05/05/2025
O Princípio Narciso
Minha filha havia telefonado várias vezes para dizer-me: “Mãe, tens que vir para ver os narcisos antes que se acabem.” Eu desejava ir, mas era um caminho de duas horas desde Laguna até Lake Arrowhead. “Irei nesta terça”, prometi-lhe com certa resistência, quando chamou pela terceira vez.
Terça amanheceu frio e chuvoso. Sem coragem, pois eu havia prometido, fui dirigindo até lá de mau humor. Quando finalmente entrei na casa de Carolina, os gostosos risos das crianças felizes me deram as boas vindas. Encantada, abracei e saudei os meus netos.
“Esqueça os narcisos, Carolina! O caminho está intransitável com estas nuvens e esta neve, e não há nada neste mundo, há não ser você e estes pequenos, que eu desejei tanto em ver, que me faça viajar um metro a mais.”
Minha filha sorriu e disse-me calmamente: “Nós dirigimos nestas condições o tempo todo, mamãe.”
“Bem”, certifiquei-a, “não dirigirei mais até que abra claridade novamente, e então será para eu voltar para minha casa!”
“Mas primeiro vamos ver os narcisos. São somente umas poucas quadras,” disse Carolina. “Eu dirigirei, estou acostumada com isso.”
“Carolina”, disse firmemente, “por favor.”
“Não te preocupes, mãe, está tudo bem, te asseguro. Nunca te perdoarias de ter perdido esta experiência.”
Depois de uns vinte minutos, dobramos um íngreme caminho à esquerda e vimos um pequeno templo. Do outro lado do templo, vi uma placa feita a mão, com uma flecha, que dizia: “Jardim de Narcisos”. Saímos do carro, cada uma pegou uma criança pela mão, e eu segui Carolina pelo caminho. Então, ao dobrar uma curva, olhei e fiquei boquiaberta. Diante de mim estava a vista mais gloriosa.
Parecia como se alguém tivesse tomado uma enorme tina de ouro e a tivesse derramado sobre o cume do monte e suas ladeiras. As flores estavam plantadas em majestosos desenhos amontoados, grandes faixas e tiras de um laranja intenso, branco cremoso, amarelo citrino, rosa salmão, amarelo manteiga e outras cores mais. Cada variedade de diferentes cores estava plantada em grandes grupos, de tal maneira que se amontoavam e ondulavam como um rio somente, com sua própria cor e único matiz. Havia cinco acres de flores, uns dois hectares e meio.
“Quem fez isso?”, perguntei a Carolina.
“Uma mulher nada mais”, respondeu Carolina. “Ela vive neste terreno. É a sua casa.” Carolina apontou para uma casa bem cuidada, pequena e modestamente assentada no meio de toda essa glória. Caminhamos até a casa.
No pátio, vimos um letreiro. “Respostas as perguntas que eu sei que estás fazendo”, dizia o cabeçalho. A primeira resposta era singela: “50.000 bulbos.” A segunda resposta era: “Uma de cada vez, por uma mulher. Duas mãos, dois pés e um cérebro.” A terceira resposta era: “Comecei em 1958.”
Para mim, esse momento foi de uma experiência de vida. Pensei nesta mulher que nunca havia conhecido, que havia a mais de cinqüenta anos começado a plantar, um bulbo de cada vez, nesta sua visão de beleza e alegria de um monte obscuro e solitário. Plantando um bulbo de cada vez, ano após ano, esta mulher desconhecida havia trocado para sempre o mundo em que vivia. Um dia cada vez, ela havia criado algo de extraordinária magnificiência, beleza e inspiração. O princípio de seu Jardim de Narcisos ensinou um dos grandes princípios para celebrar.
Isto é, aprender a fazermos conforme nossas metas e desejos um passo de cada vez – um pouco, um passo de bebê cada vez – e aprender a amar o que se faz, aprender a usar a acumulação do tempo. Quando multiplicamos minúsculos espaços de tempo com pequenos incrementos de esforço diário, encontramos que podemos realizar coisas magníf**as. Podemos trocar o mundo...
“fiquei triste, de certo modo”, admiti a Carolina. “O quê eu teria logrado se eu tivesse pensado em uma meta maravilhosa há uns trinta e cinco anos ou quarenta anos atrás, e tivesse eu trabalhado nessa meta ‘um bulbo de cada vez’ através de todos esses anos? Não posso mais pensar no que eu poderia ter realizado!”
Minha filha resumiu a mensagem do dia de maneira direta: “Começa amanhã”, disse.
Ela estava certa. É tão sem sentido pensar nas horas perdidas de ontem. A maneira de fazer de aprendizagem uma lição de festa em vez de uma causa para pesar é perguntar-se: “Como posso usar isto hoje?”
Use o princípio do Narciso.
Não espere...
Até que teu carro ou tua casa estejam pagos.
Até que consigas um novo carro ou uma nova casa.
Até que termines a escola.
Até que regresses a escola.
Até que limpes tua casa.
Até que organizes tua garagem.
Até que limpes teu escritório.
Até que baixes cinco quilos.
Até que aumentes cinco quilos.
Até que te cases.
Até que te divorcies.
Até que tenhas filhos.
Até que teus filhos vão à escola.
Até que seus filhos saiam de casa.
Até a primavera.
Até o outono.
Até o inverno.
Até que tu morras...
Não existe tempo melhor que o agora para ser feliz. A felicidade é uma viagem, não um destino. Assim, trabalha como se não necessitas de dinheiro. Ama como se nunca tivesses sido magoado. Dança como se ninguém tivesse olhando.
Não tenhas medo de que tua vida termine, tenha medo de que não comece.