16/07/2025
Ofereço-me vacuidade.
Desde que comecei a construir uma qualidade de bem-querer para com o corpo que sou, perdi o tesão pela acelerada forma de estar nos dias, nos lugares, de olhar para as pessoas, de sentir algo, de fazer o meu trabalho, de ter listas inflexíveis de tarefas.
Não quero mais que a ligeireza seja o pavimento da minha vida e, sempre que consigo escolher, me lanço no lento, no menos, no pouco. Notei que, quando estou em uma semana com mais turbulências, por exemplo, fico imediatamente estressada se não crio meus minutos de inutilidade - me sinto apertada, tensionada, ansiosa, cobrando-me finalizações e um retorno imediato ao vagaroso. Ou seja, o corpo é profundamente alcançado pela parte seca do automatismo nesses momentos.
Eu quero tempo de experimentar a calma, de sentir uma árvore, de restabelecer o solo que piso, de me encantar com uma paisagem. Eu quero tempo de tocar a pele das coisas, de notar a minha respiração, quero espaço livre para dançar no meio de uma quinta-feira, de deitar no chão e escutar uma música. Sinto a vida mais palpável assim: quando provoco prazeres cotidianos, quando me escuto e me vejo, quando recordo que a vida é uma só.
A lentidão trouxe mais verdade e presença ao que movo, mais limites aos excessos, trouxe reconstrução do sentido de sucesso e um senso de enraizamento em quem sou, no que quero, no que produzo.
Ofereço-me vacuidade quando, intencionalmente, acordo mais cedo para ter tempo comigo antes de ir para o mundo, quando saio com antecedência para um compromisso fora de casa, quando nego trabalhos que me levariam a uma vertigem, quando recoloco o corpo no centro da experiência - já que é por onde a vida passa e acontece todos os dias.
Eu falo pra você que tem corrido muito nos últimos dias, meses ou anos: o rápido pode levar a uma devoração dos nossos apetites, a um embrutecimento das nossas partes sensíveis, pode transtornar relações importantes. Como o lento pode ser gesto nascente nos seus dias, apesar de? O que dá para fazer? Como criar vacuidades, vez em quando, para não se perder de si, para ir além da sobrevivência?
Talvez seja preciso parar e sentir.