02/10/2025
Confesso que comecei a ler o livro de poesias “Pensei que escreveria sobre amor”, de , contrariado. Explico. Talvez, como muitos que acompanham o trabalho da pintora, esperava encontrar uma de suas pinturas na capa de seu primeiro livro.
Eis que aí reside o surpreendente e o subversivo de Mol.
Surpreende, porque há todo um cuidado editorial, que recompõe, aos poucos – a partir da grafia da pintora-escritora –, seu traço. Há uma marca que percorre sua escrita, anunciando que é com aquilo que se vê e faz imagem que se tece esse traço com as palavras. Assim, a pintora-escritora parece fotografar os momentos de suas vivências, revelados por meio das palavras, que recortam os traços imagéticos e afunilam num resto que transborda em estrofes, fazendo, da ilusão, um “café passado”.
Se para pintora-poetisa sua “imaginação é pintura surrealista [e] pior inimiga”, há um questionamento daquilo que configura a realidade, a sua ou a de cada um de nós. Realidade não impressa pelos fatos, mas em como cada um escolhe ferramentas para recortar e dialogar com os objetos ao seu redor. Nesse sentido, Amanda empreende atos subversivos, fazendo uma embalagem ganhar voz, a cadeira virar parede, os drinks ganharem sabor de afeto, além das pessoas, a ela importantes, que dão tons vivos a sua memória e experiências.
Todo esse movimento faz os avessos da costura, que revelam sentidos variados das roupas de nossos corpos feitos de palavras e das palavras avessas que constituem nossos corpos.
É assim, no olhar da tela que nasce a poetisa, que nos apresenta a pintura que a artista faz seus quadros, enquanto narra esse ato - errante. A própria palavra “errante” traz, em sua etimologia, o sentido de um jeito singular de caminhar; caminho que reconhece um estilo, que estica a natureza do objeto até torná-lo flexível ao ponto de subvertê-lo e fazê-lo outro – sem perder sua característica original. Esse é seu estilo de percorrer a tela e, agora, as linhas do papel.