22/07/2024
Estou só, morando em uma cidade diferente, trabalhando em casa/ online, filhos crescidos. Sou psicóloga, mas antes disso sou humana, tenho experimentado solidão. Fazer algumas refeições fora tem sido uma das estratégias para interagir com gente de perto.
Hoje, num café local, vi 5 pessoas, todas com seus respectivos celulares. Duas dessas pessoas dividiam uma mesa, um casal? Talvez. Todos os presentes exercitavam apenas a visão periférica ao receber seus pedidos.
Confesso ter me sentido estranha como observadora, sem usar minha tela e paradoxalmente, para pertencer, saquei meu celular. Fugi da tentação da abundancia rasa de informação e veio a vontade de escrever, falar por aqui o que eu gostaria de conversar com alguem. Olhando esse casal me lembro da minha experiência conjugal, quando me recusava continuar um assunto se o pai dos meus filhos pegasse o celular. As vezes ele não se incomodava em não saber o resto da história. Mais de 10 anos de divórcio me separa desse fato e a solidão e um café me fizeram lembrar o quanto nos rejeitamos. O celular foi só mais um dos recursos de isolamento. De quantas fugas se faz uma relação, conjugal, parental, fraterna, de amizade... E do que fugimos? Da clareza que o outro não atende ao nosso ideal? Pois é, o pensar, o agir, o estar do outro não dá para 'arrastar para cima' se não nos agrada. E então o celular vem, como rota de fuga do real e conectado ao mundo, cheio de filtro e superficialidade, mostrando só a 'melhor versão de si mesmo' ainda que todas as demais versões estejam em frangalhos.
E cada um continua sozinho, na mesa do café, na família, no casamento, na multidão.
Bem que eu podia ter postado só um bom dia com flores e uma xícara de café. Mas sou assim também, cheia de reflexões, boa semana!