24/06/2024
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus é comemorada na segunda sexta-feira, após a Solenidade de Corpus Christi. Além disso, essa devoção também é cultivada pela Igreja Católica ao longo de todas as primeiras sextas-feiras de cada mês do ano. Consiste na veneração do Coração de Jesus, do mais íntimo de Seu Amor.
No Antigo Testamento, a palavra “coração”, no caso do ser humano, tem dimensão fisiológica e antropológica: significa o órgão anatômico e, também, simboliza a sede dos sentimentos, das emoções, dos desejos e das aspirações. O coração é “espaço” íntimo e oculto do ser humano. É o centro das decisões, da responsabilidade, do conhecimento e da atividade da vontade. Portanto, o vocábulo coração, em seu aspecto antropológico, representa a interioridade, a racionalidade e a moralidade. O coração não designa uma parte ou uma dimensão do ser humano, mas o representa em sua totalidade. O ser humano todo é coração.
No plano antropológico, o coração, pela sua importância fisiológica, pode ser compreendido como o símbolo que representa a realidade da totalidade do corpo. Aqui o termo “símbolo” consiste na presença da própria realidade simbolizada. O símbolo não é um substituto de uma realidade ausente, mas a auto manifestação da realidade simbolizada.
Assim, onde está o coração humano encontra-se a totalidade do ser. O coração é o símbolo fisiológico e antropológico da realidade global da pessoa. Cada parte do corpo pode expressar o ser humano na sua totalidade, uma vez que tem em si a força, as propriedades e a função simbólica do todo, ou seja: a parte é consubstancial do todo.
No plano cristológico, o coração de Jesus é o símbolo-realidade da integralidade de sua pessoa, história e missão. O coração é o símbolo e Jesus é a realidade simbolizada. A devoção ao coração de Jesus não significa um culto dirigido pontual e especificamente ao seu coração fisiológico, enquanto órgão separado da sua totalidade corpórea, humana e divina. Não é culto a um membro da anatomia de Jesus Cristo, isolado do conjunto da história de sua vida e de seu mistério. O coração é o símbolo-realidade da totalidade humano-divina de Jesus Cristo.
Segundo o Papa Pio XII, na encíclica Haurietis aquas (1956), a veneração ao coração de Jesus “funda-se no fato de que o seu coração, sendo parte nobilíssima da natureza humana, está perfeitamente unido à pessoa do Verbo de Deus. Portanto, é dever tributar-lhe o mesmo culto de adoração com que a Igreja honra a pessoa do próprio Filho de Deus encarnado”. Assim, como onde está uma Pessoa Divina da Trindade está toda a Trindade, logo a devoção ao coração de Jesus Cristo, enquanto símbolo de sua realidade-totalidade, é uma adoração à própria Trindade. Adorando o coração de Jesus Cristo, eu adoro o Deus-comunhão que assumiu radicalmente a condição humana. O coração de Jesus é símbolo do mistério trinitário do Criador. Nele, está condensada a história de Deus, que fez comunhão com os seres humanos. É o símbolo-realidade da história do amor do Pai pela humanidade.
A vida e obra de Jesus prolongam-se na Igreja e nos sacramentos. Então a veneração ao coração de Jesus é símbolo da comunhão com todos os crentes, porque a Igreja é continuadora do mistério de Cristo. Como a Igreja se concretiza e se atualiza nos sacramentos, logo o coração de Jesus é símbolo da atuação da graça de Deus nos sinais sensíveis da nossa realidade espaço-temporal.
Enfim, por meio dessa devoção tem-se acesso aos principais mistérios da fé cristã: à pessoa de Cristo, à Trindade, à Igreja, aos sacramentos etc. No coração de Jesus estão abrigadas a história da relação de Deus com os seres humanos e a história da relação destes com Deus.
Sagrado Coração de Jesus, eu confio em vós!”
Dom Antônio Carlos Félix – Bispo de Governador Valadares