30/10/2021
Hoje vamos falar sobre Ansiedade. Mas não a ansiedade patológica. Embora eu pretenda abordar transtornos de ansiedade em outros momentos com vocês, por hora eu gostaria de falar sobre a ansiedade como um conjunto de comportamentos que poderíamos chamar de “normal” ou “natural”.
Mas aí você vai me perguntar, poxa Ruan, mas como assim pode ser normal se sentir ansioso? Calma. Primeiro vamos entender o que é a ansiedade e de onde ela vem. Precisamos compreender essa emoção como um padrão de comportamentos presente não apenas na espécie humana, mas também em outras espécies animais.
A Ansiedade nada mais é do que um padrão de comportamentos selecionados na história de vida da espécie por sua importância para a sobrevivência da mesma. Olha só: vocês devem ter ouvido falar de Darwin e da Seleção Natural, ne?
Então, basicamente, esta teoria fala sobre a sobrevivência do mais adaptado. Ou seja, os indivíduos daquela espécie que melhor se adaptarem ao ambiente onde vivem terão maiores chances de sobreviver... consequentemente, maiores chances de se reproduzir e passar seus genes adiante. Essas tais características também são passadas adiante a medida que mais indivíduos com essas características adaptativas sobrevivem e se reproduzem.
Isso signif**a dizer que hoje nós somos o que somos por que no passado, nossos ancestrais que possuíam determinadas características conseguiram sobreviver e passar seus genes adiante, daí nós herdamos enquanto espécie uma série de comportamentos que vamos chamar de reflexos, mas não só! Também nossas características físicas passam por essas transformações pelo mesmo motivo de adaptação – ou de atração sexual, se essa característica não competir com a adaptação. Aquilo que não é útil, tende a desaparecer ao longo das gerações – como alguns de nossos dentes, por exemplo. Já o que é útil vai se aperfeiçoando, como nosso cérebro, visão, postura, polegar opositor, etc...
Onde entra a ansiedade nisso tudo? É importante dizer antes de mais nada que a ansiedade está relacionada com outra emoção: o medo. Esta emoção, claramente foi selecionada por questões de sobrevivência. O medo acontece diante de uma ameaça que se apresenta no ambiente. O organismo é então impelido a se preparar para reagir diante dessa situação de ameaça.
Imagine você que os primeiros seres da nossa espécie se desenvolveram e viveram por muito tempo em um ambiente muito mais hostil do que o que vivemos hoje. Aqueles indivíduos que tiveram reações de medo diante de uma ameaça, seja para atacar ou para fugir dessa ameaça, tiveram mais chances de continuarem vivos.
A ansiedade, diferente do medo, não acontece diante da ameaça ali presente, mas pelo anúncio dessa ameaça. Ela é a sinalização de que uma situação prejudicial para o indivíduo pode ocorrer. Isso quer dizer que se sentir ansioso diante de uma situação específ**a (que gere algum tipo de aversividade para a pessoa) é uma condição que passou por um aprendizado. O organismo, neste caso, tem aprendido que aquela situação específ**a é aversiva, representa uma ameaça.
A ansiedade, por sua vez, tornou-se adaptativa a medida que estar atento e se preparar para o perigo antes mesmo que ele se apresente também favoreceu a sobrevivência desses indivíduos. Ou seja, aqueles indivíduos ansiosos, que estavam preparados para uma possível ameaça tinham mais chances de reagir caso ela aparecesse.
Até hoje a ansiedade é um comportamento adaptativo se pensarmos, por exemplo, que é ela que te faz olhar pros lados ao atravessar a rua, ou te faz estudar com antecedência para uma prova difícil.
Há sobre a ansiedade, porém uma característica importante que é a desproporcionalidade dela em relação a ameaça futura. Ou seja, a emoção é forte demais ou longa demais para uma situação que não oferece tanto perigo. Mas se não oferece tanto perigo, então por que eu não consigo controlar minha ansiedade muitas vezes?
Lembra que a gente falou sobre comportamentos reflexos lá atrás? Então, a maioria desses comportamentos são inatos, ou seja, eu enquanto indivíduo não preciso aprendê-los, pois se tratam de uma programação mínima que cada espécie possui para que seus indivíduos comecem a interagir com o ambiente e assim terem chances de sobreviver.
Sempre envolve a sobrevivência, óbvio! Cada espécie vai ter comportamentos reflexos específicos de acordo com as demandas adaptativas do ambiente onde seus indivíduos vivem. Comportamentos reflexos não dependem da nossa vontade para acontecer. Se trata de uma relação estímulo–resposta. Ou seja, sempre que determinado estímulo é apresentado, determinada resposta (comportamento) irá ocorrer. Emoções como o medo estão ligadas a comportamentos reflexos. Por exemplo, você se assusta e sente medo diante de um barulho estridente. Não é algo que você controla. Sua pupila dilata no escuro e se contrai na luz também sem que dependa da sua vontade.
Existe, porém, uma maneira de aprendermos novos reflexos. Que é o Condicionamento Pavloviano. Mas isso é assunto para um outro vídeo. Entendam apenas que é através desse condicionamento que situações que antes não eliciavam uma reação específ**a passam a eliciá-la. Isso explica, por exemplo, você sentir raiva diante de situações específ**as. Note que essas situações podiam ser neutras para raiva, mas passaram a eliciar comportamentos de raiva em você em determinado momento na sua história de vida – Condicionamento Pavloviano.
É esse aprendizado que faz com que situações que antes não te causavam raiva, passem a causar... Situações que antes não te causavam medo, passem a te causar... da mesma maneira acontece com a ansiedade. Há sempre um estímulo no ambiente que desencadeia todas as reações que chamamos de ansiedade, mesmo que a pessoa não perceba – e geralmente não percebe mesmo.
Mas até aí pode não haver problema. É natural nos sentirmos ansiosos diante de várias situações cotidianas. E isso não necessariamente é um problema ou pode não vir a ser um problema. Se você consegue desenvolver suas atividades sem nenhum prejuízo e se essas sensações não ocupam uma parte considerável do seu tempo ou ainda se não causam para você um sofrimento substancial, não há com o que se preocupar.
É claro que há maneiras de se prevenir e de melhor lidar com os sintomas da ansiedade, seja ela normal ou patológica. Mas isso é assunto para os próximos textos. Deixe abaixo o seu comentário e me conta se você gostou desse assunto e se quer saber mais!
Karlos Ruan Barbosa Freire
📌 Psicólogo – CRP 11/13880