12/05/2025
A Importância do Reconhecimento do Trabalho do Neuropsicólogo no Diagnóstico de TEA Nível 1
A atuação do neuropsicólogo é essencial no processo diagnóstico de diversos transtornos do neurodesenvolvimento, incluindo os casos mais sutis do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, ainda enfrentamos uma signif**ativa resistência ao reconhecimento do nosso trabalho, especialmente quando lidamos com pacientes classif**ados como nível 1 de suporte — aqueles cujos sinais não são facilmente perceptíveis e que frequentemente são alvos de comentários como: “mas ele nem parece autista”.
Essa invisibilidade diagnóstica pode trazer consequências sérias para a vida funcional dessas pessoas. Muitos convivem com sensibilidades sensoriais, dificuldades de regulação emocional e déficits na comunicação social, o que impacta diretamente seu desempenho acadêmico, profissional e seus relacionamentos interpessoais.
Casos clínicos que ilustram o problema
Um exemplo é o de uma jovem adulta que, por toda a vida, evitava interações sociais, detestava festas e apresentava sinais claros de hipersensibilidade auditiva e sobrecarga emocional. Ao iniciar um trabalho, foi exposta a múltiplas demandas simultâneas, o que resultou em uma crise sensorial grave, quase culminando em um shutdown. A sorte foi ter uma gestora atenta, que a acolheu. Nem todos têm esse privilégio.
Outro caso envolveu um paciente com histórico de colapsos nervosos frequentes, causados pelo ambiente de trabalho. Apesar de claramente apresentar dificuldades funcionais, teve seu pedido de remanejamento negado por falta de um laudo médico formal — o qual, por sua vez, foi recusado sob o argumento de que ele era "muito funcional para ser autista".
Esses exemplos ilustram o paradoxo enfrentado por muitos indivíduos com TEA nível 1: não são considerados “suficientemente comprometidos” para receber apoio, mas continuam sofrendo diariamente por não se encaixarem nas exigências neurotípicas.
A neuropsicologia como ferramenta diagnóstica qualif**ada
O trabalho do neuropsicólogo não é baseado em achismos. Utilizamos instrumentos padronizados e validados cientif**amente, que avaliam aspectos cognitivos, sociais, comportamentais e emocionais do indivíduo. São horas de entrevistas, observações clínicas e aplicação de te**es para compreender o funcionamento mental de forma integral.
Infelizmente, ainda há casos em que laudos neuropsicológicos são desconsiderados por profissionais médicos, que, muitas vezes, têm contato mínimo com o paciente e baseiam sua decisão em observações superficiais.
A analogia é simples: seria como um médico ignorar um exame de sangue feito em um laboratório especializado e dizer: “não acredito neste resultado, vou confiar no que vejo aqui”. A credibilidade dos exames psicológicos precisa ser tratada com a mesma seriedade que outros exames complementares.
Por que isso importa?
Negar um diagnóstico quando ele é evidente do ponto de vista funcional e clínico signif**a impedir o acesso da pessoa com TEA a direitos básicos: adaptações escolares, remanejamentos profissionais, acesso a políticas públicas de inclusão, isenções e, sobretudo, ao respeito à sua singularidade.
Sem esse reconhecimento, muitos continuam adoecendo em silêncio, sem compreender suas próprias dificuldades, sem o suporte necessário e, pior ainda, sendo julgados por não “se esforçarem o suficiente” para se adaptar.
Conclusão
O reconhecimento do trabalho do neuropsicólogo não é apenas uma questão de valorização profissional. É uma questão de justiça e inclusão social. Quando um laudo é negado por desinformação ou preconceito, não é apenas o profissional que é invalidado — é o paciente que f**a vulnerável.
Como profissionais e, muitas vezes, também como mães, familiares ou pessoas atípicas, seguimos na luta pelo respeito, pela escuta e pela ciência. Que possamos, juntos, construir uma rede de apoio que enxergue o indivíduo para além do estereótipo.