23/04/2025
Pensar em um mundo onde não seja necessária uma dose de performance, ao meu ver, é ilusório.Seja no ambiente de trabalho, em uma conversa com a família ou até mesmo escolhendo o que postar nas redes sociais. Isso pode acontecer como forma de proteção, para sobreviver em determinados contextos — como o meio acadêmico — outras vezes, é por acreditar que é assim que deveria ser… para continuar sendo amadas, aceitas, vistas.
Como se existisse um jeito certo de viver.
A rede social é um exemplo claro de como performar uma vida feliz e "bem resolvida" virou regra. É real? Não.
Mas acontece.
Quando a performance se torna a base de quem somos, é aí que complica. Como construir uma identidade quando se está seguindo um roteiro? E, vamos combinar: na nossa sociedade, existe um manual pra tudo. Como conseguir se ver, de fato, sendo que tudo o que escapa desse manual é considerado errado ou anormal?
Um exemplo: se for mulher, espera-se que seja sentimental, delicada, sensual, que queira ser mãe e que assuma todas as responsabilidades do mundo…
Mas nem toda mulher vai querer ser mãe. Nem sempre o s**o define se alguém é mulher. E exercer feminilidade não significa, necessariamente, ser hétero.
Mas será que esse modelo de mulher que se espera — sentimental, delicada, sensual — vale para todas? Ou é um ideal construído a partir da mulher branca, cis, magra, de classe média?
O que acontece quando se é uma mulher negra, trans, gorda, periférica? Existe espaço para ser delicada? Ou só sobra força, resistência, luta?
São tantos atravessamentos.
Uma vez vi, em um documentário, que temos cinco segundos para tirar conclusões sobre alguém — com base apenas no olhar. Desconstruir esse imaginário se torna quase um dever, para que possamos simplesmente existir, sem a pressão constante de precisar performar.
Em uma das minhas sessões, minha analista disse algo que ficou pra sempre em mim:
essa autorização para sermos quem queremos (e podemos) ser não virá do outro, mas de nós mesmas.
É isso.
É como no documentário da Anitta, quando ela olha pra mãe e diz:
“Eu sou doida, eu sou over, eu gosto de dançar, eu sou animada, eu sou alegre, e eu sou feliz sendo assim, do jeito que eu sou.”
É u