocardiopatia hipertensiva prévia e quadro de FA crônica há muitos anos. Início de amiodarona há poucas semanas. Evolui com instabilidade hemodinâmica grave durante internação por IC descompensada e Pneumonia.

ECG prévio com QT longo, secundário ao uso prévio de amiodarona.

Diagnóstico provável: Torsade de Pointes

Já conhece o Critical Care Reviews?? Este site britânico garante várias horas baixando artigos de acesso gratuito acerca...
23/11/2015

Já conhece o Critical Care Reviews??

Este site britânico garante várias horas baixando artigos de acesso gratuito acerca de temas relevantes em medicina intensiva.

É um belo trabalho de compilação de artigos relevantes, que inclui diversos revistas, algumas muito conhecidas e outras não.
Os artigos estão organizados em sessões por temas, doenças, terapêutica e procedimentos, de acordo com as especialidades.

O registro gratuito no site garante o recebimento do "journal watch", que traz os artigos mais importantes da semana.

http://www.criticalcarereviews.com/

Casos clínicos em radiologia e diagnóstico por Imagem!!Acesse o link abaixo para treinar suas habilidades em casos clíni...
23/10/2015

Casos clínicos em radiologia e diagnóstico por Imagem!!

Acesse o link abaixo para treinar suas habilidades em casos clínicos, interpretando tomografias de crânio voltadas ao médico de emergência/UTI.

http://radiopaedia.org/playlists/185

23/10/2015

Posso tratar meu paciente com pneumonia comunitária somente com ceftriaxone ?

Monoterapia com Beta-lactâmico pode ser uma opção simples e ef**az para tratar Pneumonia Comunitária (PAC) ?

O estudo CAP-START foi um interessante ensaio clínico holândes publicado em abril deste ano no NEJM. Os autores trataram casos suspeitos ou confirmados de PAC com antibioticoterapia empírica, com monoterapia com beta-lactâmico ou associação beta-lactâmico com macrolídeo ou quinolona. O desfecho primário foi a mortalidade em 90 dias. Os resultados apontaram não-inferioridade do grupo que recebeu somente beta-lactâmicos.

Postma DF et al. Antibiotic treatment strategies for community-acquired pneumonia in adults. N Engl J Med 2015 Apr 2; 372:1312.

Endereço

São Paulo, SP

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