02/04/2025
A partir da Psicanálise, sabemos que o ser humano não nasce pronto, não há nele um instinto que o oriente na vida tal como acontece com os outros animais. Nesse contexto, a família se inscreve como fundamental na transformação de um ser desamparado e despreparado para a vida num ser propriamente humano, um ser de cultura. Na família, se destacam as funções materna e paterna; essas podem não estar atreladas necessariamente aos pais biológicos, outros podem cumpri-las. No entanto, a incidência ou não dessas funções na vida da criança é determinante na constituição da sua subjetividade e, eventualmente, nos desarranjos dessa subjetividade.
Especif**amente quanto ao pai, espera-se que ele intervenha na relação simbiótica que se instala inicialmente entre a mãe o bebê, produzindo, assim, uma ruptura que possibilite à criança perceber-se como algo distinto do outro materno, uma singularidade. De maneira figurada, poderíamos dizer que o nascimento retira o filho de dentro da mãe, mas cabe ao pai fazê-lo nascer para o mundo.
Como pensar essa importante função do pai a partir da série Adolescência [Netflix]?
Na série, os pais de Jamie [13 anos] se perguntam sobre a culpa deles no que acontecera de trágico envolvendo o filho. Por mais que tentem se apaziguar dessa culpa, acabam por concluir que eles tiveram responsabilidade no que houve, mesmo sendo uma família amorosa e sem grandes conflitos. A última cena é angustiante: o pai, no quarto de Jamie, acariciando um dos seus brinquedos, pede desculpas ao filho e diz que ele [pai] deveria ter feito mais.
Nessa obra de ficção, tão próxima da realidade atual, f**a claro que proteger os filhos não mais implica apenas o mundo externo, mas sim o que acontece no mundo virtual, tão acessível aos filhos e tão alheio aos pais; espaço de circulação de discursos de ódio, de segregação, de misoginia, de cyberbullying e de tantos outros que alcançam crianças e adolescentes.
Nesse cenário, há que se resgatar a potência do pai [na sua função de proteção] para impedir que os filhos se transformem em meros objetos recrutados nas redes para causas as mais horrendas e até mesmo trágicas.
Sílvio MEMENTO