21/10/2024
Posted • Uma das aulas que dei no congresso brasileiro de endocrinologia, , foi sobre a heterogeneidade da obesidade, isto é, que não há uma obesidade, e sim várias “obesidades”, com causas, respostas a tratamento e consequências muito diferentes. Um dos temas abordados foi sobre os avanços do entendimento da genética da obesidade, em que 80% dos genes associados estão no cérebro, especialmente no hipotálamo, a área do cérebro (do tamanho de um polegar) que regula o nosso peso, tanto via apetite como gasto energético. A maioria dos genes tem impacto pequeno, e o efeito se dá pela combinação entre eles, mas há alguns com impacto maior.
👉Um exemplo é o gene do receptor MC4, que controla mecanismos de saciedade no hipotálamo. Conhecido já há algum tempo, pesquisas mais recentes mostram que uma mutação nele pode estar presente em 0,3% da população no Reino Unido, e quem tem essa mutação pesa, em média, 17,5kg a mais! Essa mutação está associada à obesidade com aumento de fome desde a infância.
👉O interessante, porem, foi a análise que mesmo com esse efeito grande sobre a fome, nem todas as pessoas com essa mutação tem obesidade grave, e outros genes influenciarão o resultado final, mesmo nesses indivíduos! Por exemplo, alguém com genes que os faria bem magros, mesmo com esse gene “engordador” poderia cair numa faixa de peso normal ou com sobrepeso leve, e portanto testar esse gene no futuro pode ser importante!
👉Também citei sobre outra descoberta recente de um novo gene descoberto, o BSN, mais raro, mas com efeito no peso ainda maior, mas q só leva à obesidade na idade adulta!
👉Isso mostra como a obesidade é heterogênea, e ainda estamos muito no início de compreender toda a relação entre genes, comportamento e ambiente!
👉Outro tema que falei sobre como a distribuição de gordura explica porque pessoas com mesmo altura e peso podem ter riscos metabólicos muito distintos, mais uma vez ressaltando que o que se entender como “peso ideal” não é fixo e depende de vários fatores!
Ref: Wade. Loss of function mutations in the melanocortin 4 receptor in a UK birth cohort. Nat Gen 2021