12/08/2025
O excesso da criação também traumatiza. Só que de um jeito silencioso, muitas vezes invisível.
Crescer cercado de cuidados em excesso pode parecer o cenário ideal, mas existe um limite entre proteção e sufocamento. Quando os pais querem resolver tudo, decidir tudo, evitar qualquer frustração, impedem que o filho aprenda a lidar com a vida. E é justamente aí que mora o trauma: na falta de espaço para errar, escolher, cair e levantar por conta própria.
O filho cresce sem autonomia, mas acha que é insegurança natural. Cresce com medo do mundo, mas acha que é só cautela. Cresce sentindo culpa por querer liberdade, porque aprendeu que o amor só existe se for obediente. E mais tarde, já adulto, se cobra por não saber tomar decisões, por depender emocionalmente dos outros, por não conseguir dizer “não” sem sentir que está traindo alguém.
O excesso de presença também pode ser ausência de escuta. O excesso de cuidado também pode ser uma forma de controle. O excesso de zelo também pode dizer: “Você não é capaz sozinho.”
E o pior é que tudo isso vem do amor. Mas um amor que não sabe permitir crescimento, que confunde proteção com posse, que acredita que sofrimento deve ser evitado a qualquer custo. Só que a dor faz parte da formação. Superproteger é impedir o outro de desenvolver força.
Criar é dar raiz, mas também é dar asa. É ensinar a voltar para casa, mas permitir que se vá. É amar o suficiente para estar presente, e amar ainda mais para saber quando recuar.
Talvez você não tenha sido negligenciado. Mas pode ter sido sufocado. E isso também deixa marcas.
Será que o que hoje você chama de dificuldade é apenas o reflexo de uma infância onde te deram tudo, menos a chance de ser você?
Évelin Frassão
Psicóloga & Neuropsicóloga
CRP: 06/170720
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