26/06/2025
Não assumir a culpa é, muitas vezes, uma estratégia psíquica para evitar o confronto com a própria castração. Freud já nos alertava, o ego não é senhor em sua própria casa. Reconhecer a própria responsabilidade é tocar na falta, no limite, no fracasso do ideal narcísico. Ao culpar o outro, o sujeito se defende de um eu que não suporta se ver falho. Projeta no mundo o que recusa em si, o erro, a perda, a insuficiência. É uma recusa do real e um pacto com o imaginário, onde o outro é sempre o carrasco e ele, eternamente vítima.
Mas o preço é alto. Porque ao se proteger da culpa, se protege também do desejo, esse que só floresce quando o sujeito se reconhece implicado. A análise, nesse sentido, não ensina a acusar o outro, mas a habitar a própria falta. Não para afundar nela, mas para nela inscrever um estilo. Um desejo que se sustente apesar, e por causa, da queda do ideal.
Reposted from