12/10/2020
Klinē - Percursos em Psicanálise..
Em 2015, Letícia Vargas, membro do grupo Klinē, defendeu sua dissertação de mestrado intitulada “Os mendigos de likes”. A busca por números no ambiente virtual, sobretudo pelo público adolescente, foi entendida como um dos caminhos que o sujeito constrói para lidar com a desmedida pulsional em um novo território dominado pela imagem. A dimensão do algoritmo e do capital apareceu como elementos extras, mas ainda havia poucos recursos para entender seus impactos nas produções do sujeito na internet.
No documentário “O dilema das redes”, dirigido por Jeff Orlowski (2020), a batalha pelo reconhecimento dos pares através dos likes e comentários foi associada a um aumento exorbitante de depressão, ansiedade, automutilação e suicídio na geração que conviveu com o boom das mídias sociais ainda na escola. No entanto, o foco do documentário é mostrar o quanto a indústria que gerencia o uso das mídias sociais está “moldando” toda a humanidade.
Especialistas em tecnologia que ocupam altos cargos nas empresas como Google, Facebook, Twitter, dentre outras, descrevem o modo de funcionamento de um modelo de negócios cujo principal objetivo é manter as pessoas conectadas à tela, ou seja, vendem o tempo de vida que despendemos ali. Isto é feito a partir de previsões certeiras dos nossos interesses, delimitadas através do cruzamento de dados diversos. Tal capitalismo de vigilância movimenta trilhões de dólares e transformou as empresas da internet nas mais bem sucedidas do planeta.
O tom trágico do documentário reduz o sujeito ora a produto, ora a dados, em uma alienação massiva a um Outro que tudo sabe e que pode prever seus passos e determinar suas escolhas. Apesar de compreendermos o poder desta indústria, entendemos que este final sombrio não é o único destino possível. A internet e suas mídias revolucionaram nosso modo de existência, e estão tendo um papel fundamental, por exemplo, durante a necessidade de isolamento social, tanto que estamos aqui pensando sobre o sujeito no nosso tempo. Assistir ao documentário torna-se relevante para esta reflexão no sentido de pensarmos em alternativas diante dos seus excessos. É possível escolher e existir nestes espaços?