
21/05/2025
Dar sentido à psicanálise não é torná-la inteligível à luz da razão, nem reduzi-la a um conjunto de técnicas ou respostas prontas. Ao contrário: é sustentar seu ponto de impossível, sua aposta radical no inconsciente como aquilo que escapa à plenitude, por exemplo. Freud nos mostrou que, por trás da fala aparentemente racional, há algo que insiste: um resto, um rastro, uma cena primitiva que não cessa de se repetir.
Já Bruce Fink, em sua leitura precisa da clínica lacaniana (2018), nos adverte que o sentido não é aquilo que o analista oferece, mas o que emerge na travessia da fala, quando o sujeito se enlaça ao seu sintoma de um modo novo.
Dar sentido à psicanálise, então, é escutá-la no seu próprio idioma: o dos lapsos, sonhos, atos falhos, repetições etc. É sustentá-la como prática (ética,) em que o saber não está do lado do analista, mas se constrói.
Em tempos em que tudo precisa ter utilidade, dar sentido à psicanálise é resistir. É sustentar que nem tudo se cura, nem tudo se resolve, mas muito pode se transformar quando é dito, escutado, simbolizado. O sentido, aqui, não é uma solução, mas uma invenção. E o sujeito, em análise, pode encontrar novas formas de se implicar na própria vida, não pela via da adaptação, mas pela via da sua verdade/seu desejo.
A psicanálise não é uma doutrina sobre o homem, mas uma experiência com o inconsciente. Dar-lhe sentido é, talvez, suportar que ele nos escape. E, ainda assim, ousar escutá-lo.
Se um desejo for, faça terapia/análise. 🌷
Gustavo Henrique Dias Sakata
Psicólogo | Psicanalista
CRP: 14/06882-7
Contato: 67 99175-7278