06/06/2025
Reflexões de um anestesiologista sobre o que é cuidar em silêncio!
Sou seu anjo da guarda.
Te velo no seu sonho enquanto te mutilam, cortam, suturam e, ainda assim, te espero acordar com um sorriso.
Muitas vezes ouço: “já acabou?”.
Nessa hora sempre penso: “putz! Sou f**a mesmo.”
Não por vaidade. Mas porque, entre os apitos ritmados dos monitores e a precisão dos segundos, eu fui escudo. Fui presença. Fui abrigo.
Você não vai lembrar do meu rosto. Talvez nem saiba meu nome. Mas, por instantes, a tua vida esteve nas minhas mãos. E eu segurei firme, como quem segura a alma de volta.
Enquanto os bisturis dançavam, fui eu quem te mantive num lugar onde a dor não existe.
Fui ponte entre a lucidez e a entrega. Entre o medo e a confiança.
Fui aquele que garantiu que tudo pudesse acontecer sem que você sentisse nada.
O invisível que sustenta o essencial.
Anestesiologia é uma ciência de precisão. Cada dose, cada segundo, cada resposta do corpo exige atenção total. Mas também é arte. É escuta do invisível. É perceber o que o paciente não pode dizer. É criar um estado de suspensão entre o corpo e a consciência, entre o risco e a segurança.
É ser protagonista sem nunca aparecer.
E mesmo assim, o reconhecimento muitas vezes se resume à pergunta: “você é só o anestesista?”
Sim. Eu sou. E é nesse “só” que mora uma das maiores responsabilidades da medicina.
A glória silenciosa.
Quando você acorda no pós-operatório, calmo, sem dor, achando que tudo foi rápido e simples…
eu sorrio por trás da máscara. Porque sei o que fiz por você mesmo que você nunca saiba.
Não espero medalhas. Nem palmas. Mas confesso: quando tudo termina bem, quando você desperta sereno…
eu sinto algo que não sei explicar.
Não é vaidade. É paz.
Para quem lê isso…
Se você é paciente, agora sabe: houve alguém ao seu lado, mesmo quando você dormia.
Se você é colega da saúde, talvez se veja aqui nesse papel essencial e tantas vezes invisível.
E se você é anestesiologista, de corpo ou de alma, espero que essas palavras sejam um espelho. E um abraço.
Na próxima vez que alguém disser: “é só o anestesista”, sorria por dentro.
Porque ser “só” isso… é ser tudo.
(Autor Desconhecido)