29/03/2025
O B***O, O LEÃO E A FOME DO PODER
Na aldeia onde o sol nasce preguiçoso sobre os campos dourados, havia um b***o que sempre cumpria o seu papel com humildade. Carregava fardos pesados, suportava o chicote dos impacientes e aceitava o seu destino sem questionar. No entanto, um dia, por razões desconhecidas, a aldeia passou a tratá-lo de forma diferente.
De manhã, quando passava pela praça, os aldeões saudavam-no com reverência. Quando zurrava, os jovens aplaudiam-no como se estivessem a ouvir um discurso inspirador. Quando parava no caminho, ninguém o apressava; ao contrário, esperavam pacientemente, como se ele estivesse a tomar uma grande decisão. O b***o, acostumado à indiferença, começou a acreditar que algo dentro dele havia mudado. “Talvez – pensava - eu sempre tenha sido mais do que um b***o”.
Com o tempo, passou a caminhar com ares de grandeza. O seu zurrar, antes humilde, tornou-se um bramido altivo. Exigia o melhor feno, o abrigo mais confortável e a primeira palavra em todas as decisões da aldeia. Até que um dia, ao ver o seu reflexo nas águas calmas do rio, sentiu-se surpreso: ali estava ele, com as mesmas orelhas grandes e o focinho alongado: continuava um b***o, e não o leão que imaginara ser.
LIÇÃO 1: O ENGANO DO PODER
Esta história, que não é sobre b***os nem leões, ilustra um fenómeno recorrente na vida: o perigo das ilusões geradas pelo poder e pela bajulação. Quantos líderes, ao serem elevados ao trono da influência, se esquecem das suas origens? Quantos chefes, cercados por elogios e afagos, confundem respeito com submissão? O poder, quando não compreendido, não apenas cega, mas também transforma. Cria versões distorcidas da realidade, onde a prudência é confundida com fraqueza e a arrogância se disfarça de autoridade. A tragédia não está apenas em quem se deixa enganar, mas também naqueles que alimentam o engano. Os aldeões sabiam que o b***o era um b***o, mas, por conveniência ou medo, sustentaram a farsa. Assim acontece na sociedade: muitas vezes, os que cercam o poder preferem a bajulação à verdade, pois a verdade, esta sim, pode ser perigosa.
LIÇÃO 2: O PERIGO DA VAIDADE
Nenhum homem está imune a este engano. Os aplausos constantes embriagam a alma, fazendo com que o indivíduo se veja maior do que realmente é. E quando alguém começa a julgar-se um leão, mesmo sendo apenas um b***o, torna-se surdo ao bom conselho, cego aos sinais da decadência e incapaz de se autocriticar. Quantos líderes fracassaram porque se esqueceram de que eram apenas homens, e não deuses? Quantos impérios se desfizeram porque os seus governantes acreditaram ser infalíveis? A história ensina que, quando a ilusão da grandeza se torna maior do que a realidade, a queda é apenas uma questão de tempo.
LIÇÃO 3: A SABEDORIA DO CONHECIMENTO PRÓPRIO
Se há algo a aprender com esta história, é que o verdadeiro líder, o verdadeiro sábio, não se deixa enganar pela aclamação popular. Compreende que as palmas de hoje podem tornar-se os apupos de amanhã. A grandeza não está na ostentação do poder, mas na consciência das suas limitações. O verdadeiro leão não precisa gritar que é leão; a sua força impõe-se pelo seu carácter, e não pelos elogios que recebe. O b***o da história teve um momento de revelação ao ver o seu reflexo no rio. E nós? Quantos terão coragem de encarar o seu próprio reflexo antes que seja tarde demais? Afinal, o tempo tem um modo infalível de revelar quem é leão e quem apenas pensou ser, sem deixar a condição de b***o.