
27/07/2025
Ali, cercada pelos destroços, Gaza chora em silêncio, ou ninguém ouve seus gritos. Não é um choro qualquer, é o lamento de mães que assistem seus filhos morrerem de fome, enquanto se veem com os braços vazios, sustentando apenas as lembranças do filho que se foi. Ao fundo, ouvem-se as vozes de outras crianças que sonham em silêncio, pois até os sonhos agora tremem de medo.
Ali, um simples pão é dado como milagre, uma gota d’água reluz como santuário, e os corpos viram sombras antes do tempo. A fome não caminha — se arrasta, aparece como um vazio que devora, que aniquila o corpo e liberta a alma adormecida. O pai olha para o filho e no lugar de vê apenas carne, vê culpa. A mãe beija o rosto daquela criança já fria e se interroga se amar, na verdade, não é como ir perdendo um pedacinho da sua própria vida, a cada dia.
Gaza é como um reflexo sombrio dos tempos atuais — não apenas um local de guerra devastadora do descaso generalizado que assistimos com o nó na garganta e a vontade de chorar. É uma ferida profunda no tecido da história em que a dignidade escorre sem ser contida por ninguém. Quando uma criança sucumbe ali não é apenas a perda de mais uma vida inocente; é a extinção de esperanças que se apagam, é a poesia que nunca será escrita; é o fracasso da evolução humana que se recusa a avançar. Não estamos lidando só com Gaza, o que está verdadeiramente em jogo é o nosso futuro coletivo, caso continuemos a ignorar esse cenário desolador.
(Carlos São Paulo)