
09/07/2025
A felicidade é um afeto profundamente desejado.
Mas, para alguns, desejar já é motivo de angústia. Aproximar-se da realização pode despertar um medo quase irracional — medo da violência, da perda, da punição. E junto com ele, uma culpa tão paralisante que mina a capacidade de agir. O sujeito se vê travado, afastado de si, exilado do direito de escrever sua própria história.
Com frequência, mães infelizes tornam os filhos depositários invisíveis de suas dores. Sem perceber, projetam neles o peso de suas frustrações, como se fossem culpados pelas feridas que não cicatrizaram. Para muitas mulheres, a maternidade não nasce de uma escolha consciente — mas de uma compulsão. Às vezes, é tentativa desesperada de preencher um vazio existencial. E quando esse preenchimento falha, é o filho que paga o preço.
Assim, cria-se uma atmosfera silenciosa de culpa e frustração. Um útero psíquico onde a liberdade do filho é vivida como traição. Sair desse espaço — físico e emocional — pode parecer um abandono, uma rejeição à figura materna.
Paradoxalmente, é justamente essa separação que inaugura o processo de diferenciação. É o primeiro gesto de liberdade: o nascimento simbólico de uma identidade própria.
A mãe pode se sentir deixada para trás. O filho, por sua vez, mergulha em culpa, dúvida e medo. Quem sou eu fora desse vínculo? Tenho o direito de existir por mim mesmo? De ser feliz sem machucar quem amo?
Crianças criadas para cuidar da dor emocional da mãe crescem acreditando que sua alegria é uma ameaça — uma provocação perigosa. O amor, então, vem sempre acompanhado de sacrifício. O desejo, de renúncia.
Mas é exatamente no ato de escolher a própria vida que começa a cura.
Reconhecer que a felicidade não é uma afronta, mas um direito essencial, é o que permite romper com a herança da culpa.
Mesmo que o caminho seja solitário, cheio de medo e silêncio, é nele que se faz a travessia mais importante: a jornada da individuação.
A busca por si mesmo. O reencontro com a liberdade de ser — para além da dor que nos pariu.