23/09/2020
A Universidade Federal de São Paulo me convidou para dar uma aula aos alunos de Psicologia.
Me chamaram para que eu mostre o que eu faço nos casos de Depressão.
Este é um dos maiores privilégios da minha vida e, com isso, hoje, aos vinte e pouco, marca-se o auge da minha carreira.
E então, não sei o que houve.
Mas lembrei de tudo até aqui.
Lembrei do caminho torto.
Da parada respiratória no nascimento.
Da história que meu avô teve que morrer pra eu nascer.
Da coisa do tio dizer que meu destino era a febém.
Lembrei que eu devia dar trabalho mesmo. Lembrei da professora de reforço que ia pra casa tentar me dar aula e se demitiu. Lembro dela ir embora chorando.
Me lembrei mesmo de como eu fora incompetente na maior parte das coisas que me propus.
Lembrei da avó. E todas as tardes que ela mandava voltar da rua, tomar banho e, então, preparava alguma coisa pra gente comer. Obrigado por ter cuidado e criado a gente, minha avó.
Lembrei do meu irmão. E lembrei da vez que ele não deixou eu morrer afogado. Na vez que ele não deixou que eu só tivesse vivido 10 aniversários. Te amo, meu irmão.
Lembrei da meningite, Mãe. Da madrugada em que eu não conseguia abrir os olhos. De você segurando minha mão naquela mesa fria. E de eu e você, na sala isolada, e você sem usar a máscara pra eu não f**ar triste.
Lembrei, então, das manhãs frias em que você equilibrava a gente naquela bicicleta curta, em direção à creche, em direção, no fundo, à alguma coisa.
Foi aí que eu lembrei que sempre foi a gente.
Foi aí que me dei conta que deu certo, mãe.
Deu certo.
Amo vocês.