27/04/2021
Um desabafo hospitalar!
Um dia disseram pra mim...
- Nossa, mas vc lê o tempo todo, estuda o tempo todo, parece estudante consultando livro todo o tempo pra saber o que fazer...
Não foi uma crítica eu creio, foi uma observação um tanto ácida talvez! Mas me faz pensar e refletir até hj...
..tratar um paciente hospitalar, exige CUIDADO! O paciente não é um órgão exclusivo a ser tratado!
Ele é além de um sistema interligado extremamente complexo, é uma pessoa com dores, sentimentos, medos, e assutado mtas vezes com sua condição.
As vezes nos deparamos com Condições de pacientes tão complicadas, pra não dizer Absurdas, que toda e qualquer conduta realizada precisa ser cuidadosamente planejada, executada e avaliada ao mesmo tempo, e por vezes exige mudança imediata de planos.
Existem pacientes mais estáveis, bem mais fácil, mas existem pacientes que são um combo de situações complicadas, e minhas ações têm que no mínimo não gerar mais dano. Desde um posicionamento no leito, à tentar sentar, exercícios, mobilização, tudo reflete fisiologicamente no estado do paciente, e isso nem sempre reflete bem.
Neste caso específico deste comentário, sim, o Paciente era um combo de coisas Absurdas, era um paciente saudável, mas situações de Saúde inesperadas surgiram, erro médico, decisões tardias da equipe, fisioterapia hospitalar deficiente (eu não fazia parte da equipe do hospital, fui chamada particularmente), nem culpo tanto a equipe médica porque realmente, a situação era complicadissima, situações que mesmo um cirurgião experiente, precisava fazer reunião e pensar muito como agir, um paciente já extremamente frágil física e emocionalmente.
Tudo era novo, pra todo mundo.
Troca remédio, troca dieta, faz cirurgia, faz de novo, faz exame, colhe sangue, testa, não tá bom, troca medicação, faz outro exame, a dor já devia ter passado, não passa, remédio não dá conta, nutrição deficiente, massa corporal indo pro brejo, dor, dor, dor e dor...sabe aquele paciente que dá até medo por as mãos? Ele existiu pra mim...
Mas aqui escrevendo pra vocês existe alguém que aprendeu com mestres que não tem medo de se impor, e de meter a cara nos livros e artigos... sim, eu estudava o caso, fisiologia, casos semelhantes pq igual eu procurei em artigos em todo lugar e não achei, patologias parecidas, protocolos diversos, e acima de tudo, o que NÃO FAZER.
Tão necessário quando saber o que fazer, é saber o que não devemos fazer, se não ajuda, no mínimo não atrapalha.
Enquanto isso, eu podia de forma leve mobilizar uma coluna, diminuir essa dor, diminuir as dezenas de marcas roxas pelos braços, trabalhar a respiração, pequenos exercícios com repetições mínimas,..3...5 no máximo, o trabalho com os hematomas facilitava o trabalho da enfermagem que podia enxergar melhor o campo pra atingir o tecido correto, e melhora o estado Psicológico de um paciente já extremamente cansado do hospital, e cansado de se ver lotado de dores e inúmeros hematomas...
Sim, eu estudo todos os dias, eu gosto de conhecer as pessoas, entender o que acontece e como acontece, e saber que não existe nada mais particular do que o corpo humano, no geral somos até iguais, mas na doença, na comorbidade, na fragilidade física..tudo muda o tempo todo.
Não existe receita de bolo que funcione aqui...
Avalie, reavalie, levante hipóteses, teste, trace um plano, e esteja pronto pra esse plano falhar e vc ter imediatamente que mudar tudo, e recomeça com novas hipóteses e avaliações!
Na fisioterapia e na Saúde não dá tempo de ter preguiça de estudar, de pensar, de se informar, não dá tempo de ficar de mi-mi-mi... a ciência muda todo dia, mude você Também e evolua..nao é atoa que Não somos uma Ciência Exata!
Um Grande abraço!
Dra. Elisângela Silva
👩⚕️Fisioterapeuta
Crefito 3/288176-F