25/12/2023
O Presépio das Mulheres.
Por: Bianca Daébs
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Todo ano, quando o Natal se aproximava, minha avó começava a montar o presépio. Um momento lúdico de aproximações, afetos e tradições. Era hora de, mais uma vez, ouvir histórias cantadas que contavam o nascimento do menino Jesus.
Peça por peça, ela ia desembalando, limpando e colocando na pequena gruta primeiro os fenos, depois os bichinhos, boi, cavalo, carneiro e até passarinho. Em seguida, era montado a manjedoura, ainda vazia, pois Jesus só chegaria na noite de Natal.
Vovó continuava a arrumação, e lá estavam José e Maria... e na entrada do presépio, do lado direito, os pastores com um toque nordestino caracterizado pelo chapéu e o gibão de couro - uma licença poética de vovó - e do lado esquerdo estavam os três Reis Magos com seus presentes: ouro, incenso e mirra. Agora era só colocar a estrela e o pisca-pisca... e na casa simples do subúrbio de Salvador (BA) já era Natal!
Quando eu tinha uns 12 anos e, mais uma vez, cumpria-se o ritual de armar o presépio, uma tradição das mulheres de minha casa, perguntei inesperadamente:
- Vó cadê as mulheres? - Que mulheres, menina? - As mulheres do presépio. - Tá aí, ouxe!, é Maria a Mãe de Jesus. – Vó, só tem ela? E a mãe dela? E a vizinha? E a Irmã e a tia? Minha vó parou uns dois minutos, pensou... fitou os olhos no infinito e respondeu – Sei não filha, filha minha não paria sozinha não.
Desde então, encasquetei que tinha mais mulheres naquele presépio e alguém as tirou de lá. Só deixaram os homens que chegaram para visitar e logo foram embora.
Mais tarde, aos 18 anos, fui ao interior da Bahia, era época de Natal. O céu azul e o sol escaldante contrastavam com o chão de terra batida. Caminhei pela feira livre e os olhos varriam a imensidão de coisas e pessoas que se entrelaçavam num comércio efervescente que misturava cores, sabores e belas história... foi ali, vendendo suas peças de barros, que encontrei nas mãos de uma artesã, o Presépio das Mulheres.
Fitei os olhos na peça de barro vermelho, como quem via além, como quem rompia o tempo. Vi no Presépio das Mulheres a realidade vivida e revivida na minha casa. [Continua na legenda]