
25/07/2025
A Fuga Mais Longa é Sempre de Si.
Vivemos em uma época marcada por deslocamentos: físicos, digitais, emocionais. Trocam-se cidades, vínculos, telas e hábitos com a velocidade de um clique. Mas, por mais longe que se vá, há uma geografia que insiste em nos habitar: a de nós mesmos.
Por trás das constantes fugas, muitas vezes está o eco de conteúdos internos não elaborados, partes nossas que tentamos calar com movimento, urgência ou distração. O sujeito é atravessado por desejos, repetições e conflitos inconscientes que resistem ao controle consciente. A psicologia existencial, por sua vez, nos lembra que a liberdade carrega a angústia de sermos responsáveis por aquilo que fazemos com o que fizeram de nós.
Nessa travessia, o confronto consigo mesmo não é um ato de coragem momentânea, mas um processo diário de escuta, elaboração e construção de sentido. Fugir de si não resolve: apenas posterga o encontro inevitável com as perguntas mais profundas da existência.
No mundo contemporâneo, onde tudo convida à distração e à performance, sustentar um espaço interno para refletir, silenciar e sentir, sem julgamento, é um ato revolucionário. Não se trata de autoajuda ou frases prontas, mas de um trabalho paciente, ético e comprometido com a inteireza do ser.
Fugir é fácil. Mas viver com inteireza exige presença.
Juliana Formigari
Psicóloga | Psicanalista
CRP 06/213192